Chegou a vez da indústria?

Turma beneficiada pelo juro abusivo vai contra indústria e propagandeia seu evangelho da austeridade fiscal. Por Ranulfo Vidigal

193
Indústria
Indústria (foto de José Paulo Lacerda, CNI)

As despesas discricionárias do Executivo Federal na rubrica investimentos estão em expansão. Atingiram R$ 32 bilhões em 2023 (crescendo 80%, em relação ao ano anterior), embora ainda esteja longe do valor despendido em 2014, quando atingiu R$ 114 bilhões.

É nesse contexto, de busca pelo tempo perdido, que devemos encarar o lançamento com grande visibilidade em Brasília, do Plano Mais Produção, que prevê créditos de R$ 300 bilhões (70% via BNDES), em quatro anos, para incentivar nossa manufatura nacional para torná-la mais inovadora, mais sustentável ambientalmente, mais exportadora e mais produtiva.

Essa sinalização vem para mudar a curva do investimento privado na terra da jabuticaba (cuja incremento foi negativo, em 2023), apesar do crescimento do PIB ter seu segundo ano de alta, nas proximidades do 3%.

O mundo vive uma guerra geopolítica/econômica entre dois gigantes – EUA e China. Basta ver os movimentos na busca de fontes de suprimentos, bem como o domínio da tecnologia de semicondutores, robótica, equipamentos militares (como misseis inteligentes e redes de informática) dando o tom do jogo bruto para obter hegemonia econômica, tecnológica, financeira e militar no mundo.

Espaço Publicitáriocnseg

E o Brasil, a nona economia do planeta, vai ficar inerte e apenas se especializar em exportar commodities e produtos industriais de baixa complexidade? Nossa dependência tecnológica gera saldos comercias negativos em produtos eletrônicos, bens de capital, produtos químicos, farmacêuticos e até insumos para o dinâmico agronegócio.

A reação ao plano do governo veio forte. A turma da bufunfa, aquela beneficiada pelo juro abusivo e poderosa politicamente, propagandeia seu evangelho da austeridade fiscal, que sustenta o mantra de que o crescimento econômico é impulsionado, não pela atividade produtiva, ou pelo investimento público e pelos gastos dos trabalhadores, mas pela abstinência virtuosa dos capitalistas rentistas, cujas economias seriam transformadas em acumulação de capital guiadas pela mão invisível e divina do mercado.

Nesse contexto, a prosperidade nacional exigiria redução de impostos sobre os ricos, resistência estatal às demandas dos trabalhadores e forte redução dos gastos públicos com assistência médica, educação e serviços sociais, pois isso retira preciosos recursos financeiros do processo de acumulação de capital.

Na verdade, a propalada austeridade retira a formulação das políticas econômicas do controle democrático e a coloca na mão de tecnocratas e especialistas despolitizados, completamente incapazes de definir o destino de uma nação de mais de 200 milhões de habitantes. Ao novo governo cabe a tarefa de conquistar corações e mentes para seus propósitos. O jogo está só começando, e os próximos lances prometem emoção!

Ranulfo Vidigal é economista.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui