Cenário desafiador

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Milhares de pessoas tentam se candidatar a vagas de emprego no Rio de Janeiro ( foto de Vitor Abdala, ABr)
Milhares de pessoas tentam se candidatar a vagas de emprego no Rio de Janeiro (foto de Vitor Abdala, ABr)

Recuperação do trabalho veio acompanhada de forte deterioração da qualidade do emprego

 

Em um ano de eleições presidenciais, guerra na Eurásia, choque de preços de alimentos, custo crescente das fontes energéticas, e agora, alta nos juros internacionais, o país vive um cenário de destruição ambiental, estagnação econômica, carestia, concentração da renda e da propriedade e forte deterioração de indicadores sociais.

Lá fora, após as reuniões do Fundo Monetário Internacional (FMI), houve uma mudança coordenada por parte dos bancos centrais na direção de sinalizar maior preocupação com a inflação global e a necessidade de ajustes em suas políticas monetárias. Leia-se, alta de juros e redução de liquidez.

Neste contexto, o valor dos títulos das entidades corporativas cai. Especialistas apontam que as evidências históricas mostram os problemas relacionados às firmas-zumbis (mortas-vivas), muito dependentes de financiamento bancário por longos períodos para sobreviver. Isso fragiliza a qualidade do endividamento empresarial, implicando aumento de custos e riscos para o sistema financeiro e para a economia real.

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Mas não para por aí. O Brasil tem hoje 8 famílias, a cada 10, endividadas, que transferem, em média, 30% do que ganham para juros e amortização aos credores. Mesmo assim o Banco Central independente, mas capturado pelo rentismo, não se sensibiliza com o sofrimento dos brasileiros e sobe, aceleradamente, os juros básicos da economia, engordando os lucros da malta bancária e prejudicando a produção e o emprego.

No mundo, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) já previa que o desemprego global alcançaria 205 milhões de pessoas em 2022, um aumento de 18 milhões em relação ao nível de 2019. Mulheres e jovens são as maiores vítimas da depressão do mercado de trabalho.

No Brasil, este ano, a modesta recuperação na taxa de participação da população economicamente ativa no mercado de trabalho veio acompanhada de forte deterioração da qualidade do emprego. O IBGE estima que, das ocupações existentes, 38,3 milhões são informais, e que 6,6 milhões trabalham menos do que desejariam.

O desemprego atinge 12 milhões de pessoas, e os trabalhadores subutilizados (desempregados + desalentados + subutilizados) chegam a 27,6 milhões, quase 1/4 de toda a força de trabalho. A recuperação do emprego formal exaltada pelo Governo Federal resulta, basicamente, da combinação de três fatores: 1) formalização de empregos informais; 2) novos postos de trabalho de baixo salário; e 3) elevação de contratos intermitentes e parciais.

A história nos ensina que as forças produtivas são o resultado da energia prática dos homens, mas essa mesma energia é circunscrita pelas condições em que os homens se acham colocados, pelas forças produtivas preexistentes.

A sociedade é o produto da ação recíproca dos homens. Estes, aliás não podem escolher, livremente, esta ou aquela forma social. Nada disso. A um determinado estágio de desenvolvimento das características produtivas corresponde determinadas formas de comércio e consumo.

O desafio das candidaturas em disputa pelo voto neste ano é trazer soluções efetivas para as situações concretas do cotidiano de uma população sofrida, mas esperançosa.

 

Ranulfo Vidigal é economista.

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