Cai superávit, mas commodity garante crescimento de volume exportado

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O saldo da balança comercial de abril foi de US$ 5,9 bilhões, o que levou a um saldo acumulado no primeiro quadrimestre do ano de US$ 16,4 bilhões, inferior ao registrado em igual período de 2018 que foi de US$ 18,2 bilhões. A queda no saldo é explicada principalmente pela piora na balança comercial com a Argentina que passa de superavitária para deficitária, uma perda de US$ 3,1 bilhões, seguida da perda com a União Europeia (queda de US$ 1,4 bilhões entre o superávit do primeiro quadrimestre de 2019 e o de 2018) e da China, perda de US$ 900 milhões. Em sentido oposto, o déficit registrado com os EUA em 2018 passa para um superávit de US$ 500 milhões no acumulado até abril de 2019 e aumenta em US$ 900 milhões, o superávit com o Oriente Médio.

Observa-se que a piora do saldo com a China em relação ao resultado com os EUA está associado a um recuo das importações oriundas do mercado estadunidense em 3,5%, enquanto as importações chinesas aumentaram 27%, na comparação do primeiro quadrimestre de 2018 e 2019. Nesse mesmo período as exportações brasileiras para a China aumentaram em 10,3% e para os EUA, em 9,3%.

Em termos de valor, tanto as exportações como as importações brasileiras na comparação mensal ou quadrimestral registraram queda. No caso do quadrimestre a queda foi de 3% nas exportações e de 0,8% nas importações. No entanto, os dados dos índices de preços e volume mostram que essa retração é explicada pelos preços, pois os volumes aumentaram nas duas bases de comparações. As exportações cresceram 6,4% e as importações 2,6% entre os meses de abril, depois de terem recuado entre os meses de março de 2018 e 2019. No acumulado até abril, as importações se mantêm estagnadas e as exportações aumentaram 3,4%.

A análise desagregada das exportações mostra que o crescimento em volume das exportações é explicado pelo desempenho favorável das commodities, que aumentou 13,2% na comparação mensal e 12,2% entre os dois primeiros quadrimestres de 2018 e 2019. As exportações de não commodities recuam em ambas as comparações e no acumulado até abril cai 7,3%. Observa-se que a queda nos preços das commodities atinge as principais exportações brasileiras, exceto o minério de ferro que teve aumento de 4,1 % entre o acumulado do ano até abril de 2018 e 2019. No caso do aumento no volume exportado, a liderança coube ao grupo de petróleo e derivados (31,8%), seguido do complexo soja (13,8%).

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O comportamento dos preços é refletido nos termos de troca que caíram 2,6% na comparação entre os meses de abril e 5,5% na comparação dos primeiros quadrimestres de 2018 e 2019. trimestres. Quando se destaca a série mensal dos termos de troca é registrado um aumento de 3% entre janeiro e abril de 2019 que é liderado pelo preço do minério e do petróleo e, mais recentemente pelo preço das carnes. No entanto, como ressaltado, a melhora desses resultados ainda não assegurou um aumento nos termos de troca em relação ao primeiro quadrimestre de 2018. Achamos pouca provável, no entanto, que esses aumentos levem a uma nova escalada de elevação nos preços das commodities.

 

Índices de preços e volume agregados e por tipo de indústria – O mês de abril trouxe um fato novo. Após registrar sucessivas quedas no volume exportado e importado, exceto em janeiro, na comparação mensal entre 2018 e 2019, as exportações da indústria de transformação aumentaram 6,5% e as importações 2,5% no mês de abril. Observa-se que as variações são iguais com ou sem as plataformas de petróleo e, logo, essas não influenciaram o resultado do mês de abril. As exportações da indústria extrativa lideraram o desempenho dos setores, com aumento de 17,6% e as da agropecuária cresceram 2,3% com a redução no volume embarcado do complexo soja.

