Exercendo a presidência do Brics desde 1º de janeiro, o Brasil divulgou, a partir de documento do presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), Ricardo Cappelli, a posição do Governo Federal de combinar pragmatismo político com visão estratégica, de maneira a que o Brasil possa “consolidar sua liderança como um dos principais articuladores dessa nova ordem multipolar”.
Cappeli observa que “com um olhar específico para os países do Brics, pode-se destacar algumas oportunidades de investimentos e parcerias tecnológicas, tanto de empresas brasileiras em países-membros, quanto destes no Brasil”, e elenca detalhes de cada um dos principais membros do bloco.
Brics: oportunidades na Rússia
Uma das nações mais poderosas do mundo, rica em recursos naturais e com um setor de energia robusto, A Rússia pode possibilitar ao Brasil aprendizados e ganhos tecnológicos, a partir da formação de parcerias estratégicas com empresas daquele país. Cappelli destaca ainda oportunidades de expansão comercial no agronegócio.
“Além do setor energético e do agronegócio, a Rússia apresenta diversas oportunidades de investimento em setores estratégicos, impulsionados por programas governamentais e demandas internas, sob as quais o Brasil pode desencadear promissoras parcerias. Cito como exemplo a necessidade de o governo russo implementar programas focados na melhoria das infraestruturas de transporte e na realização de obras públicas, especialmente na área metropolitana de Moscou.”
“Recentemente, a Apex Brasil publicou o Mapa de Oportunidades, indicando 231 oportunidades comerciais identificadas para o Brasil no mercado russo. Alguns dos setores com maior são: Máquinas e Equipamentos de Transporte – motores e peças automotivas; Produtos Alimentícios: carnes comestíveis, farelo de soja, alimentos para animais e frutas; Celulose; Produtos Químicos – medicamentos e polímeros de etileno”, lista o documento da ABDI.
Índia é hub global de TI
A Índia tem se tornado cada vez mais atraente para a economia brasileira. O país tem concentrado seu desenvolvimento em setores estratégicos como o de tecnologia da informação. Atualmente é a quinta maior economia do mundo, atrás de EUA, China, Alemanha e Japão. E, de acordo com a revista The Economist, deverá apresentar o maior crescimento econômico anual entre os membros do G-20, até 2028.
A Índia é um hub global de TI e serviços de software, com forte presença em outsourcing e desenvolvimento de software, e o Brasil pode aproveitar essas competências, por meio de cooperação e parcerias tecnológicas, para desenvolver startups e seu ecossistema de inovação e avançar em campos estratégicos, como Inteligência Artificial e Big Data.
“Assim como na Rússia, o Brasil pode ser um forte parceiro da Índia no setor de construção e desenvolvimento urbano. Aquele país apresenta inúmeras demandas prioritárias de projetos de infraestrutura, como rodovias, ferrovias, aeroportos, que podem atrair investimentos brasileiros. Além disso, destaco o interesse de a Índia expandir sua capacidade de produção de energia solar e eólica, segmentos que permitem investimentos brasileiros, como também parcerias tecnológicas”, afirma Cappelli.
“Acredito que o Brasil possa avançar ainda mais no setor de Biotecnologia, tendo em vista que a Índia é um dos mais importantes players na produção de medicamentos genéricos e vacinas. Não posso me esquecer de mencionar que a Índia vive um forte período de avanço econômico, que tem impulsionado o crescimento da classe média que, por sua vez, tem sido responsável pelo aumento da demanda por bens de consumo duráveis e não duráveis, abrindo-se um vasto caminho para a expansão de mercado das empresas brasileiras”, ressalta.
China, maior parceiro comercial
Um mercado gigantesco, com oportunidades em tecnologias críticas, setor automotivo, saúde e energias renováveis. Assim é a China. Sua expansão global, como parte da Iniciativa Cinturão e Rota (BRI, também conhecida como Nova Rota da Seda), abre inúmeras oportunidades para investidores brasileiros.
A China oferece diversas oportunidades de investimento e parcerias tecnológicas em vários setores, que podem contribuir para o desenvolvimento industrial e tecnológico brasileiro. “Por exemplo, a China é líder global em Inteligência Artificial, impulsionada pelo forte apoio governamental e investimentos em pesquisa”, atesta o documento da ABDI.
“Assim como a Índia, os setores de biotecnologia e energias renováveis estão em crescimento naquele país, graças aos incentivos governamentais para inovação, e às políticas que incentivam a transição para fontes de energias limpas. Ao se associar a essa estratégia, o Brasil pode obter ganhos tecnológicos importantes.”
“Hoje, o setor de Veículos Elétricos (EVs) chinês está em expansão, com apoio governamental e investimentos em infraestrutura de carregamento. O Brasil tem um enorme potencial para atrair mais investimentos chineses, como os que recentemente desembarcaram no país”, avalia a Agência.
África do Sul tem localização estratégica
O Brasil pode ter oportunidades em mineração, agricultura e energias renováveis na África do Sul. Sua localização estratégica a torna um hub para investimentos no continente africano. “Vislumbro oportunidades para produtos brasileiros dos setores de máquinas e equipamentos de transporte, construção civil, produtos químicos e produtos alimentícios”, afirma Cappelli.
No setor alimentício, o Brasil pode aproveitar oportunidades de expansão de mercado, como também de investimentos em café, carne e frango. No setor da construção, há espaço para diversos produtos, como tintas; ferramentas e talheres; madeira; painéis de fibras; móveis; vidro, entre outros.
“No setor de máquinas e equipamentos, vejo oportunidades para instrumentos mecânicos; geradores e transformadores elétricos; laminadores de metais; máquinas e aparelhos de uso agrícola; máquinas e aparelhos para trabalhar pedra e minério”, enumera o presidente da ABDI.
O setor automotivo abre um leque importante de oportunidades para uma expansão do mercado para produtos brasileiros, como autopeças, pneumáticas e hidráulicas motores para veículos automóveis; pilhas, baterias e acumuladores elétricos; motocicletas; reboques, tratores, veículos de carga.
Oportunidades nos novos países do Brics
Com a expansão do Brics, que agora inclui Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia e Irã, amplia-se significativamente as oportunidades de investimento em diversos setores.
“Na Arábia Saudita, por exemplo, destaco as oportunidades em energias renováveis, visto que aquele país está investindo em projetos de energia solar e eólica, alinhados ao plano Vision 2030”, alinha Cappelli.
“No Egito, em face dos projetos de expansão no Canal de Suez e da política de desenvolvimento urbano, oferece às empresas brasileiras oportunidades em construção civil e logística.”
“Os Emirados Árabes Unidos vivenciam um período de forte investimento em smart cities, inteligência artificial e fintechs, abrindo oportunidades de investimento para o Brasil. Além disso, possuem uma posição estratégica como hub entre Ásia, Europa e África, com infraestrutura portuária e aeroportuária avançada, que podem ser estrategicamente favoráveis para o Brasil.”
“A Etiópia tem apostado no setor de têxtil e confecções, os quais o Brasil pode contribuir por meio de parcerias tecnológicas, para o crescimento desses setores industriais.”
“E no Irã, país que possui vastas reservas de petróleo e gás, há oportunidades para o Brasil por meio de parcerias em exploração e infraestrutura energética”, destaca o presidente da ABDI no documento.
Por Andrea Penna, especial para o Monitor