As despesas discricionárias do Executivo Federal na rubrica investimentos estão em expansão. Atingiram R$ 32 bilhões em 2023 (crescendo 80%, em relação ao ano anterior), embora ainda esteja longe do valor despendido em 2014, quando atingiu R$ 114 bilhões.
É nesse contexto, de busca pelo tempo perdido, que devemos encarar o lançamento com grande visibilidade em Brasília, do Plano Mais Produção, que prevê créditos de R$ 300 bilhões (70% via BNDES), em quatro anos, para incentivar nossa manufatura nacional para torná-la mais inovadora, mais sustentável ambientalmente, mais exportadora e mais produtiva.
Essa sinalização vem para mudar a curva do investimento privado na terra da jabuticaba (cuja incremento foi negativo, em 2023), apesar do crescimento do PIB ter seu segundo ano de alta, nas proximidades do 3%.
O mundo vive uma guerra geopolítica/econômica entre dois gigantes – EUA e China. Basta ver os movimentos na busca de fontes de suprimentos, bem como o domínio da tecnologia de semicondutores, robótica, equipamentos militares (como misseis inteligentes e redes de informática) dando o tom do jogo bruto para obter hegemonia econômica, tecnológica, financeira e militar no mundo.
E o Brasil, a nona economia do planeta, vai ficar inerte e apenas se especializar em exportar commodities e produtos industriais de baixa complexidade? Nossa dependência tecnológica gera saldos comercias negativos em produtos eletrônicos, bens de capital, produtos químicos, farmacêuticos e até insumos para o dinâmico agronegócio.
A reação ao plano do governo veio forte. A turma da bufunfa, aquela beneficiada pelo juro abusivo e poderosa politicamente, propagandeia seu evangelho da austeridade fiscal, que sustenta o mantra de que o crescimento econômico é impulsionado, não pela atividade produtiva, ou pelo investimento público e pelos gastos dos trabalhadores, mas pela abstinência virtuosa dos capitalistas rentistas, cujas economias seriam transformadas em acumulação de capital guiadas pela mão invisível e divina do mercado.
Nesse contexto, a prosperidade nacional exigiria redução de impostos sobre os ricos, resistência estatal às demandas dos trabalhadores e forte redução dos gastos públicos com assistência médica, educação e serviços sociais, pois isso retira preciosos recursos financeiros do processo de acumulação de capital.
Na verdade, a propalada austeridade retira a formulação das políticas econômicas do controle democrático e a coloca na mão de tecnocratas e especialistas despolitizados, completamente incapazes de definir o destino de uma nação de mais de 200 milhões de habitantes. Ao novo governo cabe a tarefa de conquistar corações e mentes para seus propósitos. O jogo está só começando, e os próximos lances prometem emoção!
Ranulfo Vidigal é economista.