Em 30 julho do ano passado, o Instituto Butantan fez ao Ministério da Saúde a primeira ofertas da Coronavac, mas ficou sem resposta. Eram 60 milhões de doses, que seriam entregues no último trimestre de 2020. A informação foi dada pelo diretor do Instituto, Dimas Covas, em depoimento à CPI da Pandemia, nesta quinta-feira.
Para o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), vice-presidente da CPI, as informações de Covas indicam que, sem contar outras vacinas, o país poderia ter hoje 50 milhões de pessoas imunizadas com duas doses se o Governo Federal não tivesse sido omisso. Em vez desse número, o País soma menos da metade: cerca de 22 milhões de brasileiros receberam as duas doses.
O depoimento de Dimas Covas foi um dos mais esclarecedores até agora e deixou expostas mentiras e tergiversações de representantes do governo que já estiveram na CPI. Segundo o diretor do Butantan, o Brasil poderia ter sido o primeiro no mundo a iniciar a vacinação “se todos os atores” tivessem colaborado. Dimas Covas disse que manifestações do presidente Jair Bolsonaro contra a vacina deixaram as negociações “em suspenso” e atrasaram o começo da vacinação no país.
Em dezembro, o laboratório tinha quase 10 milhões de doses da Coronavac – 5,5 milhões de doses prontas e 4 milhões em processamento. A vacinação no mundo começou em 8 de dezembro. No Brasil, apenas em 17 de janeiro.
Segundo Covas, o contrato com o Ministério da Saúde ficou perto de um desfecho positivo em outubro, com a assinatura de um protocolo de intenções no dia 19 para fornecimento de 46 milhões de doses e a sinalização da edição de uma medida provisória para permitir a compra.
No dia seguinte, o então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, chegou a anunciar a compra dos imunizantes, mas, segundo o diretor do Butantan, o contrato ficou em suspenso por quase três meses após declarações de Jair Bolsonaro contra a aquisição dos imunizantes e só foi concretizado em 7 de janeiro.
Dimas Covas esclareceu ainda que o Governo Federal não entrou com um centavo para a expansão da produção do Butantan, nem para as pesquisas clínicas.
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