Há cidades que estão se aproximando da zona de largada da corrida por novas (ou nem tanto assim) modalidades para a superação dos danos demarrados pela pandemia, como o programa de cidades inteligentes, ou pela inércia que ela encontrou diante de “postos de gasolina” dirigindo economias complexas, sem dispor de repertório adequado sobre o assunto.
Ponto para a crise. Daí derivam o PIBinho, daí a inflação de dois dígitos, daí o desemprego de 100% (para quem está desempregado), daí os milhões de brasileiros desalentados (os que já jogaram a toalha); daí o prenúncio de uma crise cambial severa, daí as seguidas agressões ao ambiente, dai…, daí… e como concluiria aquela conhecida personagem, e daí?!
No Estado do Rio de Janeiro há uma dessas cidades. É Maricá, “Cidade que abraça”. Completou 208 anos de fundação no último final de semana. Maricá, além das belezas de naturais do seu litoral, desenvolveu um conceito novo de fazer política econômica. Pode ser política econômica para distribuição da renda, ou para manter o nível da atividade econômica. Trata-se da moeda de circulação local, conhecida como mumbuca.
Desde a criação da moeda social mumbuca (2013), mais de 42 mil maricaenses em situação de vulnerabilidade social foram beneficiados pelo programa de Renda Básica de Cidadania (RBC), que fornece 170 mumbucas mensais (R$ 1 = 1 mumbuca), para serem utilizadas em 12 mil estabelecimentos comerciais cadastrados.
Mumbuca (40 contas abertas, em 2013. Hoje, são 65.376 contas. Outra medida do sucesso é que 90% das contas estão em nome de mulheres), com R$ 19 milhões em compras mensais, nos estabelecimentos comerciais de Maricá cadastrados.
Além dos benefícios sociais pagos em mumbucas, o Banco Mumbuca (instituição que gerencia a Moeda Social de Maricá) disponibiliza diversas linhas de crédito a grupos coletivos de maricaenses. O Mumbucred oferece crédito financeiro a juros zero a empreendedores formais e informais; o Casa Melhor direciona uma linha de crédito sem juros para reformas de moradias; e outras linhas de crédito foram criadas para auxiliar profissionais de diversas áreas.
Entre 2018 e 2021, estima-se que R$ 2 bilhões irrigaram a economia de Maricá. O êxito da mumbuca encorajou outros municípios a criarem suas moedas sociais e bancos comunitários relacionados. No final de 2021, Cabo Frio lançou a itajuru, inspirada no modelo de sucesso da mumbuca. Niterói lançou a moeda social arariboia. Em 31 de maio, Campos (Norte fluminense) lançou a sua moeda social, a goitacá.
Considerando a estrutura pluralista, proposta por Fernand Braudel, há compatibilidade entre o nível de atividade econômica de subsistência e o êxito da moeda local (Plano das atividades de subsistência ou da economia familiar). Sobre este plano está o da Economia local de mercado; e há também o Plano da economia globalizada, onde o Estado serve às corporações multinacionais e cartéis financeiros.
Os três Planos, nos quais há atividades econômicas, interagem e há intercâmbio, mas com relativa impermeabilidade, sem superposição ou subordinação (Verschave, 1994), podem representar oportunidades de extensão ou, ao contrário, de resistências. Além disso, abriga novas possibilidades de iniciativas locais (Hassan Zaoual, 2006).