O presidente Luiz Inácio Lula da Silva aproveitou o seu discurso nesta sexta-feira para conclamar os membros do Brics a criarem uma nova moeda de comércio e encontrar uma nova fórmula de financiamento. Lula participou da reunião anual do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), conhecido como Banco do Brics, no Rio de Janeiro, com a presença de ministros de Finanças, membros do conselho do NDB e líderes empresariais. O encontro é preparatório para a Cúpula de Líderes do Brics, bloco de países emergentes do qual o Brasil faz parte, que ocorrerá neste domingo e na segunda-feira.
Lula destacou que 31% dos projetos do NDB são realizados nas moedas dos países-membros. O presidente brasileiro também defende o uso de moedas locais em transações comerciais, para reduzir o impacto do câmbio.
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“Em um cenário global cada vez mais instável, marcado pelo ressurgimento do protecionismo e do unilateralismo e impactado pela crise climática, o papel do NDB na redução de nossas vulnerabilidades será crescente. Nosso banco é mais do que um grande banco para países emergentes, ele é a comprovação de que uma arquitetura financeira reformada é viável e que um novo modelo de desenvolvimento mais justo é possível”, completou Lula.
Pagamento de juros supera investimentos
“Eu acho que vocês podem e devem mostrar ao mundo que é possível criar um novo modelo de financiamento, sem condicionalidades”, argumentou Lula. “Não é doação de dinheiro, é empréstimo para que pessoas possam ter uma chance de sair da miséria em que estão e dar um salto de qualidade.”
“A chamada austeridade exigida pelas instituições financeiras levou os países a ficar mais pobres, porque toda vez que se fala em austeridade o pobre fica mais pobre e o rico fica mais rico”, acrescentou, ao defender a reforma das instituições tradicionais como Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial, que foram criadas após a Segunda Guerra Mundial para elaborar regras para o sistema monetário internacional.
“Não é possível que o continente africano deva US$ 900 bilhões, e o pagamento de juros muitas vezes é muito maior que qualquer dinheiro que eles tenham para fazer investimentos. Ou discutiremos novas formas de financiamento para ajudar os países em via de desenvolvimento, sobretudo os países mais pobres da África, Ásia e América Latina, ou esses países vão continuar pobre por mais um século”, acrescentou.
Falta de reforma das instituições financeiras mundiais limita avanço
“O multilateralismo chega ao seu pior momento desde que foi criado depois da 2ª Guerra Mundial. […] Fora do multilateralismo e da democracia, não chegaremos a lugar nenhum”, completou Lula.
“A falta de reforma nas instituições financeiras limita há décadas um avanço. O Novo Banco de Desenvolvimento assenta sua governança na igualdade de vozes e votos. […] o fortalecimento do uso de moedas locais molda o seu funcionamento”, prosseguiu o presidente brasileiro. “O NDB contribui para uma transição justa e soberana no mundo.” O Banco dos Brics comemorou 10 anos na cerimônia.
“O Brasil espera que o banco financie estudo de viabilidade para um cabo submarino ligando os países do Brics, que contribuirá para nossa soberania e aumento da velocidade na troca de dados”, disse Lula.
Participaram do evento o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, a presidente do Banco, Dilma Rousseff, membros do conselho do NDB, e o ministro das Finanças da Rússia, Anton Siluanov, entre outras autoridades.
Lula participa de Fórum Empresarial dos Brics
O presidente Lula participará da abertura do Fórum Empresarial do Brics, neste sábado, na Praça Mauá, no Rio de Janeiro, às 9h. Neste ano, o fórum abordará temas para o desenvolvimento econômico sustentável, com destaque para estratégias de comércio e segurança alimentar, transição energética, descarbonização, desenvolvimento de habilidades e economia digital, além de financiamento e inclusão financeira.
O encontro é organizado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), coordenadora do Conselho Empresarial do Brics (Cebrics) e da Women’s Business Alliance (WBA), grupos de engajamento do setor privado dos países-membros, durante a presidência brasileira do bloco.
Com informações das agências Brasil, Sputnik e Xinhua