Brasil teve piora no desempenho exportador em 2019

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A corrente de comércio (exportações mais importações) recuou 4,6% entre 2018 e 2019. Tanto as exportações como as importações registraram queda de 6,4% e 2,1%, em valor, e o superávit da balança comercial caiu de US$ 58 bilhões para US$ 46,7 bilhões, nesse mesmo período. Observa-se que a queda no valor das exportações decorreu de uma retração nos preços (-5,0%) e no volume (-1,8%). No caso das importações, os preços caíram (-4,4%), mas o volume cresceu (+2,4%).

Duas questões são destacadas nesse relatório do Indicador de Comércio Exterior. O Indicador Comércio Exterior (Icomex), índice mensal da Fundação Getúlio Vargas (FGV). A primeira se refere a como o desempenho dos três setores (agropecuária, extrativa e transformação) contribuíram para a queda nos fluxos exportados e importados e as possíveis implicações do acordo China e EUA para a agropecuária. Em valor, as exportações dos três setores diminuíram (-8,3%, agropecuária, -8,5%, transformação) ou ficaram relativamente estagnadas (aumento de 0,6% da extrativa). No caso das importações, o setor de agropecuária aumentou suas compras (+4,8%) e tanto a extrativa (-6,5%) e a transformação registraram queda.

No entanto, quando se observa a contribuição de cada setor para o superávit comercial, mesmo com queda nas exportações, a agropecuária seguida da extrativa são as principais fontes de aumento das reservas internacionais via balança comercial: US$ 36,4 bilhões e US$ 35,3 bilhões, respectivamente. A indústria de transformação apresentou déficit de US$ 25,6 bilhões.

A análise dos índices de preços e volume mostra que para 2020, as perspectivas indicam um menor superávit comercial em todos os setores, com possível exceção da extrativa

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A piora do desempenho das exportações atingiu todos os setores da indústria. Na agropecuária, o crescimento passou de positivo (18,8%, entre 2018/2017) para negativo (-8,3%, entre 2019/2018), em valor. O aumento em volume de 0,9% não compensou a queda nos preços, que foi de 8,8%. A soja, principal produto de exportação do país, que havia se beneficiado em 2018 e início de 2019 com a guerra comercial entre a China e os EUA, viu suas vendas encolherem 21% com a redução da demanda chinesa, responsável por 78% de todas as exportações do produto brasileiro.

A gripe suína, que dizimou grande parte do rebanho chinês, e o menor crescimento do país em 2019 explicam a piora nas vendas de soja, que é utilizada para ração. Em 2020, não se esperam melhoras nesse cenário, que pode inclusive ser mais desfavorável com o acordo entre China e EUA. Pelo acordo anunciado no dia 15 de janeiro a China se compromete a comprar US$ 40 bilhões de dólares em cada um dos próximos dois anos de produtos agropecuários dos EUA. O maior valor exportado pelos EUA para a China de produtos agropecuários foi de US$ 29 bilhões em 2013 e, além disso não é claro que os agricultores estadunidenses queiram desviar suas vendas de outros mercados para a China, um cenário incerto. Em 2019, a China comprou US$ 26 bilhões de soja do Brasil e US$ 4,5 bilhões de carne. Pode haver perdas para as exportações de soja, mas a China irá continuar dependendo do Brasil para atender a sua demanda.

O risco maior seria a perda de aumento de potencial da carne e de outros produtos agropecuários no mercado da China. Há menção explicita no acordo a medidas de facilitação na questão das medidas fito sanitárias que regem as importações chinesas de carne bovina, suína e frango. Sabe-se que o governo chinês usa frequentemente essas medidas de forma não transparente para controle das importações. Exportações de alguns tipos de carne e frango originárias dos EUA estavam proibidas de entrar na China. No texto do acordo é enfatizada a importância desse acordo para a agropecuária, pois é esperado que com o aumento da renda chinesa, o consumo de proteína continue a crescer. Mesmo argumento utilizado pelo Brasil.

A indústria extrativa registrou em 2019 aumento de 0,6% em valor, 1,7% em volume e queda de 0,6% nos preços. As exportações de minério de ferro aumentaram em US$ 2 bilhões e as de óleo bruto de petróleo caíram em US$ 1,2 bilhões. No caso do minério, o volume caiu, mas os preços subiram e, para o petróleo, foi o inverso.

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