A melhora do desempenho exportador da indústria de transformação, porém, não foi suficiente para reverter os resultados negativos das exportações e importações do setor na comparação do acumulado do ano até abril de 2018 e 2019. As exportações recuam em 4% e as importações em 0,4%. As exportações da indústria extrativa lideraram as exportações com aumento de 19,5%, seguida da agropecuária (16%). Nas importações a liderança passou para a agropecuária (7,6%) seguida da extrativa (4,6%).

O desempenho favorável das exportações da indústria de transformação em abril é explicado pelo aumento do volume exportado dos bens de capital, bens de consumo não durável e bens intermediários. Os bens duráveis onde se inclui o setor automotivo continua em queda. Nesse caso, as exportações das máquinas agrícolas (bens de capital), tubos de aço (bens intermediários), "demais manufaturados" (uma hipótese serem bens de consumo não duráveis) confirma as observações antes feitas. Quando se analisa, porém, a variação entre os quadrimestres, todas as categorias registram queda, exceto os bens intermediários, sendo que a maior queda se refere às exportações de não duráveis – 33,3%.

O baixo dinamismo da indústria de transformação refletidoem sua taxa de crescimento das exportações se repete nas importações. Exceto pelos bens de consumo não duráveis e os bens intermediários, todas as categorias de uso queda entre os meses de abril de 2018 e 2019 e na comparação entre os quadrimestres, as importações caem 0,4% e somente bens de capital (1,5%) e bens de consumo não duráveis (3,4%) registraram aumento. O resultado não surpreende, em especial, na indústria de transformação onde as trocas são majoritariamente de caráter intra-indústria. Se as exportações do setor automotivo caem, caem também as importações do setor.

A diferença do comportamento entre o setor agropecuário e o da indústria de transformação em termos de sinalização via indicadores de comércio exterior. Na comparação mensal, as importações de bens intermediários aumentam na indústria de transformação e caem no setor de agropecuária. Os bens de capital recuam na indústria de transformação e aumentam na agropecuária. Os índices sugerem, portanto, que o nível de atividade está crescendo na indústria de transformação e recuando na agropecuária. Ao mesmo tempo, porém, a indústria deve ter mais capacidade ociosa e não requer investimentos para aumentar sua capacidade produtiva. Na comparação entre os quadrimestres de 2018 e 2019, o aumento nas importações de bens de capital da indústria de transformação confirma esse resultado. Ao mesmo tempo, a queda na compra de bens intermediários indica que o mês de abril seria uma indicação de uma possível reversão na tendência de queda de importações de bens intermediário e do nível de atividade.

Em síntese, as exportações brasileiras repetem o mesmo comportamento de anos anteriores, onde o crescimento das vendas externas do Brasil depende do setor agropecuário e da indústria extrativa. Além disso, os dados de importações não sinalizam uma recuperação imediata da indústria de transformação.

Por último, o comportamento da taxa de câmbio real efetiva impacta, em especial, a indústria de transformação. No entanto, a percepção dos agentes que operam no comércio exterior que esses movimentos têm sido muito influenciados por expectativas seja de caráter doméstico (reformas) ou internacional (guerra comercial EUA e China) levam a comportamentos de "cautela". Nesse cenário, tanto as exportações e as importações da indústria de transformação são afetadas. Num cenário de incertezas, as decisões de exportar e importar que levam em consideração perspectivas não imediatistas e não lidam com movimentos especulativos tendem a ser de "cautela" e se traduzem em menos compromissos de exportações e importações.

O recrudescimento da guerra comercial entre os EUA e a China no começo do mês de maio suscita questões sobre o impacto nas exportações brasileiras. O tema ganha relevância, em especial, quando uma parte dos produtos que a China planeja elevar as tarifas são produtos agropecuários que o Brasil é exportador, como soja e carnes. Ganhos pontuais podem ocorrer, mas dois pontos devem ser ressaltados. Primeiro, que o acirramento da guerra comercial pode levar a uma retração do comércio mundial, o que prejudica a todos os países. Segundo, na mesa de negociações, é mais provável que a China ceda preferências para os EUA na área agropecuária, o que pode ter um impacto negativo nas exportações do Brasil.

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