O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu aos países que integram o Mercado Comum do Sul (Mercosul) que olhem para a Ásia, região que ele considera “o centro dinâmico da economia global”. “Nossa participação nas cadeias globais de valor se beneficiará do estreitamento dos laços com Japão, China, Coreia, Índia, Vietnã e Indonésia”, disse o presidente brasileiro. Ele citou os projetos Rotas da Integração Sul-Americana e Rota Bioceânica para essas conexões, durante participação na 66ª Cúpula de Chefes de Estado do Mercosul, em Buenos Aires. Em seu discurso, o presidente brasileiro também defendeu a modernização do sistema de pagamento em moedas locais para facilitar as transações digitais.
Ampliação comercial, promoção da transição energética, desenvolvimento tecnológico, combate ao crime organizado e enfrentamento das desigualdades sociais são as cinco prioridades para a próxima presidência do Mercosul, que será exercida pelo Brasil no segundo semestre deste ano.
Lula recebeu a coordenação do bloco sul-americano do presidente argentino, Javier Milei. O encontro reúne os líderes dos países-membros Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, além da Bolívia, que está em processo de adesão, e países associados, para discutir temas prioritários do bloco.
A presidência brasileira também buscará o fortalecimento da Tarifa Externa Comum (TEC), a incorporação dos setores automotivo e açucareiro ao regime comercial do bloco, além do fortalecimento dos mecanismos de financiamento de infraestrutura e desenvolvimento regional.
Milei ameaça sair
A posição brasileira esbarra na resistência de Milei, que defendeu relações mais flexíveis dentro do Mercosul para adotar reformas que permitam um comércio mais forte com outros países e regiões. Ele ameaçou que seu país poderia empreender essa busca sozinho caso encontrasse resistência de seus parceiros.
Lula enfatizou que continua “comprometido” com a conclusão do acordo com a União Europeia (UE) nos próximos seis meses. O Mercosul e a UE finalizaram o texto do acordo comercial bilateral alcançado após 25 anos de negociações em dezembro de 2024, durante cúpula em Montevidéu, Uruguai. No entanto, apesar do progresso entre as partes, o acordo ainda precisa da aprovação formal dos países envolvidos.
No Brasil, o acordo com a UE atende basicamente aos interesses do agronegócio e ameaça o projeto de reindustrialização que o próprio Lula lançou. Por ironia, o acerto comercial com os europeus não vai à frente devido a resistências dos agricultores da França e da Polônia. Itália e Irlanda também rejeitam o acordo.
Nesta quarta-feira, foi anunciada a conclusão das negociações para um acordo do Mercosul com a Associação Europeia de Livre Comércio (Efta), formado por Islândia, Liechtenstein, Noruega e Suíça.
O Mercosul ainda pretende negociar acordos específicos com Canadá e Emirados Árabes Unidos, além de trabalhar por novos parceiros regionais, como o Panamá e a República Dominicana, e atualizar os acordos com a Colômbia e o Equador.
Financiamento de infraestrutura no Mercosul
Ao longo do próximo semestre, o Mercosul pretende lançar, sob a presidência brasileira, uma segunda edição do Fundo para a Convergência Estrutural do Mercosul (Focem), um mecanismo solidário de financiamento próprio dos países do bloco para obras e outras iniciativas de fomento ao comércio. Nas últimas décadas, o Focem viabilizou mais de US$ 1 bilhão em investimentos, especialmente em obras estruturais em países como Argentina e Paraguai.
Por fim, para o presidente brasileiro, é necessário reativar o Fórum Empresarial do Mercosul e oferecer maior apoio a pequenas e médias empresas. “Não se constrói prosperidade apenas com grandes negócios”, afirmou.
“Como eu disse na reunião do Fórum Celac (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos) – China, em Pequim, cabe a nós decidir se seremos grandes ou pequenos. Temos tudo o que precisamos para desempenhar um papel importante na construção de um mundo mais justo e sustentável”, enfatizou o presidente brasileiro.
Com informações das agências Brasil e Xinhua