Brizola e o turismo

171

O Brasil perdeu uma de suas maiores lideranças: o engenheiro Leonel de Moura Brizola. Ousado, teve sempre a dignidade de manter um pensamento coeso, capaz de brigar por melhores condições para os excluídos, desde a Campanha pela Legalidade. Foi, sem dúvida alguma, uma voz ativa na reconstrução da democracia e da retomada do desenvolvimento econômico do país, sempre lutando pelas empresas nacionais.
Acompanhei a carreira de Brizola, desde a guerrilha de Caparaó, onde meu pai esteve ao lado dele, numa forma de lutar por um Brasil melhor. Na volta do exílio, meu pai mais uma vez se aliou ao PDT, como forma de fortalecer as novas configurações do Brasil pós-abertura. Foi aí que comecei a estudar e a admirar a trajetória turística de Brizola.
Trajetória que começa com a criação de uma Secretaria de Estado de Turismo, no Rio Grande do Sul, quando era governador. Pela primeira vez na história recente do turismo brasileiro alguém entendia a importância do setor, com forma de reduzir as desigualdades sociais e promover a brasilidade. Brizola falava nas riquezas naturais do nosso imenso Rio Grande e no patrimônio cultural e educacional, que as manifestações gastronômicas e folclóricas deixam para o país.
Importância vital desempenhou também com a aviação civil brasileira, ajudando a Varig a obter o seu primeiro grande vôo internacional, para o Uruguai. Foi sempre reverenciado por aquela companhia e festejado por seus funcionários, quando embarcava no aeroporto.
No entanto, foi na sua administração do Estado do Rio de Janeiro que sentimos como valorizava, de sua maneira, o turismo. A grande marca brizolista foi a Passarela do Samba, homenagem à maior arte brasileira, construída por Niemeyer. Projeto de cunho social e educacional, acabou com a montagem e desmontagem das arquibancadas na Presidente Vargas e conseguiu fazer do desfile um evento sistematizado e, sobretudo, turístico, de fato.
Nasceram, então, sambódromos em todo o país, copiando de forma real a obra do século do samba brasileiro. Foi ele também que resolveu discutir o turismo, de forma participativa, no Riocentro, com fóruns estaduais de Turismo, o I Congresso de Turismo Receptivo do Rio de Janeiro, o apoio decisivo ao Meet Brazil e a criação de inúmeros cursos de capacitação num convênio inédito com a Fesp.
A preocupação com a segurança turística nasce também com este grande brasileiro. Foi em seu mandato que o Rio ganhou a primeira delegacia especializada em turismo, feita com o apoio decisivo da AHT, de José Eduardo Guinle, e a Bito, de Gherardi.
Resolveu também implantar nas polícias Militar e Civil e no Corpo de Bombeiros os primeiros cursos de capacitação turística para as forças de segurança, coordenados por nós. Estimulou também a criação do atual batalhão de policiamento das áreas turísticas e dos guias mirins do Corcovado, coordenados na época por nós e pela saudosa Neuza Brizola.
O trade turístico tem e terá uma dívida com Brizola. O Brasil e o Rio, que não têm muita memória, devem reverenciá-lo como pai de um projeto novo de educação, os Cieps, e o caminho de uma nova era administrativa, ocupada por políticos como César Maia, Miro Teixeira e Marcello Alencar.
Brizola fará falta ao Brasil que pretende discutir as mudanças que permitam um verdadeiro direito da cidade e do homem, área em que foi grande incentivador. Brizola, municipalista, espero que encontre meu pai, numa outra vida, para que continuem a olhar pelo Brasil, como o fizeram durante todas suas vidas.

Bayard do Coutto Boiteux
Coordenador do Curso de Turismo e do MBA em Turismo da UniverCidade. É doutorando em Direito da Cidade pela Uerj.
www.bayardboiteux.pro.br

Espaço Publicitáriocnseg

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui