A final de Roland Garros do último domingo foi épica. Disputada entre os dois maiores jogadores da atualidade, o italiano Jannik Sinner e o espanhol Carlos Alcaraz, números 1 e 2 do mundo, respectivamente, a partida durou intermináveis 5 horas e 29 minutos, tornando-se a final mais longa dos 134 anos do Grand Slam parisiense. O jogo aconteceu pouco mais de um mês depois do lançamento da minissérie documental Carlos Alcaraz: do meu jeito, uma produção que suscitou grande discussão entre os que acompanham o esporte. Isso porque o tenista espanhol permitiu que a equipe da Netflix o acompanhasse em uma jornada de treinos, intimidade e competições mundo afora, nos últimos três anos. Não seria prematuro permitir tanta exposição ainda no início de uma carreira tão promissora?
Mas a discussão em torno da minissérie não se deu só por isso. Quando o espanhol atingiu o posto de número 1 do mundo mais jovem da história, ao vencer o US Open em 2022 com apenas 19 anos, as comparações com o compatriota Rafa Nadal foram inevitáveis – e, de lá para cá, só cresceram. Não sem motivo. A carreira de ambos até aqui é muito parecida, inclusive em número de títulos de expressão na mesma faixa de idade. A diferença – e daí veio a grande polêmica do documentário – é que Alcaraz deixa claro que tem o objetivo de ser o maior da história, mas, como insinua o título da minissérie, tem que ser do jeito dele, sem abrir mão do lazer e do tempo com os amigos.
Esse é o principal ponto do documentário (de três curtos episódios) e dos questionamentos que vieram acompanhados do lançamento da minissérie: os três maiores da história – Roger Federer, Rafael Nadal e Novak Djokovic – sempre colocaram o tênis acima de tudo e se destacaram pela obstinação e disciplina para atingir os resultados mais incríveis em todos os tempos. Seria possível repetir o feito deles com uma receita, digamos, mais suave?
Carlos Alcaraz pretende provar que sim, que é possível passar uma semana em Ibiza no meio da temporada sem prejudicar sua performance. “Quero ser o maior da história e me sentar à mesa com os três, mas não sei se estou disposto a fazer de tudo para atingir isso”, reconhece Alcaraz. Nadal, talvez o atleta mais competitivo que o esporte já produziu, coloca em dúvida essa opção: “Se você acha que está se sacrificando muito, é provável que não vai conseguir, pois acaba se cansando cedo demais”.
Por meio de entrevistas – com o protagonista, familiares, tenistas e toda a entourage que cerca o número 2 do ranking –, o documentário mostra que Carlitos não está disposto a arcar com o custo que Federer, Nadal e Djokovic bancaram para dominar o esporte por duas décadas.
Como mostra a minissérie, essa escolha do jovem tenista tem produzido pequenos atritos entre ele e seus principais pontos de apoio – seu técnico, Juan Carlos Ferrero, e seu empresário, Albert Molina. Durante 1 hora e 55 minutos de projeção, a gente percebe que os dois não concordam com algumas atitudes do tenista, que, diferente do “big 3”, não vive obcecado pelo esporte 24 horas por dia.
Duelo entre Alcaraz e Sinner
No momento em que Carlos Alcaraz: a mi manera (título original) foi lançado pela Netflix, Jannik Sinner parecia se distanciar um pouco de Alcaraz, que ocupava a terceira posição no ranking. O italiano havia emendado dois Grand Slams seguidos, o US Open 2024 e o Australian Open 2025, e parecia inabalável na liderança do ranking, ganhando jogos de maneira mais consistente que o adversário. Nos últimos cinco confrontos entre eles, no entanto, o espanhol ganhou todos – incluindo três finais: Roland Garros, ATP 1000 de Roma e ATP 500 de Pequim.
Por enquanto, Sinner ainda é o número 1 do mundo, mas Alcaraz, 22 anos recém-completados, já coleciona cinco títulos de Grand Slam: é bicampeão de Roland Garros (2024 e 2025), bicampeão de Wimbledon (2023 e 2024) e campeão do US Open (2022). Sinner, quase dois anos mais velho, tem três: dois Australian Open (2024 e 2025) e um US Open (2024).
Pela dominância dos dois no circuito atual e, tendo em vista a batalha épica do último domingo, parece que o duelo entre o espanhol e o italiano ainda vai perdurar por muitos anos, assim como foi com o “big 3”. Enquanto está dando certo, não custa nada relaxar uma semaninha em Ibiza com os amigos antes de tentar, mês que vem, o tricampeonato em Wimbledon. Ele sabe, no entanto, que Jannik Sinner, mais do que nunca, estará treinando para derrotá-lo. Quem está certo? Só o tempo dirá.
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