O Brasil é atualmente o segundo país com maior percentual de jovens “Nem-Nem” do mundo, ficando apenas atrás da África do Sul. O estudo, elaborado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), aponta que 36% das pessoas na faixa etária entre 18 e 24 anos não estudam nem trabalham no país. Para Brenda Santos, diretora de Operações da JA Brasil, entidade que atendeu a mais de 300 mil jovens em 2022, é preciso que haja uma reunião de esforços para tirar o Brasil desse ranking, que pode gerar um colapso social sem precedentes.
“Podemos afirmar que os jovens, principalmente os das classes mais pobres, foram deixados à deriva nos últimos dois anos. Precisamos que os governos olhem definitivamente para esse problema, que já chegou ao seu limite”, alerta.
No Brasil, quase 11 milhões de jovens de 15 a 29 anos não estão ocupados no mercado de trabalho e nem estudando ou se qualificando, de acordo com a Pnad Contínua, suplemento Educação, realizada pelo IBGE em 2018. Esse grupo, que representa 23% da população do país nessa faixa etária, ficou conhecido como “nem-nem”, um termo que se tornou controverso e, por isso, seu uso vem sendo evitado, segundo a economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Joana Costa, uma das autoras do capítulo brasileiro da pesquisa internacional “Millennials na América Latina e no Caribe: trabalhar ou estudar?”
Ela explica que o termo “nemnem” é a variação da sigla Neet (Not in Education, Employment, or Training), que surgiu na Inglaterra, nos anos 1990, durante as primeiras discussões sobre os jovens que não trabalhavam e nem estudavam. Mas, para Joana, diferentemente da sigla inglesa, que usa termos técnicos e mais formais (se traduzidos seriam algo como “fora da educação, do emprego e da qualificação profissional”), a expressão em português acabou ganhando um tom pejorativo, por passar a ideia de que esses jovens são ociosos e que estão nessa situação, simplesmente, por vontade própria.
“O termo tanto em português (nem-nem), quanto em espanhol (nini) são ruins porque dão a ideia de que o problema é do jovem, como se ele não quisesse trabalhar ou estudar. É como se você estivesse culpando o jovem pela situação, sem olhar para as barreiras que ele está encontrando”, destaca a economista.
A analista da pesquisa do IBGE, Marina Águas, destaca que afazeres domésticos e cuidados de pessoas estão entre as principais barreiras enfrentadas pelos jovens para continuar os estudos ou arrumar um trabalho remunerado. Essa questão atinge principalmente as mulheres, que são maioria nessa situação.
“E ainda existe todo o estigma do que é o afazer doméstico. Como ele não é valorado como trabalho, parece que a pessoa fica em casa sem fazer nada. Mas isso pode ser muito custoso para a vida dela”, comenta, e completa: “Imagina: a pessoa tem que arrumar a casa, fazer comida para a família, botar a marmita do marido, cuidar dos filhos… Bota tudo isso no papel. Imagina o salário que ela precisaria ter para colocar outra pessoa fazendo as mesmas tarefas e, ainda, valer a pena ir para o mercado de trabalho”.