O ano de 2025 começou, de fato, neste dia 20 último, quando tomou posse o novo mandatário americano, que começou impondo uma série de novas regras ao capitalismo global, em seu atual estado estacionário e de crise de superprodução. Claramente, Trump busca restabelecer a taxa de lucros na principal economia do planeta, aquela que domina a moeda de curso internacional – o dólar – e detém o maior arsenal atômico do G-7.
No meio dessa conjuntura de alta instabilidade, o governo brasileiro busca se recuperar de uma queda de popularidade, em decorrência de descuidos comunicacionais e políticos relacionados ao lançamento atabalhoado do controle do Pix pela área econômica. O clima de revolta dos tempos do congelamento dos recursos da caderneta de poupança (anos 1990) ou do movimento pela redução da tarifa de transportes nas capitais, em 2013, foi usado, com maestria, pela bancada federal de oposição ao governo.
Um problema concreto que preocupa, de fato, as famílias brasileiras é a carestia e o custo de vida em patamar incompatível com o padrão salarial da grande maioria dos ganhos efetivos da força de trabalho brasileira ocupada. Enquanto o Salário Mínimo Nacional é de R$ 1.518, pelos dados do Dieese a cesta básica na cidade do Rio de Janeiro é de aproximadamente R$ 780, portanto, superando metade do valor do SM.
Contribui decisivamente para essa incômoda realidade, o preço da alimentação. Sua variação nos índices oficiais, em 12 meses, atinge quase 10%, dos quais 1/3 vem da contribuição de choques de oferta associados ao desequilíbrio climático, com secas e enchentes muito frequentes e de porte incontrolável. Outro item que preocupa é o preço dos aluguéis. Fechando a conta, temos o choque de preços das tarifas de transportes.
Pesquisa do Instituto Gerp recente revela que, nas famílias com renda de até 1SM, cerca de 57% desaprovam a gestão federal atual. Por outro lado, a faixa entre 25 e 34 anos – de adultos em pleno mercado de trabalho – a desaprovação bate 59%. Para recuperar terreno, o governo de plantão precisa focar na economia popular.
A captura do orçamento público pelo segmento rentista da economia dificulta a geração de recursos para colocar em prática políticas públicas de expansão da base produtiva industrial e de serviços de alta complexidade, na medida em que os encargos da Dívida Pública – atingindo a volumosa cifra de R$ 1 trilhão – impõem uma camisa de força, fruto do tripé macroeconômico surgido no pacto que vigora desde o início dos anos 2000.
Ranulfo Vidigal é economista.