Brasil condena Israel por remoção de 40 mil palestinos na Cisjordânia

Israelenses usam tanques para desalojar palestinos; Médicos Sem Fronteira pedem que país pare de impedir ação de equipes de saúde

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Destruição após ataque a Gaza, Palestina (Foto: ONU)
Destruição após ataque a Gaza, Palestina (Foto: ONU)

O governo brasileiro expressou preocupação e condenou o uso de tanques em operações militares de Israel na Cisjordânia que determinaram a remoção forçada de 40 mil palestinos.

Pela primeira vez em 20 anos, o exército israelense usou tanques para desalojar palestinos nos territórios ocupados da Cisjordânia.

“O governo brasileiro expressa forte preocupação com a intensificação, nas últimas semanas, de operações militares israelenses nos campos de refugiados de Jenin, Tulkarm e Nur Al-Shams, no Norte da Cisjordânia, e condena o recente emprego de tanques e a ocupação militar”, diz a nota do Ministério das Relações Exteriores.

Ontem, Israel conduziu nova operação militar na Cisjordânia. “Nesse contexto, o governo brasileiro deplora a remoção forçada de cerca de 40 mil moradores daqueles campos, em violação ao Direito Internacional e ao Direito Internacional humanitário”, completou o Itamaraty.

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O Brasil pediu ainda que a Agência das Nações Unidas para Refugiados Palestinos (UNRWA) possa manter suas atividades na região e lembrou que a Corte Internacional de Justiça (CIJ) da Organização das Nações Unidas (ONU) já considerou ilegal a presença israelense nos territórios palestinos.

O governo israelense informou que proibiu a UNRWA de atuar nesses locais, que acusa de “apoio ao terrorismo”. As autoridades de Tel Aviv afirmam ainda que não permitirão o retorno dos palestinos expulsos de suas casas.

“Não permitiremos o retorno dos moradores e não permitiremos que o terror retorne e floresça”, disse, nesse domingo, o ministro da Defesa, Israel Katz. O governo de Tel-Aviv alega que as ações são para combater o terrorismo.

Em nota, o Ministério das Relações Exteriores da Autoridade Palestina, que controla parte da Cisjordânia, afirmou que Israel busca anexar os territórios palestinos.

“O Ministério vê esses acontecimentos – incluindo as declarações de Katz, o envio de tanques e a intimidação deliberada de civis indefesos – como uma grave escalada na Cisjordânia e uma tentativa flagrante de consolidar o genocídio e o deslocamento forçado contra nosso povo desarmado”, diz a representação palestina da Cisjordânia, que ainda pede que a comunidade internacional intervenha.

A remoção forçada de civis é considerada crime, segundo o Direito Internacional, conforme define a Convenção de Genebra. Também é considerada crime internacional a aquisição de territórios por meio da guerra, conforme estabelece a Resolução 242 do Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU).

As forças israelenses e os colonos que vivem em territórios ocupados por Israel aumentaram o uso de violência física extrema contra palestinos na Cisjordânia desde que a guerra total contra Gaza começou, em outubro de 2023. As conclusões são de um novo relatório da organização Médicos Sem Fronteiras (MSF). No total, pelo menos 870 palestinos foram mortos e mais de 7.100 ficaram feridos entre outubro de 2023 e janeiro de 2025. De acordo com o relatório do MSF, “Causando danos e negando cuidados”, a escalada da violência na Cisjordânia prejudica de maneira extrema o acesso à saúde e faz parte de um padrão de opressão sistêmica por parte de Israel, que foi descrito pela Corte Internacional de Justiça (CIJ) como equivalente à segregação racial e ao apartheid.

O documento, que abrange um período de um ano, de outubro de 2023 a outubro de 2024, apresenta entrevistas em profundidade com 38 pacientes e funcionários de MSF, paramédicos da equipe hospitalar e voluntários apoiados pelos MSF, que relatam incursões militares israelenses prolongadas e violentas e restrições de movimento mais rigorosas, que dificultam severamente o acesso a serviços essenciais, particularmente aos cuidados de saúde. A situação se deteriorou ainda mais desde o cessar-fogo em Gaza e agrava as terríveis condições de vida de muitos palestinos, que estão pagando um preço físico e psicológico imenso.

“Pacientes palestinos estão morrendo porque simplesmente não conseguem chegar aos hospitais”, diz Brice de le Vingne, coordenador de Emergência de MSF: “Estamos vendo ambulâncias bloqueadas pelas forças israelenses em postos de controle enquanto transportam pacientes em estado crítico, instalações médicas cercadas e invadidas durante operações e profissionais de saúde submetidos à violência física enquanto tentam salvar vidas.”

Um número crescente de ataques a equipes e instalações médicas é relatado às equipes de MSF, incluindo ataques a hospitais, destruição de locais médicos improvisados em campos de refugiados, além de assédio, detenção, ferimentos e morte de socorristas e trabalhadores médicos pelas forças israelenses. Entre outubro de 2023 e dezembro de 2024, a Organização Mundial da Saúde (OMS) registrou 694 ataques a instalações de saúde na Cisjordânia, com hospitais e estruturas de saúde frequentemente sitiados pela força militar. Os profissionais de saúde expressam um sentimento de insegurança, já que são frequentemente assediados, detidos, feridos e até mortos.

“As forças israelenses cercaram o ponto de estabilização em Tubas, fechando as duas entradas, embora estivesse muito claro que se tratava de um prédio médico. Eles ordenaram que todos os paramédicos saíssem do ponto de estabilização. Lá estavam cerca de 22 paramédicos. Soldados israelenses atiraram dentro e fora do prédio, danificando nossos suprimentos e o ponto de estabilização”, diz um médico do Crescente Vermelho Palestino, apoiado pelo MSF.

Em caso de emergência médica, restrições de movimento podem ter consequências letais. O acesso aos cuidados de saúde neste contexto é severamente impedido pela obstrução e direcionamento dos movimentos de ambulâncias e pela escalada de ataques militares violentos, resultando em ferimentos, mortes e destruição de infraestrutura civil vital, incluindo estradas, cuidados de saúde, tubulações de água e sistemas elétricos, particularmente nos campos de refugiados de Tulkarem e Jenin. Em áreas remotas e periferias de cidades como Jenin ou Nablus, a situação é especialmente grave, pois pacientes com doenças crônicas, como aqueles que precisam de tratamento regular de diálise, são forçados a ficar em casa devido aos imensos obstáculos para chegar aos centros de saúde.

Além das frequentes incursões militares israelenses, a violência dos colonos e a expansão cada vez maior dos assentamentos deixam muitos palestinos vulneráveis à violência e com medo de atravessar a Cisjordânia. No total, 1.500 ataques de colonos israelenses contra palestinos foram relatados pelo Escritório da ONU para Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA, por sua sigla em inglês) entre outubro de 2023 e 2024.

Como potência ocupante, Israel tem obrigações legais sob o Direito Internacional de garantir o acesso aos cuidados de saúde e proteger equipes médicas. O sistema de saúde na Cisjordânia está sob imensa tensão e forçado a um estado de emergência permanente.

MSF pede a Israel que pare com a violência contra profissionais de saúde, pacientes e instalações de saúde e pare de obstruir a ação de equipes médicas que realizam tarefas que salvam vidas.

Com informações da Agência Brasil

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