O Bradesco agradou o mercado nesta quinta-feira ao reportar melhora na qualidade da carteira no segundo trimestre, movimento que previu se estender até 2018, mas analistas alertaram que a fraqueza do crédito também pode se prolongar.Executivos do segundo maior banco privado do país indicaram acreditar que a queda da inadimplência registrada no segundo trimestre deve resultar em gradual recuo nas provisões para perdas com inadimplência.
"Os picos de inadimplência ficaram para trás", disse o presidente-executivo do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, em teleconferência com jornalistas.
Mais cedo, o banco divulgou que seu índice de atrasos acima de 90 dias caiu a 4,9% como proporção da carteira, de 5,6% no trimestre anterior. "A qualidade dos ativos não é mais uma preocupação", resumiram em relatório os analistas do BTG Pactual Eduardo Rosman e Thiago Kapulskis em nota a clientes, na qual reiteraram recomendação de compra para as ações do Bradesco.
Em contrapartida, o terceiro recuo consecutivo do estoque de financiamentos também chamou a atenção. Surpreendido com a lentidão da retomada da economia brasileira, o Bradesco revisou sua estimativa para o estoque de empréstimos em 2017, de alta nominal de 1% a 5% para contração de 1% a 5%.
Na teleconferência, executivos do banco previram que uma volta da expansão da carteira de crédito só deve acontecer a partir do quarto trimestre. "Achamos que pode ter algum crescimento em 2018", disse o diretor do Bradesco para relações com o mercado, Carlos Firetti.
Sem vislumbrar um crescimento mais fraco das operações, inclusive de seguros, que respondem por cerca de um terço do resultado do grupo, o Bradesco conta com menores provisões para calotes e com o controle das despesas administrativas para manter seus níveis de rentabilidade.
O vice-presidente Alexandre Gluher, afirmou que o programa de demissão voluntária (PDV) do Bradesco anunciado neste mês deve ser concluído em agosto, mas não deu detalhes das economias esperadas com o processo, nem sobre quantos funcionários o banco espera que vão aceitar a oferta.
Lucro
O Bradesco teve alta do lucro recorrente no segundo trimestre, ao conseguir compensar a queda nas operações de crédito com maior controle sobre as despesas administrativas e as provisões para perdas com calotes.
O maior banco privado do país anunciou nesta quinta-feira um lucro líquido de R$ 3,911 bilhões no segundo trimestre, queda de 3,9% sobre o trimestre anterior e de 5,4% ante mesma etapa de 2016. Em termos ajustados, o lucro somou R$ 4,7 bilhões, avanço sequencial de 1,2% e de 13% na comparação ano a ano.
O Bradesco também revisou projeções, agora esperando queda na carteira de crédito e menores receitas com tarifas em 2017, mas também previu menos provisões para inadimplência.
O movimento reflete a lenta recuperação econômica do país, que fez o Bradesco registrar contração da carteira de crédito pelo terceiro trimestre seguido. No fim de junho, a carteira de empréstimos do banco totalizava R$ 493,6 bilhões, montante 1,8 por menor do que em março.
Consequentemente, a margem financeira do banco se contraiu em 0,8% sobre o trimestre anterior, a R$ 15,5 bilhões, refletindo também a queda da Selic e o foco do banco em operações de menor risco, mas de menor rentabilidade. "De maneira geral, os indicadores de atividade seguem sugerindo uma recuperação bastante gradual e não linear da economia", comentou o Bradesco em seu relatório de resultados.
O Bradesco auferiu alta sequencial de 0,9% nas receitas com tarifas e serviços, a R$ 7,5 bilhões. Em 12 meses, a alta foi de 13,2%.
Além do impacto sobre o volume e as margens no crédito, o cenário econômico adverso também atingiu o negócio de seguros, que responde por quase um terço do resultado do grupo, com o lucro da divisão caindo 7,6% na base sequencial, afetado em parte por maiores indenizações a segurados. O chamado índice de sinistralidade subiu 2,9 pontos do primeiro para o segundo trimestre, chegando a 76,6%.
Com essa combinação, o Bradesco conseguiu uma rentabilidade atualizada sobre o patrimônio líquido de 18,2% entre abril e junho, ante 18,3% do trimestre anterior e 17,4% da mesma etapa de 2016.