Chile: expansão e desafios de diversificação

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Com uma vocação incontestável para a produção de vinhos, o Chile vem logrando um êxito econômico neste campo desde que sua vitivinicultura se modernizou e, a exemplo de protagonistas do Novo Mundo do Vinho, como a Califórnia, explorou o seu potencial geográfico para fazer um vinho que atenda ao gosto da crítica e do consumidor contemporâneo.

Segundo a instituição promotora dos vinhos chilenos, Wines of Chile, a indústria vitivinícola é hoje uma das mais significativas para o país, que emprega mais de 100 mil pessoas, representa 0,5% de seu PIB e 16,5% das exportações agropecuárias. São cerca de 800 vinícolas (viñas) em funcionamento atualmente, sendo que o grande quantitativo se concentra nas regiões do Maule e O’Higgins.

O consumo interno de bebidas alcoólicas no Chile se divide principalmente entre cerveja, vinho, pisco e drinques, mas o que garante o êxito econômico vinícola são as taxas de exportação, certamente favorecidas não apenas pela qualidade do seu vinho, mas também por ter competitividade de preço em relação a outros produtores mundiais de destaque e por ter vizinhos que em sua maioria ainda o ameaçam pouco nesse quesito, com exceção da Argentina.

Desse modo, o Chile é um dos primeiros no ranking de exportação mundial de vinhos e este status tem histórico recente: de 43 milhões de litros exportados em 1995 pulou para 355 milhões em 2002 e em 2016 chegou a cerca de 907 milhões de litros (dados OIV). Dentre os vinhos importados pelo Brasil, os chilenos são campeões, e isso certamente é muito positivo para eles, pois, afinal, se o consumo per capita de vinhos do brasileiro fica, oficialmente, em torno dos ínfimos 2 litros anuais, somos 210 milhões – nada desprezível em números absolutos. Ademais, há uma elite brasileira que consome produtos de alta gama.

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O que se tem notado, e que eu vejo com bons olhos (e com alegria no paladar), é uma natural evolução da vitivinicultura, no sentido não só de aprimorar a qualidade dos produtos, mas também de investir na exploração de novos territórios e práticas, visando ao refinamento do estilo de sua produção.

O que significa isso? Pode-se dizer que, quando chegaram os frutos bem sucedidos da fase de modernização de sua produção, notadamente no final dos anos 1990 e primeira década de 2000, os vinhos buscavam seguir o modelo californiano: vinhos muito concentrados, alcoólicos e carregados de madeira. Certamente, vinhos que impressionaram muitos e que contam com muitos amantes, até porque é um estilo que se inspira na escola de Bordeaux, frequentada por muitos enólogos do mundo e base da enologia mundial. Não há problema em se fazer vinhos concentrados, mas fazer vinho concentrados e equilibrados nem sempre é a regra, requer expertise e terroir, caso contrário, eles podem ficar excessivos e deselegantes.

As áreas que primeiro se destacaram no Chile moderno se encontram no Valle Central, grande região extremamente apta à produção de vinhos (especialmente tintos), que conta com o chamado clima mediterrâneo – com estações quentes e secas no verão e chuvas concentradas no inverno – o que favorece a maturação otimizada das uvas e torna baixo o risco de doenças vínicas.

No caso do Chile, a adaptação de uvas tintas de maturação tardia, como Cabernet Sauvignon e, mais tarde, a Carmenere, antes confundida com a Merlot, foi e é extraordinária. O que pode ocorrer, entretanto, é que esse clima quente e seco não combinado com outros fatores gere vinhos excessivamente alcoólicos, de baixa acidez e baixa versatilidade de consumo. Para evitar isso, são necessárias vontade, ousadia e algumas movimentações que têm se mostrado bastante viáveis em países como o Chile.

Afinal, há mais do que clima mediterrâneo no Chile – uma combinação de fatores torna esse país de perfil geográfico incomum extremamente aproveitável à vitivinicultura. Há que se dizer que as vinhas vivem muito bem em alguns lugares que poucos sobrevivem. Isso, aliado à desenvolvida tecnologia atual, não só é possível, como pode gerar resultados fantásticos.

O território do Chile é como um longo e estreito corredor de norte a sul, tendo, a oeste, o oceano Pacífico e, a leste, a Cordilheira dos Andes. A fria Corrente de Humboldt do Oceano Pacífico refresca o forte calor e modera a insolação excessiva nos vinhedos. Das partes altas da Cordilheira dos Andes, massas de ar frias descem diariamente das montanhas, moderando a temperatura dos vinhedos do leste e garantindo uma boa circulação de ar – essencial para impedir risco de geadas, fungos e pragas, inimigos típicos das uvas viníferas.

De leste a oeste, norte a sul estão os vales dos vinhos chilenos, que cada vez mais se multiplicam, ocupando áreas menos tradicionais e diversificando a sua produção. Falaremos mais sobre essas regiões, uvas, perfis de vinhos e novas orientações nos próximos artigos.

 

Notícias do Mundo do Vinho

O especialista em vinhos carioca Marcelo Copello acaba de receber da Born Digital Wine Awards, em concurso que prestigia a mídia internacional do vinho, premiação com o artigo sobre sustentabilidade: “Sustentabilidade no vinho, o planeta agradece.”

 

Para saber mais sobre eventos, turmas abertas de formação em vinhos da Cafa Wine School, de Bordeaux, entre outros projetos realizados por Miriam Aguiar, visite miriamaguiar.com.br / instagram: @miriamaguiar.vinhos

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