Cancelada reunião da Celac devido à crise entre Colômbia e EUA

Encontro sobre migrantes tinha sido marcado para quinta-feira; no Brasil, Governo vai montar posto de acolhimento para deportados

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Xiomara Castro, presidente de Honduras (Foto: Twitter)
Xiomara Castro, presidente de Honduras (Foto: Twitter)

Honduras cancelou uma reunião de emergência da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), que tinha sido convocada para depois de amanhã, devido à crise diplomática entre a Colômbia e os EUA. O Ministério dos Negócios Estrangeiros de Honduras confirmou a suspensão da reunião da qual participaria pessoalmente o presidente colombiano Gustavo Petro.

As informações são da Agência Brasil, citando a Lusa.

Xiomara Castro, presidente do país, tinha convocado no domingo os líderes da Celac para um encontro no qual iriam discutir temas como “migração, ambiente e unidade latino-americana e caribenha”.

“Honduras, no exercício da Presidência rotativa da Celac, cancelou a reunião extraordinária de chefes de Estado e de Governo”, informou o ministério, em comunicado.

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O ministério dos Negócios Estrangeiros de Honduras afirmou, no comunicado, que o país tem promovido o debate sobre “os migrantes e os seus direitos, tanto em trânsito para o país de acolhimento quanto no âmbito das leis dos EUA, assim como os efeitos e o impacto social e econômico em toda a região”.

As deportações em massa de migrantes iniciadas pelos EUA constituem “preocupação comum que deve ser abordada de forma objetiva e responsável”, afirmou o ministério.

A reunião da organização foi convocada depois de o presidente dos EUA, Donald Trump, ter anunciado a aplicação de tarifas, restrições de vistos e outras medidas de retaliação contra a Colômbia.

Ontem, o Governo Federal anunciou que vai montar um posto de acolhimento humanitário para receber os brasileiros deportados. A unidade vai funcionar no aeroporto internacional de Confins, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, em Minas Gerais, que é o terminal para onde os voos fretados pelo governo norte-americano estão sendo destinados ao longo dos últimos anos.

A decisão foi tomada durante reunião, no Palácio do Planalto, coordenada pelo presidente Lula, com a participação de diversos ministros e integrantes das Forças Armadas.

“Conversamos com o presidente e fomos autorizados a iniciar as tratativas para estabelecer, em Confins, um posto de atendimento humanitário, tendo em vista que poderemos ter mais voos previstos. Toda nossa expectativa é trabalhar para garantir que famílias não venham separadas e que esses passageiros tenham boas condições de água, alimentação e temperatura, que me parece que foi a coisa mais prejudicial no processo desse voo”, afirmou a ministra dos Direitos Humanos e Cidadania, Macaé Evaristo, em declaração a jornalistas no Palácio do Planalto, após a reunião.

A mobilização do governo ocorre dias após um voo de deportação com 88 brasileiros, oriundo dos EUA, ter sofrido uma série de problemas, com passageiros algemados o tempo inteiro, relatos de agressões por parte dos agentes americanos, privação de comida e de acesso a banheiro, além de problemas técnicos que prejudicaram o funcionamento do ar-condicionado e obrigaram a aeronave a fazer paradas não previstas.

“Estamos agora trabalhando para encontrar soluções e formas adequadas para que cheguem ao Brasil os brasileiros repatriados, mas dentro da atenção absoluta ao respeito aos direitos humanos, as condições necessárias de viagem e atenção necessária aos passageiros nesses voos”, destacou o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira. Segundo explicou, por meio dos canais diplomáticos, o Itamaraty vai procurar o governo norte-americano para padronizar as operações de deportação com tratamento digno. Ontem (27), o encarregado de negócios da Embaixada dos EUA no Brasil, Gabriel Escobar, se reuniu com autoridades do Itamaraty para prestar esclarecimentos sobre os procedimentos dessa última deportação.

Em média, ocorrem de 12 a 14 voos de deportação de brasileiros dos EUA por ano, de acordo com informações do próprio Governo Federal. Como a maioria dos cidadãos deportados é oriunda de Minas Gerais, Confins passou a ser o terminal de destino usado nessas operações. A ideia do Governo Federal é estabelecer, no posto de atendimento humanitário do aeroporto, diversos serviços de acolhimento, incluindo políticas de inclusão no mercado de trabalho, informou a ministra Macaé Evaristo. Não há previsão de quando essa unidade estará em funcionamento no local.

Já segundo Rodolpho Damasco, sócio e head do Private Offshore da Nomos Investimento, o recente aumento das tensões diplomáticas entre os EUA e países como Brasil e Colômbia evidencia que o governo Trump está cumprindo à risca o discurso que o levou à Presidência: a implementação de uma política de imigração dura e a utilização do peso econômico dos EUA como ferramenta de negociação.

“A intensificação das deportações e a postura mais rígida nas negociações demonstram que Trump está disposto a reforçar essa abordagem, sinalizando que sua política migratória vai além de palavras de campanha. A deportação de imigrantes ilegais se tornou uma prioridade e uma ferramenta política para reafirmar a soberania americana em questões de imigração. A utilização do poder econômico como arma estratégica também é um ponto central dessa dinâmica. No caso da Colômbia, as ameaças de tarifas e sanções econômicas forçaram uma mudança de postura, com o país aceitando os voos de deportação. Essa tática reflete o modus operandi do governo Trump: alinhar ações internas a pressões econômicas externas para garantir que suas diretrizes sejam seguidas, independentemente das reações internacionais.”

Ainda segundo ele, o Brasil, por sua vez, se viu em uma posição delicada com a chegada de um voo que gerou forte reação do governo brasileiro.

“No entanto, Trump mantém sua coerência: as deportações em massa, amparadas por acordos anteriores como o de 2017, agora se tornam uma marca mais evidente de sua gestão, com um tom duro que reforça sua promessa de ‘colocar a América em primeiro lugar’. Essa postura de Trump, embora previsível dentro de sua retórica, coloca os países latino-americanos diante de um desafio diplomático. Eles precisam entender como equilibrar o tema imigração com as relações econômicas vitais em um cenário de crescente pressão dos EUA.”

Com informações da Agência Brasil, citando a Lusa

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Carolina Jezler Müller
Internacional | Dinheiro
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