A corrente comercial (exportações + importações) do Brasil em 2024 alcançou US$ 599,9 bilhões. Deste total, US$ 184,6 bilhões foram com países que integram o Brics, o que representa quase 1/3 (30,8%) do comércio exterior brasileiro.
Os dados da Secretaria de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento (Mdic) mostram que a corrente comercial do Brasil com o Brics em 2024 superou a soma da relação com EUA (US$ 81 bilhões) e a União Europeia (US$ 95,5 bilhões) e foi 4,6x maior que o comércio com os países do Mercosul (US$ 39,5 bilhões).
Os números mostram a importância das relações com as nações do Brics, mas, abrindo os dados dentro do grupo, encontra-se uma alta concentração com apenas um país do bloco: a China, destino de 92% das nossas exportações para o Brics e origem de 78% das compras feitas do grupo em 2024.
Além disso, a pauta de exportações brasileiras para o bloco está fortemente concentrada em commodities: 84,7% (óleo, ferro, soja, carne bovina, celulose e açúcar).
Em documento divulgado no início de 2025, quando o Brasil assumiu a presidência rotativa do Brics, a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) destacou que o Brasil possui uma relevante participação na corrente de comércio do bloco, correspondendo a 30,4% das exportações do grupo e 31,5% das importações, em 2024, segundo dados do Mdic.
O presidente da ABDI, Ricardo Cappelli, reforçou que “ao liderar o Brics, o Brasil assume um papel central na articulação de agendas globais e regionais, com potencial para influenciar diretamente as estruturas de governança internacional. A presidência brasileira tem a oportunidade única de consolidar o bloco como um mecanismo efetivo de transformação econômica e social, promovendo soluções coletivas para os desafios contemporâneos. Dessa forma, o Brasil pode reafirmar sua posição como um dos principais protagonistas na construção de um futuro mais equilibrado, sustentável e inclusivo”.
Cappelli mostra que “com o Brasil à frente das discussões, será possível apresentar pautas de interesse do setor privado brasileiro, especialmente considerando o lançamento de políticas e programas relevantes para o setor produtivo, como o Novo PAC e o Nova Indústria Brasil (NIB)”.
E, ainda, que o “Brics oferece um espaço privilegiado para que o Brasil compartilhe sua expertise em áreas como na economia verde – o Brasil está focado em liderar essa área, aproveitando a demanda global por produtos manufaturados sustentáveis e descarbonizados”.
O documento da ABDI ressalta também, que “o país tem a oportunidade de aprender com a experiência dos demais membros, explorando alternativas para o desenvolvimento industrial, seja por meio do enorme mercado potencial, pois, os países do Brics representam mercados emergentes com grande potencial de crescimento econômico”.
A Índia, por exemplo, é vista como um mercado promissor para investimentos e comércio, “seja por meio de parcerias tecnológicas, devido aos interesses em tecnologias agrícolas inovadoras e na infraestrutura de telecomunicações, como a implantação de redes de cabos submarinos”.
Exportações brasileiras para o Brics (4 países fundadores)
- China: 92%
- Índia: 5,1%
- Rússia: 1,4%
- África do Sul: 1,3%
Importações brasileiras do Brics
- China: 78%
- Rússia: 13%
- Índia: 8,3%
- África do Sul: 0,7%
O que é o Brics
O Brics é um grupo político-diplomático formado, em 2009, por quatro nações emergentes: Brasil, Rússia, Índia e China (ainda como Bric, termo criado por um analista da Goldman Sachs em um artigo sobre economias emergentes em 2001); a África do Sul se juntou em 2011, oficializando a sigla atual.
Em 2024, o Brics se expandiu ao reunir Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia e Irã. Em janeiro de 2025, a Indonésia entrou oficialmente como membro pleno do bloco, marcando a primeira expansão do grupo sob a presidência brasileira, iniciada em 1º de janeiro último.
Principais objetivos
- Promover a cooperação entre os países-membros para avançar no desenvolvimento socioeconômico;
- Promover o crescimento econômico inclusivo, visando à erradicação da pobreza, combate ao desemprego e promoção da inclusão social;
- Incentivar a inovação, baseada em tecnologias de ponta e desenvolvimento de habilidades e competências;
- Fortalecer a cooperação entre os países do Sul Global para democratizar, legitimar e equilibrar a ordem internacional;
- Promover uma reforma da governança global, incluindo instituições financeiras internacionais, para refletir melhor as realidades econômicas atuais e aumentar a voz dos países em desenvolvimento.
Principais áreas de atuação
- Economia e Comércio: promoção do comércio entre os países-membros, redução de barreiras tarifárias e incentivo a investimentos;
- Finanças: criação do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), também conhecido como Banco dos Brics, para financiar projetos de infraestrutura e desenvolvimento sustentável;
- Política Internacional: atuação conjunta em fóruns internacionais, como a ONU e o G20, para defender interesses comuns;
- Tecnologia e Inovação: cooperação em pesquisa, ciência e tecnologia.
Tamanho do mercado e da economia do Brics
Juntos, os países do Brics representam parcelas significativas da população e das riquezas mundiais, além de desempenharem um papel em constante ascensão na economia global, evidenciado por diversos indicadores econômicos:
- População: Cerca de 3,6 bilhões de pessoas, 46% da população mundial
- PIB: 25% do PIB mundial (US$ 28,4 trilhões); a China, cujo PIB alcançou US$ 17,8 trilhões, detém 63% do PIB dos Brics (2023)
- Comércio Internacional: 21% do comércio global
- Produção de Petróleo: Os países do Brics são responsáveis por mais de um terço da produção global de petróleo, destacando sua importância no setor energético mundial.
(fontes: Fundo Monetário Internacional, Banco Mundial, Acro Macro Consulting, compilados pela ABDI)
Por Andrea Penna, especial para o Monitor