Conversamos sobre o resultado do Bradesco com Pedro Galdi, analista CNPI do AGF.
Qual a sua avaliação sobre o resultado do 3T25 do Bradesco?
O mercado estava trabalhando com uma expectativa de lucro de R$ 6,2 bilhões, exatamente o que o Bradesco apresentou, mas depois que o resultado foi divulgado, o ADR e a ação começaram a cair. Para que possamos entender o que os investidores estão pensando, nós temos que olhar os números do Bradesco de forma estruturada.
A Margem Financeira com Clientes ficou em R$ 18,6 bilhões, 22% acima do resultado do 3T24 e 5% acima do resultado do 2T25. Já a Margem Financeira com o Mercado caiu bastante, ficando em R$ 99 milhões, 70% abaixo do resultado do 3T24 e 66% abaixo do resultado do 2T25. Ou seja, o Bradesco priorizou os seus clientes e foi super conservador ao não se expor a outras instituições. Com relação a Receita de Prestação de Serviços, as tarifas cobradas pelo banco, ela foi de R$ 10,6 bilhões, 14% acima do 3T24 e 1% acima do 2T25.
Nós podemos dizer que esses dois resultados foram bons, mas quando olhamos a Provisão para Devedores Duvidosos (PDD), surge um pouco de dúvida, justamente o que fez com que o ADR e a ação caíssem. No 3T25, a PDD foi de R$ 8,6 bilhões, 17% acima do 3T24 e 5% acima do 2T25. Lá atrás, quando o Bradesco teve problema de inadimplência, o indicador de inadimplência acima de 190 dias passou de 5%, mas o banco reconheceu o erro e disse que ia demorar um pouco, mas que ele voltaria para a faixa de 3%, 3,5%, tanto que hoje ele está em 4,1%.
Quando o mercado viu que o indicador foi mantido em 4,1% (mesmo resultado do 2T25 e do 3T24), mas a PDD aumentou, ele se questionou se o Bradesco havia tomado outro tombo, mas não foi isso o que aconteceu, tanto que, na teleconferência, o Bradesco falou muito sobre isso, justamente para desmistificar que havia um problema crônico de inadimplência.
No começo do ano, o Bradesco adquiriu 50% de um ativo estratégico, o Banco John Deere, que trabalha com financiamento de máquinas agrícolas, mas como a Selic está lá em cima, e muitos produtores rurais estão tendo dificuldades para efetuar seus pagamentos, esse banco passou a ter alguns problemas. Agora, por mais que o PDD do Bradesco tenha vindo um pouco acima, isso não mudou o seu lucro, tanto que ele foi o que o mercado esperava.
Na parte de Seguro e Previdência, o Bradesco foi muito bem, com um resultado de R$ 5,7 bilhões no 3T25, 23% acima do 3T24 e 1% acima do 2T25. Por fim, o lucro líquido de R$ 6,2 bilhões foi 32% acima do 3T24 e 2% acima do 2T25.
A carteira de crédito do Bradesco fechou em R$ 1,034 trilhão, 2% acima do 3T24 e 3,5% acima do 2T25. Cabe ressaltar que esse é um belo valor de carteira, um dos maiores do mercado.
Com relação ao ROE (Return on Equity), o retorno sobre patrimônio líquido, ele foi de 14,7%, sendo que o ROE havia sido de 14,6% no 2T25 e 12,4% no 3T24. Vale ressaltar que o ROE normal de um banco é 20%, 21%. Para que tenhamos uma referência, o ROE do Santander foi de 17%. O Índice de Basiléia ficou em 16%, o que está ótimo, pois o padrão é 15%.
Com relação ao guidance, a gestão do Bradesco disse que o banco está caminhando para superar a banda mais alta.
Quando sai um resultado do Bradesco, quais são os primeiros números que você analisa?
Eu olho primeiro o estrutural, ou seja, a margem financeira, as operações de crédito, a receita de serviços e o PDD, que é o que realmente vai mostrar se o banco teve problema ou não.
Onde o Bradesco faz o seu resultado?
O resultado do Bradesco é pulverizado, mas o banco foi muito bem na parte de Seguros, Previdência e Capitalização. Isso é um bom sinal, pois se o Bradesco foi bem nessa parte, os outros bancos também devem estar indo.
Qual a sua avaliação sobre o payout e o dividend yield do Bradesco? Existe diferença entre a ação 3 e 4?
A ação BBDC4 tem um payout médio de 65% e um dividend yield projetivo de 7,2% para 2025, sendo que o dividendo por ação projetivo é de R$ 1,35, com o Bradesco já tendo pago R$ 1. Com relação à ação BBDC3, o payout médio é de 58,77% e o dividend yield projetivo é de 8,46%, sendo que o dividendo por ação projetivo também é de R$ 1,35, com o Bradesco já tendo pago R$ 0,92.
