A fim de mitigar o impacto social e econômico decorrente das enchentes no Rio Grande do Sul e assegurar o abastecimento no país, o governo federal, por meio da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), realizou na manhã desta quinta-feira a compra de 263,37 mil toneladas de arroz em leilão para evitar alta nos preços após as enchentes no Rio Grande do Sul.
O arroz foi adquirido pelo valor de R$ 25 o saco de 5 kg. Segundo a Conab, o produto chegará ao consumidor final pelo preço de R$ 20, o equivalente a R$ 4 por quilo.
Para a aquisição, realizada nesta quinta-feira pela Conab por meio de leilão público de compra, serão destinados pouco mais de R$ 1,3 bilhão. O volume adquirido corresponde a 87,79% do total de 300 mil toneladas ofertadas inicialmente.
“Avaliamos que foi um sucesso esse primeiro leilão. O governo nos autorizou a adquirir até 1 milhão de toneladas de arroz, mas não vamos comprar de uma vez só, será escalonado conforme a necessidade. E vamos publicar o edital para comprar as 36 mil toneladas que ficaram restando”, reforçou o presidente da Conab, Edegar Pretto. “Então, estamos comprando essas 300 mil toneladas e vamos avaliar agora o mercado. Se não houver necessidade não faremos mais compras. Mas, enquanto for preciso baratear o preço para os consumidores, nós vamos estar realizando os leilões. Nós queremos garantir o produto bem acessível aos consumidores”.
Procedência
O arroz adquirido nesta quinta será entregue em três etapas, sendo que o prazo mínimo para o fornecimento do produto é de 90 dias e o máximo de 150 dias. A Conab adquire o grão de empresas brasileiras responsáveis pela importação, logo a origem do produto só será conhecida após a apresentação do Documento de Importação. A expectativa é que essa informação esteja disponível em até 15 dias.
Os lotes arrematados foram para os estados da Bahia, do Ceará, do Espírito Santo, de Goiás, do Maranhão, de Minas Gerais, do Pará, da Paraíba, do Paraná, de Pernambuco e de São Paulo. Já os lotes destinados para Amazonas, Distrito Federal, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rondônia, Roraima, Santa Catarina e Tocantins não foram comercializados.
“Nós vamos reofertar os lotes que deram vazio hoje (quinta-feira), com o intuito de que as pessoas conhecendo o leilão, provavelmente teremos mais empresas participando e podendo arrematar. Só posso deixar uma certeza, nenhum comércio que já vende arroz no Brasil vai deixar de receber esse produto na prateleira caso ele queira. A Conab tem a missão de fazer chegar em todas as prateleiras de mercados, pequenos varejos e atacarejos do país”, garantiu o diretor de Operações e Abastecimento da Companhia, Thiago dos Santos.
As regiões metropolitanas previstas no edital foram definidas pela Conab com base em indicadores de insegurança alimentar. O arroz adquirido deverá estar acondicionado em embalagem com capacidade de 5kg, transparente e incolor, que permita a perfeita visualização do produto e com logomarca. Os compradores deverão vender o produto exclusivamente para o consumidor final, com preço máximo de R$ 4 o quilo.
“Essa compra não vai servir para a formação de estoque porque nosso objetivo é que esse produto, uma vez internalizado, seja rapidamente disponibilizado para os consumidores. Aqui a questão de abastecimento e de preço já está colocada e o que nós queremos é que esse produto chegue o mais rápido possível à mesa do povo brasileiro”, explicou o diretor de Política Agrícola e Informações da Conab, Silvio Porto.
Desinformação
De acordo com o presidente da Conab, “também houve uma desinformação, aconselhando consumidores a correr aos supermercados e fazer estoques sem nenhuma necessidade. Isso interferiu no mercado e tivemos uma subida grande nos preços”
Pretto explicou que a decisão de importar arroz neste momento não foi uma “afronta” aos produtores brasileiros. “O governo não está fazendo essa importação por um bel-prazer, é por uma necessidade de proteger, neste momento, o elo mais fraco dessa relação, que são os consumidores”.
Segundo ele, a Advocacia-Geral da União derrubou oito liminares que pediam a suspensão do leilão.
A Conab realizará nos próximos dias outro leilão para a compra de mais 36,63 mil toneladas, para completar a expectativa inicial de 300 mil toneladas a serem adquiridas. Por enquanto, não há previsão de importação de outros produtos pelo governo.
