Na divulgação do balanço do terceiro trimestre desse ano, no qual a caixa revela que obteve lucro de R$ 3,2 bilhões no 3T21 na comparação com o mesmo período de 2020, o banco informa que é o “único da América do Sul com o maior rating ESG Social atribuído em ‘relações com a comunidade, acesso social, preços acessíveis’, elevado de 2 para 4 [+], pela Fitch ratings”. Entretanto, na prática a Caixa deixa a desejar. Estudo feito a pedido da Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal para o Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese) revela que a taxa de 3,99% ao mês cobrada pela CEF na recém-lançada linha de microcrédito para trabalhadores informais é muito superior aos juros cobrados pelo próprio banco para empréstimo pessoal e outros tipos de financiamentos a pessoas físicas. O levantamento mostra ainda que em outras modalidades de crédito a estatal cobra taxas que variam de 0,99% até 2,9% ao mês.
Segundo o Dieese, a comparação pode ser feita com os juros para crédito consignado (a partir de 0,99%), crédito pessoal não-consignado (1,8%), penhor (1,99%) e CDC (a partir de 2,77%). O levantamento da instituição mostra também que, para clientes do banco, até os juros do cheque especial e para parcelamento de fatura do cartão de crédito (a partir de 2,9%) estão menores que a taxa de 3,99% cobrada de quem sequer tem renda formal.
A analista do Dieese, Mariel Lopes, explica que o limite para a linha de financiamento com juros mensais de 3,99% é limitado a R$ 1 mil – menor que o salário-mínimo (atualmente, R$ 1,1 mil). Segundo a economista, o crédito é direcionado a usuários do Caixa TEM (aplicativo desenvolvido para o pagamento do auxílio emergencial) e que não tenham renda vinculada a outros benefícios sociais, como o Bolsa Família.
“Democratizar o crédito seria oferecer financiamento a juros mais baixos e, não, o contrário; inclusive, por se tratar de um banco público executor de políticas públicas”, afirma Mariel Lopes. “No fim das contas, a Caixa está reproduzindo uma distorção de mercado: cobrando taxas mais elevadas justamente da população que tem mais dificuldade de pagar a dívida contraída”, frisa.
Para o presidente da Fenae, Sergio Takemoto, “é uma extorsão, considerando que o público deste tipo de crédito é composto por informais, desempregados ou ex-beneficiários do auxílio emergencial. São pessoas que estão tendo que fazer empréstimo para comer, para tentarem sobreviver, e, não, para investir. Ou seja: não se trata de microcrédito mas, sim, de endividamento”.
Takemoto chama a atenção também para o fato de que a parcela de famílias endividadas atingiu um novo recorde em outubro. De acordo com a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic) – realizada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) – o número de brasileiros endividados cresceu pelo 11º mês seguido, chegando a 74,6% das famílias.
De acordo com dados recentes divulgados pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), só no ano passado houve 15,36 milhões de demissões no país. O cadastro também aponta que o saldo de empregos formais criados em 2020 ficou em 75,9 mil, o que representa quase metade das 142,7 mil vagas anunciadas pelo Ministério da Economia para o referido ano. “Ao invés de criar empregos a partir de políticas públicas estruturantes e sustentáveis, o que este governo faz é endividar ainda mais uma população já massacrada por esta crise econômica sem precedentes em nosso país”, ressalta o presidente da Fenae.
Da Redação com informações da Fenae e do BancáriosRio