Brasil precisa de uma agenda positiva de reformas e concessões

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Tudo pode piorar. A expressão bastante empregada pelos brasileiros é válida para o contexto atual do país. Na opinião do economista João Beck, especialista em investimentos e um dos sócios da BRA, escritório credenciado da XP, se não tivesse havido uma política de estímulo financeiro na pandemia estaríamos em uma situação bem mais delicada. A recessão seria mais grave.

Beck disse nesta sexta-feira ao Monitor Mercantil que o Brasil gastou muito dinheiro na pandemia, mas diferentemente das potências globais o país não tem uma impressora infinita. “Cada real gasto desvaloriza nossa moeda e aumenta a taxa de juros exigida por investidores para financiar o governo”, observou o economista que destacou à reportagem alguns pontos desse momento em que o país se encontra.

“O mercado financeiro moderno aprendeu a lidar com diversas crises. Mas nessa, tivemos que voltar aos livros e desenhar uma nova forma de agir, principalmente em questões de saúde”, destacou o economista.

Em termos de produção nacional de produtos e serviços, a pandemia fez um grande estrago na economia brasileira em 2020. O Produto Interno Bruto do Brasil (PIB) caiu 4,1%, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A atividade econômica registrou a maior queda desde o início da série histórica do IBGE, em 1996.

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A queda interrompeu o crescimento de três anos seguidos, de 2017 a 2019, quando o PIB acumulou alta de 4,6%. Entre os setores mais impactados estão Serviços (-4,5%) e Indústria (-3,5%). Houve alta somente no setor de Agropecuária (2%).

Com o tombo histórico, o Brasil saiu do ranking das 10 maiores economias do mundo e caiu para a 12ª colocação, segundo análise da agência de classificação de risco Austin Rating. No ano de 2019, o Brasil ficou na 9ª posição.

Para 2021, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) projeta crescimento de 3% do PIB, com queda estimada de 0,5% no primeiro trimestre do ano, na comparação com ajuste sazonal. Os dados foram divulgados em 30 de março. Veja abaixo a entrevista completa com João Beck:

Com a pandemia observamos uma oscilação grande dos mercados financeiros em todo o mundo. Como avalia o que acontece no Brasil?
– O que aconteceu no Brasil está em linha com qualquer país de moeda fraca. Somos um país periférico. Diferente de uma potência que consegue imprimir sem danos – até agora – a sua própria moeda e ainda consegue um serviço da dívida ainda menor.
O país gastou muito dinheiro, mas diferente das potências globais, não tem uma impressora infinita. Cada real gasto desvaloriza nossa moeda e aumenta a taxa de juros exigida por investidores para financiar o governo. Ano passado, trocamos queda no PIB por dívida. Teríamos uma recessão muito mais grave se não fosse a política de estímulos. O problema é que agora temos que pagar essa conta. Ou com contenção de gastos ou com crescimento. O Brasil precisa de uma agenda positiva de reformas e concessões.
O mercado financeiro moderno aprendeu a lidar com diversas crises. Mas nessa, tivemos que voltar aos livros e desenhar uma nova forma de agir, principalmente em questões de saúde.
Como avalia as declarações erráticas e a condução da pandemia pelo governo federal e que têm feito eco muito negativo no exterior?
– No início da pandemia, o discurso do presidente parecia até estratégico. Já que se previa um desemprego alto pela frente, representar esse público vocalizando contra os lockdowns poderia jogar a favor dele. Mas na sequência, o discurso tomou um caminho estranho: presidente sem usar máscara adotando discurso a diagnósticos não comprovados
As decisões do Banco Central na condução do câmbio, por exemplo, são apropriadas ou deveria haver ajustes?
– Todo grande movimento de juros do Banco Central tem críticas. O Banco Central não tem um mapa perfeito dos resultados na economia. Ele mexe um pouco na engrenagem através da taxa de juros e observa. Mexe de novo e observa. É um trabalho dinâmico de ações e revisões. A economia é muito dinâmica com diversos novos vetores aparecendo a todo momento. O importante é o compromisso com a moeda que é a meta de inflação.

Como observou o comportamento do mercado esta semana, de 12 a 16 de abril. Houve alguma surpresa?
– Surfamos um pouco – bem pouco – a onda de otimismo lá fora. E os efeitos da alta das commodities assim como a alta do dólar.

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