O momento econômico, político e social do Brasil gera preocupação. Vivemos uma desconexão entre políticas públicas e as necessidades do país, piorando as contas públicas e aumentando dificuldades. É uma sociedade que tem como característica um alto nível de fricção — o que poderia ser simples tem sempre uma impasse extra.
Quando olhamos para a lógica do mercado financeiro, encontramos perspectivas. De um lado, a mentalidade de curto prazo. Nessa visão, o entendimento é de que a volatilidade demanda investimentos de menor risco. Há um senso de oportunidade, já que a taxa de juros encontra-se num patamar alto, desvirtuando a lógica de risco-retorno que deveria guiar os investimentos, e criando uma assimetria para quem busca ganhos na carteira. Do outro, investidores de longo prazo, que veem essa situação como temporária e alocam capital em oportunidades ajustadas ao risco.
Juros reais altos são insustentáveis a longo prazo e, para conseguir retornos, é recomendável destinar parte do patrimônio em investimentos de maior prazo e menor liquidez. Ativos ilíquidos permitem atravessar a volatilidade sem preocupação excessiva com o curto prazo. Há quem adote o caminho do meio, balanceando os portfólios com ativos de diferentes naturezas e prazos. Essa é a recomendação. Mas, ao considerar o fator Brasil, com essas assimetrias, a análise se torna peculiar.
As discussões passam por visões de como as coisas deveriam ser e não de como são. Para investir com sucesso aqui, é preciso entender as características deste mercado. Não adianta esperar a volatilidade passar porque aqui é a “terra da volatilidade”. Como dizem os programadores: isso é um feature e não um bug.
Dada essa volatilidade, existem fortunas a serem feitas aqui. Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), a Produtividade Total dos Fatores nos coloca entre os 25% menos produtivos. Em vez de lamentar, podemos pensar que essa taxa representa uma oportunidade para empresas que oferecem ganhos de produtividade aos múltiplos setores da economia.
O Brasil é um mercado de 212 milhões de pessoas, com defasagem em logística, energia, educação, saúde e outros serviços. Mesmo no agro, eficiente dentro das porteiras, há ineficiências fora delas. Organizações apoiadas em tecnologia estão posicionadas para endereçar essas oportunidades.
Investir nessas companhias exige realismo, e traz a chance de contribuir para a resolução de problemas negligenciados pelo governo. Mas não adianta pensar que os ativos se comportarão aqui da mesma forma que em outros mercados. É importante levar em conta que o cenário de venda desses ativos é restrito, que não há IPOs no horizonte, que pagar o preço certo é fundamental. Quem compreende as restrições, dificuldades e armadilhas, leva o prêmio.
Com essa volatilidade, investidores preparados e sortudos podem alavancar o retorno de suas carteiras com alocações em ativos ilíquidos, como venture capital e private equity. Não recomendo ignorar esse mercado.
Bruno Teixeira é empreendedor, sócio e CEO da Raio Capital, venture capital brasileira