De acordo com dados da 12ª rodada nacional da pesquisa Indicador Nacional de Atividade da Micro e Pequena Indústria, realizada pelo Datafolha entre os dias 12 e 28 de março a pedido do Sindicato da Micro e Pequena Indústria (Simpi), referentes ao mês de março, 28% das empresas da categoria operam sem possuir conta bancária de Pessoa Jurídica, com uma incidência ainda mais acentuada entre as microindústrias, atingindo 33%. Essas empresas possuem CNPJ, evidenciando uma desconexão entre a formalização legal e o acesso aos serviços bancários.
O presidente do Simpi, Joseph Couri, ressalta que “a desbancarização evidencia desafios estruturais que as empresas de menor porte enfrentam em meio ao panorama econômico do país. Estamos testemunhando uma parcela substancial de nossas indústrias operando à margem do sistema financeiro formal, o que não apenas impacta sua eficiência operacional, mas também pode resultar em consequências legais indesejadas.”
“As contas bancárias jurídicas são essenciais para facilitar uma série de questões burocráticas, tornando os processos bancários mais ágeis e eficientes para os empresários”, ressalta Joseph Couri. “Além disso, essas contas oferecem taxas de manutenção diferenciadas, personalizadas de acordo com as necessidades e o porte do negócio, resultando em potenciais economias de custos.”
Empresas no município de São Paulo despontam como as mais desbancarizadas, com 33% delas operando sem conta PJ. Essa tendência sugere uma necessidade urgente de medidas que facilitem o acesso das empresas ao sistema bancário.
Ainda segundo o levantamento, entre as empresas desbancarizadas, 87% declaram utilizar contas pessoais em nome de pessoas físicas para movimentar recursos da empresa, destacando uma adaptação criativa, mas precária, aos desafios financeiros enfrentados.
A pesquisa revela que 25% das empresas bancarizadas não possuem contas que oferecem linhas de crédito para capital de giro, apontando para uma lacuna significativa no acesso a recursos financeiros essenciais para a sustentabilidade e crescimento dos negócios.
“A desbancarização dessas empresas é apenas um dos sintomas de diversos obstáculos que as MPIs enfrentam, incluindo entraves jurídicos. Esse sintoma indica um caminho para a sobrevivência; uma das possíveis soluções para ele pode ser o aumento do limite do Simples e a revisão do enquadramento tributário”, destaca Couri.
Além das dificuldades enfrentadas no acesso a contas bancárias jurídicas, a análise do faturamento mensal das empresas desbancarizadas revela um quadro preocupante. Segundo os dados levantados pela pesquisa Simpi/Datafolha, a maioria (69%) dessas empresas fatura até R$ 15 mil por mês, indicando um cenário de micro e pequenos empreendimentos com receitas mais modestas dentro do perfil desbancarizado.
De acordo com o levantamento, metade (49%) das empresas desbancarizadas está concentrada na Região Sudeste, o que sugere uma correlação entre densidade populacional e incidência de desbancarização. 54% dessas empresas estão localizadas no interior dos estados, mostrando que o fenômeno não se limita apenas às grandes metrópoles, mas também afeta áreas menos urbanizadas.
A pesquisa também revelou uma ligação preocupante entre a avaliação dos negócios e a probabilidade de fechamento no curto prazo. No grupo dos desbancarizados, os líderes afirmam que suas empresas têm um risco 72% maior de fechamento em comparação com os bancarizados. Isso indica um maior apoio financeiro para suas empresas diante de imprevistos ou dívidas que poderiam levar ao fechamento das portas.
Já dados do Indicador de Inadimplência das Empresas da Serasa Experian mostram que, em março de 2024, 6,3 milhões de Micro e Pequenas Empresas (MPEs) foram alcançadas pela inadimplência, número que se mantém em estabilidade desde dezembro de 2023. O segmento com o maior número de negócios no vermelho foi o de serviços, que representou 54,2% do total. Comércio também teve uma participação significativa, equivalendo a 37,8%. Em seguida, estava a indústria (7,7%) e a categoria demais (0,4%), que contempla os segmentos primários, financeiros e terceiro setor.
“Os empreendimentos de portes menores são mais suscetíveis à inadimplência. Isso porque, geralmente, possuem menos fluxo de caixa e reservas financeiras reduzidas para arcar com emergências. Além disso, essas empresas também contam com muitos empreendedores de primeira viagem, que ainda não possuem um quadro financeiro totalmente estável dentro do mercado e acabam se endividando. Dessa forma, entendemos que cultivar o controle econômico é fundamental para os donos de negócios e que, para isso, é necessário adequar-se de tempos em tempos, utilizando boas estratégias de planejamento, educação financeira e renegociação de dívidas, quando for o caso”, avalia o economista da Serasa Experian, Luiz Rabi.
As dívidas negativadas somaram R$ 115 bilhões e o tíquete médio de cada débito foi estimado em R$ 2.635,3. Em média, cada pequeno negócio possuía 6,9 contas atrasadas. A maior parte das MPEs com CNPJs negativados eram do Sudeste (52,4%) e, a menor parcela, do Norte (5,5%).
Na visão por UFs, São Paulo (2.024.760), Minas Gerais (592.753) e Rio de Janeiro (559.350) lideraram o ranking com o maior número de empresas inadimplentes.
O mês de março registrou 6,7 milhões de empresas inadimplentes, considerando todos os portes. As dívidas atrasadas somaram R$ 134 bilhões, sendo a média de 7,2 boletos e tíquete médio de R$ 2.785,7 por empresa. Cerca de 55,1% dos negócios com CNPJs no vermelho eram do setor de serviços, 36,2% do comércio, 7,5%, indústria, 0,8% primário, e 0,4%, outros.
Na análise por segmentos nos quais os empreendimentos mais adquiriram suas dívidas, outros – categoria que engloba em sua maioria indústrias, além de empresas do terceiro setor e agronegócio – foi o que se destacou (28,9%).
Na visão por unidades federativas, os três estados do Sudeste lideraram o ranking de empresas inadimplentes em março. Já os estados que menos registraram contas em atraso foram Roraima, Acre e Amapá.