Brasileiro, o eterno otimista

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O slogan Brasil, o país do futuro, define a classe de economistas do país. Mal sai um índice melhorzinho e boom! Lá se vão as projeções para as alturas. Não é à toa que ano após ano, as projeções do boletim Focus sempre para o PIB ficam longe, mas bem longe da realidade. Aliás, bem acima dela. Na verdade, fazer projeções não é difícil, basta ficar ali, bem próximo do que o boletim Focus publica. O difícil mesmo é acertar.

Em dezembro de 2018 (28/12), aguardava-se um crescimento, segundo o Focus de 2,55% para o PIB brasileiro. Ao final de 2019, as projeções davam conta de um incremento, se é que se pode chamar assim, de 0,99%. Falta só um ano para sairmos da década da mediocridade. Para este ano, projeta-se 2,3% na última edição do Focus, o que, se for verdade, é uma excelente notícia. Há quatro semanas a perspectiva era de 2,25%. Já o IPCA fica em 3,58%.

O maior otimismo vem com o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br). Considerado uma prévia do PIB, o IBC-Br demonstrou alta de 0,18% em novembro na comparação com outubro. Os dados são dessazonalizados. Esta é o quarto aumento consecutivo na comparação mensal. Na comparação com novembro de 2018, o IBC-Br subiu 1,10% e, no acumulado em 12 meses, teve alta de 0,90%.

Inflação controlada com crescimento, o melhor dos mundos. Claro, que crescer 2,3% não é grande coisa, mas para quem está acostumado com pouco, é um grande passo. O problema é que esses 2,3% parecem ser otimistas demais. A economia brasileira dá alguns sinais de recuperação, mas é para tanto? Há medidas governamentais, além do corte de juros – que deve parar aí nos 4,5% ou até subir – que justifiquem a mudança de cenário de 2019 para 2020?

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Não há muito. Assim como os economistas, os políticos também se agarram ao slogan do futuro, no famoso “vamos estar aprovando”, como a gente costuma ouvir em certas ligações. No Twitter, Rodrigo Maia afirmou que a Câmara dos Deputados vai aprovar a reforma tributária ainda no primeiro semestre. A da Previdência, que era “urgente”, e ocorreria no primeiro semestre do ano passado, só foi promulgada ao final de novembro. Aí entram os economistas com seu Coeteris Paribus, se a reforma fosse aprovada antes, o crescimento que projetamos estava correto e blá blá…

Mais pé no chão, a ONU, em relatório que trata das perspectivas para a economia global, prevê crescimento de 1,7% para o PIB do Brasil em 2020. Segundo a entidade, a retomada depende da confiança do empresariado brasileiro. Sempre ele, desconfiado. E não é a toa. Para quem só usa 80% da sua capacidade, não é de se estranhar. Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), o nível de utilização da capacidade instalada (UCI), subiu para 78,2% em novembro do ano passado, com alta de 0,3 ponto percentual na comparação com outubro. Talvez o empresariado já tenha desistido de sonhar com o futuro e resolveu viver o presente.

Fato é que o brasileiro está cada vez mais pobre, e pobreza desnutre o consumo. O PIB per capita brasileiro deve encerrar 2019 ainda abaixo de 2014. Segundo os dados do Ipea, que calcula o PIB conceito da Paridade do Poder de Compra (PPC) – PIB convertido para dólares internacionais usando as taxas de PPC – o produto per capita de 2014 era de US$ 16.358,39 e, ao final de 2018, de US$ 16.068,02. Se colocarmos 1% em cima deste valor (desconsiderando completamente o aumento da população), o valor sobe para US$ 16.228,70.

Com renda baixa, o consumo pode até aumentar por conta da baixa taxa de juros, mas qual a sustentabilidade disso? Esta armadilha já vivemos no passado. Como resultado, tivemos uma explosão de inadimplência. Além disso, os vilões carne e feijão pressionam a inflação, o que prejudica novos cortes de juros. Ironia à parte, a década medíocre não vai se encerrar com chave de ouro.

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