O negacionismo do presidente Bolsonaro às normas sanitárias e sua mais do que desastrosa, irresponsável e criminosa atuação em relação à pandemia que assola o Brasil fizeram sua popularidade despencar, de acordo com as últimas pesquisas realizadas pelo Datafolha.
A pesquisa do Datafolha foi divulgada na última quarta-feira e mostra que 54% dos entrevistados consideram ruim ou péssimo o modo como o presidente está lidando com a pandemia. Em janeiro deste ano, eram 48%.
Dessa forma, fica evidente o descrédito do brasileiro em relação à maneira como vem Bolsonaro tratando esse tema, de forte impacto na vida de milhares de pessoas que dia após dia perdem familiares e amigos.
O Brasil registrou quase 3 mil mortes nas últimas 24 horas e, nesse mesmo período, mais de 90 mil contaminados. No país, mais de 280 mil pessoas já foram a óbito e quase 12 milhões de outras pessoas foram contaminadas.
A campanha de vacinação no país mais parece uma brincadeira e de extremo mal gosto. Vacinas não chegam. Não foram compradas quando deveriam ter sido encomendadas, e a população morre na fila de espera nos hospitais e nas portas dos estabelecimentos de saúde, públicos e privados, aguardando por tratamentos.
A primeira dose só foi aplicada em menos de 11 milhões de pessoas, correspondente a menos de cinco por cento da população brasileira; já a segunda dose foi aplicada em menos de 4 milhões, correspondendo a menos de dois por cento do povo brasileiro.
Na mesma pesquisa, 43% disseram considerar Bolsonaro o principal responsável pela situação atual, enquanto apenas 17% atribuem essa responsabilidade aos governadores. Ou seja, a campanha sistemática de Bolsonaro para culpar os governadores pela crise fracassou. A gerência pela crise da pandemia deve ser do Governo Federal, centralizando ações, processos e procedimentos. Esse embate com os governadores dos estados, provocado pelo capitão-presidente Bolsonaro, é inaceitável.
Por fim, mas não menos importante, subiu de 50% para 56% o porcentual de brasileiros que entendem que Bolsonaro não tem condições de liderar o país. A falta de liderança de Bolsonaro e a total incapacidade para ser o chefe da Nação e do Estado brasileiro são comprovados diariamente pelas frases ditas por ele, por suas ações tresloucadas e pelos gestos incabíveis e, sobretudo, pelo seu despreparo para servir ao Brasil, de forma vocacionada.
A pesquisa também aponta que o Governo Bolsonaro é reprovado por 44% dos entrevistados. No levantamento anterior, divulgado em janeiro, o índice era de 40%. Entre os que aprovam a gestão do presidente, o percentual passou de 31% no levantamento de janeiro para 30%, em março. Por outro lado, o índice entre os que consideravam regular passou de 26%, em janeiro, para 24% no último levantamento, segundo a pesquisa.
Não é à toa que ele foi apontado, pelo jornal Washington Post, com o pior presidente da República, em todo o mundo, nesse momento de pandemia, por sua falta de visão e de proatividade.
E por todas essas razões, a população tem repensado sobre sua “competência” e até mesmo quanto à reeleição. O nome de Bolsonaro vem derretendo nas pesquisas e já não era sem tempo. Afinal, Bolsonaro já cruzou a “linha vermelha” há muito tempo. E essa “linha vermelha”, como diz o deputado Marcelo Ramos, vice-presidente da Câmara dos Deputados, é a vacinação contra a Covid-19.
Imagino que, diante desse caos instaurado no país e tendo em vista o colapso de leitos e hospitais, o conhecido Centrão, mesmo que assim o desejasse, não terá como continuar a apoiar o presidente se o programa de imunização não deslanchar e de forma imediata.
Importante, por oportuno, também enfatizar que os líderes do Centrão ficaram agastados com a decisão de Bolsonaro de contrariá-los no processo de substituição do ministro-general Eduardo Pazuello no Ministério da Saúde. A troca no Ministério foi uma imposição do Centrão, diante da escalada da crise causada pela pandemia, agravada pela incompetência cavalar e ascendente do general intendente Pazuello – péssimo de comunicação, ruim de logística, sem estratégia alguma na pasta, conivente com um presidente sem rumo e sem metas, negligente com a compra das vacinas e totalmente desconectado das necessidades sanitárias do povo brasileiro. Sua passagem pela Saúde foi algo inimaginável, um show de verdadeira incompetência. Um verdadeiro caos!
O quarto ministro da Saúde, nesse curto período, Marcelo Queiroga, não parece querer mudar o status quo, em que pese ser um médico e presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Suas primeiras declarações são de total subserviência a Bolsonaro e com um discurso de continuidade da política atual de um Ministério da Saúde. Ele se mostra totalmente fora da realidade esperada, longe dos anseios populares e distante do regramento da Organização Mundial da Saúde que, por seus dirigentes, fizeram duras críticas esta semana ao governo brasileiro, pelo descaso com a saúde do país e, em consequência, pondo em risco a saúde do mundo.
As Ilhas Seychelles, na África; Israel, no Oriente Médio; e o Reino Unido, na Europa, são campeões no combate à pandemia e em números absolutos de pessoas vacinadas. O Brasil está na lanterna. E é o segundo em mortes no mundo, atrás dos Estados Unidos.
Bolsonaro sabotou a aquisição de vacinas, obrigou o Ministério da Saúde a encampar tratamentos inócuos, fez campanha contra o uso de máscaras, permitiu aglomerações, chamou a Covid-19 de gripezinha; falou que o coronavirus era coisa de maricas; chega de mi-mi-mi; todos vão morrer um dia; desdenhou os demais países que lutam contra a pandemia; e estimulou aglomerações, contrariando as orientações do próprio Ministério, que, desde a saída do ministro Luiz Henrique Mandetta, que deixou o cargo com 76% de aprovação, está sem rumo, tal qual um Titanic.
O Centrão, um pêndulo para a continuidade do Governo Bolsonaro, tem deixado claro que jamais manteve apoio para promover aglomerações nem para negar o uso de máscaras ou a gravidade da pandemia. Os parlamentares desse bloco, com essas afirmações, querem deixar claro, e começam a demarcar claramente o território, que pode definir sua manutenção como sustentáculo político do governo – determinante até aqui para que não prosperassem nem os pedidos de CPI para apurar responsabilidades sobre o desastre sanitário e humanitário vivido no Brasil e nem os inúmeros processos de impeachment, mais de 50, já encaminhados ao Congresso Nacional.
E, assim, o Brasil dos brasileiros vai se arrastando e o povo, massacrado e sem ter para onde correr, assistindo nas portas dos hospitais a falta de comprometimento de um presidente egocêntrico, teimoso e que ainda acha tempo para criticar os que lhe negam apoio e sobretudo usar de duras e inapropriadas palavras aos jornalistas e aos veículos de comunicação. Sua arte naif de tentar conduzir os destinos do Brasil é sentida por todos os que pensam e exigem mudanças radicais no enfrentamento dessa pandemia.
Paulo Alonso é jornalista.
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