A diferença entre o dividendo por ação projetivo e o que foi pago vai acabar se confirmando, pois o Bradesco paga mensal e ainda falta outubro, novembro e dezembro. Isso se não vier alguma coisa adicional, o que o Bradesco faz de tempos em tempos.
Com relação às ações 3 e 4, segundo o estatuto do Bradesco, a 4 ganha 10% a mais de dividendos que a 3. Fora isso, não existe diferença, pois as duas ações possuem tag along, dividendo mensal e um pagamento um pouco melhor a cada trimestre.
Qual a sua avaliação sobre o desempenho das ações do Bradesco?
Como a BBDC4 está subindo mais de 70% no ano e oferece mais de 7% de dividendo, nós vemos que esse ativo é extremamente interessante. A ação se recuperou bem depois dos tombos de 2023, quando surgiu o problema de inadimplência, e de 2024. A ação do Bradesco melhorou bastante, mas isso é fruto dessa recuperação.
Com toda a subida da ação do Bradesco em 2025, ainda há espaço para entrar no papel?
Falando da BBDC4 e considerando que o papel está sendo negociado acima de R$ 18, o preço teto médio de 6 anos para que se receba um dividendo médio de 6% ao ano é de R$ 17,31, o que faz com que o papel esteja caro. O preço teto projetivo, que é o preço máximo a pagar considerando a média do projetivo de dividendo divulgado pelo mercado, está R$ 22,50, ou seja, aqui haveria um pequeno espaço.
Com relação ao valor patrimonial, como ele está em R$ 15,81, o mercado já está pagando um prêmio (1,19). Particularmente, eu gosto de usar o preço de consenso, ou seja, a média do preço justo do mercado, que está em R$ 18,93, o que faz com que haja um upside muito baixo. Em suma, eu não vejo muito espaço para que o papel suba fora disso, pois ela já está mais ou menos precificado. Diga-se de passagem, é por isso que, qualquer sustinho, ele até cai.
Contudo, não podemos nos esquecer que tudo depende da estratégia. Se o investidor vai comprar a ação visando o curto prazo, ela está cara, mas se ele vai comprar visando o médio e o longo prazo e o pagamento de dividendos, ele vai ter que comprá-la. Essa é a estratégia do AGF: escolher papéis que pagam bons dividendos, comprá-los, aportar sempre um pouco mais e reinvestir os dividendos. Nesse caso, se a ação do Bradesco está cara, você pode até parar de comprá-la para alimentar outro papel na carteira, pois o importante é acumular papeis para receber dividendos, mas quanto mais o Bradesco melhorar, mais caro o papel vai ficar lá na frente.
É por isso que, por mais que o papel esteja bem precificado, faz todo sentido comprá-lo aos poucos, pois a estratégia não é ganhar capital, e sim dividendos no longo prazo.
O Bradesco retomou o rumo certo?
O Bradesco está entregando o que prometeu. Eu enxergo dessa forma, e o próprio mercado está reconhecendo isso nas projeções. Agora, o Bradesco precisa sair da inadimplência acima de 90 dias de 4,1%, que se repetiu no 3T25, 2T25 e no 3T24, mas esse patamar pode ter se mantido por causa do problema do Banco John Deere. Se não fosse esse problema, talvez esse indicador tivesse passado para 4%. Esse ponto precisa ser acompanhado, mas, por enquanto, não há nada denegrindo o que o Bradesco prometeu.
Como você está vendo as perspectivas do Bradesco?
O risco da Selic elevada é que ela compromete a estabilidade do fluxo de pagamento dos clientes. No atual patamar, ela é boa para quem está aplicando, mas terrível para quem está devendo. Muitas empresas estão endividadas, o recorde de recuperações judiciais foi batido neste ano, e temos a inadimplência dos produtores rurais. Para um banco, esse ambiente é perigoso, e se ele perde as rédeas, isso pode ser um mau sinal. Isso aconteceu com o Bradesco lá atrás, mas ele já está se recompondo.
De uma forma geral, a continuidade de resultados vai depender da dinâmica de cada banco, sendo que, neste cenário, quem está se sobressaindo é o Itaú.
Considerando a nossa conversa, você gostaria de acrescentar algum ponto à sua entrevista?
O problema que gerou o aumento da PDD do Bradesco é uma oportunidade lá na frente. Quando a Selic cair, e o campo se recuperar, o Banco John Deere pode ser um negócio muito bom para que o Bradesco se sobressaia no futuro.
















