Conversamos sobre o resultado do Bradesco no 2T25 com Evandro Medeiros, analista CNPI da Suno Research.
Qual a sua avaliação sobre o resultado do Bradesco no 2T25?
O Bradesco teve um bom resultado. A carteira de crédito cresceu em quase todas as linhas e a aquisição do banco da John Deere elevou a carteira de crédito rural, que era relativamente pequena. A inadimplência permaneceu estável em 4,1%. Esse patamar é alto, mas essa estabilidade é positiva, pois mostra que, pelo menos, os níveis da carteira de crédito não estão piorando, mesmo com a sua robusta expansão. Isso porque, quando se expande uma carteira de crédito de forma mais agressiva, existe um risco de inadimplência, que foi o que aconteceu com o Bradesco no passado, tanto na pessoa jurídica quanto na pessoa física.
Com relação à seguradora, o resultado foi muito bom. Um ponto importante é que o ROAE (Return on Average Equity) consolidado do Bradesco no 2T25 foi de 14,6% enquanto o ROAE da seguradora foi de quase 21,4%, ou seja, a operação bancária é menos rentável que o consolidado, pois enquanto a seguradora puxa o ROAE para cima, a operação bancária puxa para baixo, o que significa que o Bradesco tem um grande dever de casa a ser feito. Isso também se refere a parte da cultura do banco, que, segundo relatos de pessoas que trabalham no Bradesco, ainda deixa a desejar em vários aspectos, mas parece que já houve uma melhora desde que o Marcelo Noronha assumiu como CEO.
O índice de cobertura, que mensura a provisão em relação a inadimplência, teve uma leve queda, mesmo com a elevação do PDD (Provisão para Devedores Duvidosos). Se olharmos a DRE (Demonstrativa de Resultado do Exercício), o volume de provisões aumentou um pouco, e quando se provisiona mais, a expectativa, em teoria, é que o índice de cobertura aumente, mas não foi esse o caso. O Índice de Capital também me parece confortável, mas poderia ser um pouco maior. Por exemplo, o índice do Bradesco é de 11,1%, abaixo do Santander, que já recompôs um pouco de capital. Cabe ressaltar que o Santander, que estava com um índice próximo ao do Bradesco, está agora com um pouco mais de folga, enquanto o Bradesco está em linha com o Banco do Brasil no 1T25, que deve ter um consumo de capital relevante por conta das provisões.
O resultado do Bradesco não me surpreendeu, pois veio bem em linha com o que eu estava esperando. Eu não costumo trabalhar com projeções de curto prazo, mas dessa vez eu havia feito. Enquanto a minha projeção indicava um lucro de R$ 6 bilhões, o realizado foi de R$ 6,1 bilhões, isso tanto no gerencial quanto no contábil, que vieram iguais neste trimestre. Esse resultado mostrou que o Bradesco está arrumando a casa, tanto que teve uma pequena escalada no ROAE, mesmo com a seguradora tendo um ROAE um pouco menor, apesar de estar indo muito bem, tanto na emissão de prêmios quanto no resultado financeiro, que é impulsionado pela alta dos juros. Isso porque a seguradora tem o float do valor que foi arrecadado de prêmios, mas que não foi desembolsado com sinistros, pois ela aplica esse valor em aplicações de curto prazo e obtêm um resultado financeiro. Isso faz com que o momento, de uma maneira geral, seja propício para todas as seguradoras.
Quando sai um resultado do Bradesco, quais são os primeiros números que você analisa?
Eu analiso, principalmente, quatro números. O Índice de Capital Principal, que mensura a alavancagem e dá um indicativo da solidez do banco. O Índice Combinado, que trata do provisionamento em relação à inadimplência nos últimos 90 dias. O ROA (Return on Assets), que é o retorno sobre ativos, pois quando um banco entrega um ROA elevado, ele não precisa operar com uma alavancagem muito elevada. Isso porque, como esses bancos são mais eficientes, eles têm um retorno muito alto sobre os ativos, e não apenas em relação ao patrimônio líquido, que é o ROAE, outro número que eu olho. Eu também analiso a receita de serviços e a composição da carteira de crédito.
Onde o Bradesco faz o seu resultado?
A maior parte da receita do Bradesco vem da margem financeira, ou seja, a receita de juros menos a despesa de juros. O banco também tem uma receita de serviços bem relevante, que tem muito a ver com o resultado da seguradora, que é super rentável e que tem uma representatividade maior no resultado, já que ela possui uma margem muito maior. Outra receita importante vem dos cartões, como a tarifa de intermediação. Por exemplo, toda vez que um cartão do Bradesco é passado, por mais que ele compartilhe parte dessa receita com um adquirente, como a Cielo, e com uma bandeira, como Mastercard, Visa ou Elo, ele fica com a maior parte por ser o banco emissor, pois assume o risco de crédito e a originação da carteira. Além disso, se o pagamento da fatura do cartão de crédito atrasar, o Bradesco também gera uma receita de juros a partir disso. Por fim, o Bradesco tem as tarifas das contas correntes, mas elas têm caído, e eu fico feliz em ver isso.
