O Brasil chega ao final de 2020 recuando cinco posições no ranking de desenvolvimento humano das Nações Unidas, que faz medição do bem-estar do povo considerando indicadores nas áreas da saúde, educação e renda. Esse quadro é desalentador, uma vez que a principal causa desse resultado negativo é justamente a estagnação da educação. Assim, o país recuou da 79ª posição, em 2018, para a 84ª, em 2019, atrás da Colômbia (83ª), Peru (79ª), México (74ª), Cuba (70ª), Uruguai (55ª), Argentina (46ª) e Chile (43), para citar apenas os países vizinhos e que situados na América.
A educação no Brasil ainda não está na ordem dia e não é uma política de Estado, como deveria. Assim, os governos que se sucedem, a cada mandato presidencial, mudam as regras dessa área, imprescindível para o desenvolvimento do país e muitas vezes marginalizada por atos e ações poucos construtivos.
O fato é que o índice de Desenvolvimento Humano (IDH) brasileiro é de 0,765%. Importante ressaltar que, pela Organização das Nações Humanas, quanto mais perto de 1, maior será o desenvolvimento humano. Tivemos, na realidade, uma evolução para lá de acanhada de 0,003% em relação a 2018, considerado pelos pesquisadores do Pnud um “crescimento lento”.
No ano passado, a expectativa de vida do brasileiro era de 75,9 anos, um pouco maior do que a registrada um ano antes, de 75,7%. No ano de 2015, eram 75 anos. No quesito renda, a per capita anual pulou de US$ 14.182 em 2018, para US$ 14.263 no ano posterior. Há cinco anos, era de US$ 14.775.
A escancarada falta de investimento em educação, no país, está prejudicando a formação do povo e, consequentemente, afetando de forma efetiva o desenvolvimento do próprio país. O tempo estimado para que as pessoas ficassem na escola parou em 15,4 anos, desde 2016. E a média de anos de estudo foi de 7,8 anos, em 2018, para oito anos, no ano passado. Só por esse dado, pode-se notar o descompasso da educação nos últimos governos.
O relatório do IDH mostra o desempenho de 189 países e territórios reconhecidos pela ONU. A Noruega, localizada na Escandinávia, lidera o topo da lista com 0,957 seguida de perto pela Irlanda, com 0,955, empatada com a Suíça, e seguidas por Hong Kong, um dos Tigres Asiáticos, com 0,949, e Islândia, com o mesmo índice. O país pior colocado é o Níger, na África, com 0,394.
Dos países que integram o Brics, grupo de livre comércio que reúne o Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul, apenas a Rússia apresenta um índice do IDH maior que o do Brasil, com 0,824.
A situação do Brasil é preocupante, pois o seu desenvolvimento humano cai quando a desigualdade entra na equação, o que é inconcebível, por se tratar de uma das dez maiores economias do mundo. O país perde, nesse quesito, 20 posições quando o indicador é ajustado à desigualdade. Mostra a falta de uma política governamental no combate a essa chaga social.
Trata-se da segunda nação do Mundo que mais perde posições, atrás apenas de Comores, um pequeno país do leste da África, com 830 mil habitantes. O IDH ajustado para a desigualdade leva em consideração 150 países.
Importante, por oportuno, salientar que a principal causa para o resultado do Brasil nesse indicador é justamente a desigualdade de renda do povo brasileiro. E esse problema já vinha sendo detectado em anos anteriores, mas nenhuma política efetiva foi adotada para combatê-lo.
A parcela dos 10% mais ricos no Brasil concentra 42,5% da renda total, já o 1% mais rico fica com 28,3% da renda. Com esses dados e índices, o Brasil novamente fica mal no ranking, pois é a segunda maior concentração de renda do mundo, ficando atrás apenas do Qatar, no Oriente Médio.
E como se não bastasse as distorções verificadas no Brasil, a relatório chama atenção para a desigualdade de gênero. Para se poder fazer uma correlação, o Níger, que apresenta o menor IDH do planeta, tem mais mulheres com assentos no Parlamento, com 17% das cadeiras, do que o Brasil, que exibe uma representatividade de 15%.
Os dados do Pnud indicam ainda que as mulheres brasileiras vivem mais e têm mais anos de escolaridade que os homens, mas apresentam menos desenvolvimento humano. E isso se dá porque elas recebem muito menos pela sua força de trabalho. No Brasil, a renda das mulheres é de 41,8% menor do que a dos homens.
Ainda de acordo com o Pnud, o Brasil é um dos países com elevada desigualdade de gênero e se encontra em uma deplorável 95ª posição nesse ranking que inclui 162 países para os quais foi calculado o Índice de Desigualdade de Gênero (IDG).
Importante salientar que todos esses dados são do ano passado, de 2019, logo não foram impactados pelo caos mundial da pandemia. O relatório indica que a Covid-19 pode ter empurrado cerca de cem milhões de pessoas para a extrema pobreza em todo o mundo.
Eliminar a pobreza em todas as suas formas é dever de todo e qualquer governante. E continua sendo o problema central do mundo. O que falta ao mundo e em especial aos governos da América Central e África, sobretudo, é a ausência de um compromisso firme e indeclinável com o povo e suas aspirações mais básicas, como saúde, educação, moradia e infraestrutura.
Que todos os brasileiros, apesar da crise vivida, possam celebrar o dia santo de Natal, em harmonia e em paz com seus familiares e amigos e que o nascimento do Menino Jesus nos traga esperanças de dias melhores, com saúde, solidariedade, fraternidade e justiça social.
Paulo Alonso é jornalista e reitor da Universidade Santa Úrsula.
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