Neste (9), às 15h, o Centro Cultural Justiça Federal (CCJF) inaugura três novas exposições de arte contemporânea: Infinitos • Pinturas Recentes de Maria Lynch, da artista visual Maria Lynch; Espaços Quânticos, do artista e cineasta César Oiticica Filho; e Lona Preta: o MST no Olhar de Francisco Proner, do fotojornalista Francisco Proner.
As mostras ocuparão o primeiro andar de galerias e o gabinete de fotografia do CCJF, centro cultural localizado no Quadrilátero Cultural, na Cinelândia, centro do Rio de Janeiro. As mostras se estendem até dia 16 de fevereiro de 2025. A curadoria de Infinitos e Lona Preta é de Evandro Salles, curador do CCJF.
Maria Lynch, 20 anos de pintura
A artista Maria Lynch completa em 2024 seus 20 anos de intensa atividade artística. Dedicando-se fundamentalmente à pintura e suas derivações, tem na cor, seu objeto preferencial de articulação, manipulação e organicidade. Nessa mostra, reúne um recorte de sua produção recente, ou mesmo recentíssima: pinturas produzidas de 2021 até os dias de hoje. Nelas, a questão da estrutura do espaço pictórico construído através da cor e suas relações e interpenetrações se apresenta como formador de sua sensibilidade e objeto maior de seu interesse plástico.
Ao comentar sobre seu trabalho, em particular as obras da mostra, Infinitos, a artista diz buscar levar o espectador a uma experiência de desconexão com o que se imagina ser o real, fazendo-o perceber, de forma sutil e sensível, que não é possível ter o controle de tudo.
“Acredito muito na função da arte como um lugar de transformação, que impacta e adentra o outro. A ideia é fazer com que a pessoa sinta que está para além do ser da civilização, que nos afasta do que somos; argamassas de sensações e devires talvez defina um pouco essa nossa experiência de vida. Enquanto isso, ficamos tentando caber em algo que nos determina, mas não somos seres determinados”, pontua. Sobre o processo de construção artística ao longo da carreira nas artes visuais, Maria, que cursou mestrado em Londres e fez algumas residências artísticas, uma delas em Nova Iorque, conta que, ao fazer uma retrospectiva do caminho percorrido, passou a considerar a totalidade do processo, “os dissabores e as conquistas”, com destaque aos momentos desafiadores que geralmente levam a um aprendizado “mais potente”. “A construção do processo artístico é pensar junto à existência, ela se faz presente em cada instante, inclusive no decidir fazer de cada gesto. São acontecimentos encarnados que eu brinco”, ressalta.
Fusão inovadora entre mídia fotográfica, pintura e luz
Desde o ano de 2020, durante a pandemia, o artista César Oiticica Filho pesquisa e experimenta uma mescla inusitada de materiais e diferentes meios: inicialmente trabalhando a cor através da fotografia, percebe ao longo de sua pesquisa que isso o colocaria em diálogo direto com a pintura, articulando cor e luz. Daí, nasce o que o artista batizou como técnica de “pintura quântica”, que mistura impressão fotográfica em tecido com pintura. Essa é a trajetória seguida para chegar na mostra inédita Espaços Quânticos, processo que se iniciou com outra exposição apresentada no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro em 2018.
Assim descreve o artista: “Depois de começar o que chamo de pintura quântica e fazê-la por algum tempo, de diferentes maneiras, cheguei a conclusão que ainda faltava uma camada invisível mas até por isso, muito importante. Entendo que seja a própria energia quântica desses trabalhos”, explica. Conta que além de montar um ambiente criativo de produção, se utilizando de mantras e artifícios para alcançar um nível de consciência mais elevado, imaginou criar esses espaços quânticos em que o espectador se envolve com as obras não apenas pela cor, forma etc., mas também por outras esferas mentais “para além da coisa estética”.
“É o sentir em uma outra vibração dentro do nosso próprio corpo, ativando nossos saberes e práticas de cura, em um chamado aberto de retorno ao corpo”, destaca Oiticica ao informar que, pelo menos uma vez na semana, enquanto a exposição estiver no CCJF, o público poderá participar no espaço da mostra com uma prática diferente de yoga, meditação e outras disciplinas de transcendência. César Oiticica Filho, neto de José Oiticica Filho, dedica “Espaços Quânticos” ao legado do avô, que, há 60 anos, já articulava as duas linguagens, pintura e fotografia, como parte do mesmo processo criativo. “Acredito que esse trabalho seja fruto, também, da energia criativa gerada pelas criações dele”, enfatiza.
A função social da arte, democracia e a questão fundiária no Brasil
De acordo com o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), fundado em 1982, LONA PRETA é mais do que uma barraca, morada de milhares de pessoas que lutam pela reforma agrária no país. “É um rito de passagem, um símbolo presente na transição entre o acampamento e o assentamento das famílias sem terra, o caminho para a conquista da terra. É o retrato da luta contra o latifúndio, a segregação e as injustiças sociais que castigam esse país”.
O nome Lona Preta, cercado de significados implícitos, inspira a mostra do jovem fotógrafo Francisco Proner que tem nas questões sociais e políticas seu maior interesse. As fotografias da mostra Lona Preta: o MST no olhar de Francisco Prone começaram a ser feita no início de 2022, período pré-eleições presidenciais, em visita que fez a um acampamento do MST, em Cascavel (PR), berço do movimento.
O fotógrafo passa então a documentar a a luta e a vida destas pessoas pela democratização das terras brasileiras e pelas mudanças sociais no país. Percorrendo os acampamentos do MST por todo o país, Proner espera com essa documentação despertar um maior entendimento sobre os objetivos e como os movimentos sociais se organizam face às desigualdade históricos de nosso país. “Sejam desigualdades territoriais, sociais, étnicas ou até uma sobreposição destas todas, me interesso em registrar como as pessoas conseguem resistir e encontrar felicidade na luta pelos seus direitos. Acho que espaços como este (para mostrar tal trabalho) são essenciais para possivelmente despertar mais interesse nesse conflito agrário que acontece pelos interiores do Brasil.”, explica.