Onde o Bradesco poderia render mais como banco?
Como banco, eu não sei exatamente onde, mas o Bradesco poderia melhorar os seus números de satisfação dos clientes, pois um cliente satisfeito volta para a instituição e consome mais serviços, o que possibilita mais cross-selling e up-selling. Como eu tenho acompanhado dados quantitativos que mensuram aspectos qualitativos, eu posso dizer que as notas do Bradesco têm melhorado pouco a pouco, mas ainda assim o banco é um dos líderes de reclamações no Banco Central. Quando levanto essa questão, eu me refiro mais ao banco de varejo, pois o Bradesco BBI, o banco de atacado, é muito bem avaliado.
Qual a sua avaliação sobre o payout e o dividend yield do Bradesco?
Os pares do Bradesco estão distribuindo de 40% a 60% do resultado. Por exemplo, enquanto o Banco do Brasil deve reduzir um pouco o seu payout, o Itaú opera com 60% e o Santander com 40%, com o Bradesco próximo desse número. Com relação ao dividend yield, o Bradesco tende a crescer um pouco. Isso porque o dividend yield é influenciado pelo dividendo pago e pelo preço de mercado. Como eu não sei para onde vão as ações do Bradesco, se tudo permanecer constante em termos de preço, a tendência é que o dividend yield aumente não por conta de uma elevação de payout, mas por conta do resultado.
Como o Bradesco retém cerca de 60% para investir no patrimônio, isso deve gerar um resultado um pouco maior em 2026. Se não houver volatilidade ou aumento de provisões e de inadimplência, ou seja, tudo mais constante, o dividendo tende a crescer. Por exemplo, eu estou projetando um dividend yield de 7% para o Bradesco.
Qual a sua avaliação sobre o preço das ações do Bradesco?
Qualquer projeção sobre o futuro tem que ser encarada com muito ceticismo, mas eu vejo o Bradesco hoje como bem precificado. Isso porque o banco está entregando um ROAE bem abaixo do seu custo de capital e está sendo negociado próximo do seu valor patrimonial.
Eu vejo outros bancos para se posicionar, como o Banco do Brasil, o meu favorito, ou Itaú, que além de estar muito bem precificado, é um banco, objetivamente, melhor em termos de dinâmica de rentabilidade, com 1,8x o lucro, ou ainda Itaúsa, que é comprar o Itaú com um desconto na ordem de 20% sem considerar as despesas da holding.
Por custo de oportunidade, eu não entendo que o Bradesco seria a melhor alocação neste momento, mas caso o banco continue elevando o seu ROAE, aí sim ele pode se tornar um bom investimento. Contudo, esse não é o meu cenário base, pois, na minha avaliação, daqui para a frente, o ROAE do Bradesco deve subir uma escada com degraus mais curtos.
Você vê consistência na alta das ações do Bradesco em 2025?
Como a minha filosofia é de longo prazo, eu não faço previsões de cotação no curto prazo, portanto eu não saberia dizer como o Bradesco deve continuar performando. O que eu me arrisco a dizer é que, com as informações disponíveis, o Bradesco me parece bem precificado, ou seja, o investidor não se depara com uma margem de segurança muito relevante para comprar ações do banco. Quando as ações estavam sendo negociadas com descontos de 20%, 40% frente ao valor patrimonial, havia mais margem de segurança, mas hoje essa margem está comprometida.
Uma pessoa que compra ações do Bradesco deve se preocupar com os movimentos de mercado ou em formar um patrimônio em ações do banco?
Sem dúvida, formar patrimônio, tanto com ações do banco quanto de outras empresas. O mercado tem uma frase que eu gosto muito que é “o mercado acionário é uma grande distração para o mundo dos investimentos”. Se você pegar qualquer ativo, tanto na bolsa brasileira quanto na bolsa americana, a variação entre o pico máximo e o fundo em um ano vai estar na casa de 40% a 70%. Como, dificilmente, o valor intrínseco de um ativo vai variar na mesma proporção que as ações, eu ficaria mais atento ao preço que está sendo cobrado hoje do que aos fundamentos do Bradesco. O investidor deve focar no que importa, sem previsões de longo prazo e ignorando as flutuações do mercado, a não ser quando elas trazem um preço que é mais benéfico para o acionista.
Qual a sua avaliação sobre as perspectivas do Bradesco?
Como disse, eu espero uma escalada de rentabilidade mais lenta, pois existe menos espaço para arrumar a casa do que há 1, 2 anos atrás. O banco tem expandido a sua carteira e está entrando agora no segmento agro em um momento muito oportuno. Isso porque, se pegarmos os dados do Banco Central, a inadimplência do agro pessoa física está em 7,6%, o que é muito elevada. Em momentos de estresse como esse, enquanto a concorrência está torcendo o nariz para o segmento, você consegue ativos com preços melhores e originar com taxas e garantias melhores.
O Bradesco tem boas perspectivas, está muito bem conduzido e a casa está arrumada, mas daqui para a frente, a melhora me parece marginal. Posso até ser surpreendido positivamente, mas essa é a minha visão por hora.
















