Carestia, reações e consequências!

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Brasileiro com dinheiro no bolso (Foto: Marcos Santos/USP Imagens)
Brasileiro com dinheiro no bolso (Foto: Marcos Santos/USP Imagens)

Auxílio Brasil: quem pegar consignado pagará 98% de juros

 

A persistente inflação de alimentos e energia na Europa já mexeu com o resultado eleitoral legislativo na França, tombou o poderoso primeiro ministro inglês, deixa produtores rurais holandeses furiosos e, fora do velho continente, coloca a população faminta atacando o palácio presidencial e exigindo renúncia das autoridades do Siri Lanka. Isso parece repetir as palavras de Vladimir Lenin, para quem “a inflação é um fenômeno revolucionário”.

No Brasil, segundo o Dieese, em junho último, o tempo médio de trabalho necessário para adquirir os produtos da cesta básica foi de 121 horas e 26 minutos, maior do que o registrado em maio, de 120 horas e 52 minutos. Em junho de 2021, a jornada necessária ficou em 111 horas e 30 minutos.

Quando se compara o custo da cesta e o salário mínimo líquido, ou seja, após o desconto de 7,5% referente à Previdência Social, verifica-se que o trabalhador remunerado pelo piso nacional comprometeu em média, em junho último, 59,68% do rendimento para adquirir os produtos da cesta, pouco maior do que o de maio, quando o foi de 59,39%. Em junho de 2021, quando o salário mínimo era de R$ 1.100,00, o percentual era de 54,79%.

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Nesse contexto, os trabalhadores labutam porque necessitam, não porque gostam. Dito de outra forma, a centralidade que o trabalho ocupa na vida é uma exigência do capital e não uma reivindicação dos trabalhadores. A destinação humana ao trabalho em seu enquadramento capitalista não tem nenhum sentido porque se apresenta como ausência de sentido. A centralidade da vida individual e coletiva subordinada ao trabalho em seu enquadramento capitalista é, portanto, desprovida de sentido, repito. Viver para trabalhar e trabalhar para viver empobrece a condição humana nessa carestia generalizada.

Pior é ter que recorrer ao endividamento. Vejamos a recente aprovação pelo Congresso da financeirização de benefícios sociais. Como exemplo, cito o empréstimo consignado para beneficiários do Auxílio Brasil: para quem recebe R$ 400, as parcelas podem ser de R$ 160 (40%). Empréstimo de até R$ 2.034. Paga em 24 parcelas de R$ 160, representando um valor total de R$ 3.840. Total só de juros: R$ 1.804. Taxa de juros mensal: 5,85%. Taxa de juros anual: 98%. Uma verdadeira agiotagem, às custas da miséria alheia!

Não custa lembrar que a população mais pobre, via de regra, enxerga essa possibilidade como forma de comprar a cesta básica do mês, ou pagar as contas de luz atrasadas. Vamos empurrar os mais pobres para um poço ainda mais sem fundo!

 

Ranulfo Vidigal é economista.

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