O leilão do arroz será eletrônico, na modalidade “viva-voz”, com utilização do Sistema de Comercialização Eletrônica da Conab (SISCOE) e com interligação das Bolsas de Cereais, de Mercadorias e/ou de Futuros, e está marcado para ocorrer no próximo dia 13, a partir das 9h.
De acordo com o Aviso nº 50, o arroz a ser adquirido será destinado para Amazonas, Distrito Federal, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Piauí, Rondônia, Roraima, Santa Catarina e Tocantins. O documento ainda estabelece que o produto deverá ter aspecto, cor, odor e sabor característico de arroz beneficiado polido longo fino tipo 1 e proíbe a aquisição de arroz aromático.
O estado gaúcho é responsável por 70% da produção nacional de arroz. Com a realização do leilão, o governo pretende vender o alimento em embalagem específica a R$ 4 o quilo. Desta forma, o consumidor final pagará, no máximo, R$ 20 pelo pacote de 5 kg.
Desabastecimento
Para a Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul, não há risco de desabastecimento no país. Os produtores alertam para a qualidade do arroz estrangeiro e a manutenção das condições para consumo.
A tragédia climática no Rio Grande do Sul, além da questão humanitária, também gera um enorme problema logístico, em meio às chuvas e enchentes generalizadas no estado. Os participantes regionais disseram que os motoristas estão preferindo rotas mais curtas e evitando viagens longas devido aos bloqueios nas estradas. Segundo a entidade que administra as rodovias gaúchas, houve bloqueios em pelo menos 25 trechos por causa de desmoronamentos de barreiras, rompimentos de pistas e desabamento de pontes. Mesmo com a perda da produção agrícola e com menos fertilizantes que os agricultores devem aplicar para plantar a safra de soja 2024-25, a expectativa para as próximas semanas é que o frete aumente quando o rio recuar, porque haverá muitos serviços adiados.
Além das estradas, outro ponto de atenção é a logística portuária. As enchentes atingiram a região central do estado, fechando os portos de Pelotas e Porto Alegre, que movimentam commodities agrícolas, incluindo grãos, oleaginosas e fertilizantes. A previsão é que as águas altas se desloquem para o sul, atingindo o porto de Rio Grande.
Os três portos do Rio Grande do Sul movimentaram cerca de 44,8 milhões de toneladas métricas (t) em 2023, com o maior porto do Rio Grande respondendo por pelo menos 42,6 milhões de t, de acordo com dados portuários. Mesmo que os volumes de fertilizantes fossem descarregados conforme inicialmente planeado, o fluxo para as áreas de produção agrícola ficaria comprometido. O principal acesso ao porto, a BR-116, já está parcialmente bloqueado, dificultando o fluxo de caminhões no estado.
O último levantamento mensal da Conab, publicado em 14 de maio, já reduziu a previsão de produção em 300 mil t (trezentas mil), mas os danos causados pelas enchentes ainda não foram contabilizados. As pesquisas de campo da Conab ocorreram entre os dias 22 e 26 de abril, quando o excesso de chuvas já era um problema, mas as enchentes ainda não haviam começado. Quando as enchentes começaram, cerca de 17% das lavouras semeadas ainda não haviam sido colhidas, segundo a Conab. Os agricultores estimam que algumas áreas já perderam 30% do seu potencial produtivo. Relatam também problemas no processo de secagem dos grãos, que podem resultar em maiores perdas, devido a cortes de energia e bloqueios de estradas que dificultam o transporte dos grãos até os armazéns.
Considerando a produção agrícola, os volumes nos silos provavelmente estão encharcados neste momento. E com mais danos esperados, os agricultores do Rio Grande do Sul podem ficar desencorajados a investir em tecnologias e fertilizantes para a safra de soja 2024-25. Além dos investimentos mais baixos, as empresas de fertilizantes do estado apresentam dificuldades. Alguns deles estão transportando seus produtos para instalações de armazenamento distantes dos rios, por exemplo.
Com a grande produção agrícola do estado, o Rio Grande do Sul é um dos principais consumidores de fertilizantes do Brasil. Em 2023, foi o segundo maior volume, atrás apenas do estado de Mato Grosso. Considerando as 45,8 milhões de toneladas de fertilizantes entregues ao Brasil em 2023, o Rio Grande do Sul respondeu por 11pc do volume, o equivalente a 5,1 milhões de toneladas.
Matéria editada às 20h para inserir informações do leilão de arroz e da próxima compra que acontecerá no dia 13/6.
Com informações da Agência Brasil e Brasil 247.
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