Classe média teve diminuição de renda no primeiro ano de pandemia

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Carteira vazia (Foto: Fetracom)
Carteira vazia (Foto: Fetracom)

A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Anual de 2020, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontou que houve uma retração econômica nas três camadas da classe média brasileira. Ou seja, as camadas superiores perderam poder econômico e caíram de posição. A avaliação do cenário é fruto do recente estudo realizado pelo economista Waldir Quadros, professor das Faculdades de Campinas (Facamp) e associado do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (IE/Unicamp), sobre as principais retrações socioeconômicas no primeiro ano da pandemia- e que desmembra os dados da última Pnad, divulgada este ano.

A alta classe média, segundo Quadros, teve um rebaixamento impactante, caiu em 3,8 milhões de pessoas (menos 17%) e a classe média outros 4,8 milhões (menos 13%). Na classe média alta, a participação de 8,5% em 2020 é a mais baixa desde 2012 – quando se iniciou a série da Pnad Anual.

“Na classe média, a porcentagem é apenas ligeiramente superior à da crise de 2013, em que também ocorreu sério movimento descendente na estrutura social”, explica.

Além de perderem posições sociais, as famílias que estavam na alta classe média e caíram para a média passaram de uma renda de R$ 16.974 em 2019, para R$ 6.572 em 2020. Já quem caiu da média classe para a baixa passou de R$ 6.390 em 2019 para R$ 3.460 em 2020.

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A maior participação da baixa classe média (pobres intermediários) e da massa trabalhadora (pobres) reflete justamente a queda ocorrida nas camadas superiores, com uma parcela caindo para posições inferiores. “Nesse movimento, a baixa classe média de pobres intermediários cresceu em 8,1 milhões de pessoas. Uma rápida descrição da forte mobilidade descendente”, descreve o professor.

Outro dado apontado é que a renda média familiar de todas as camadas sociais teve uma expressiva queda na média geral de R$ 586, equivalente a menos 11% do valor de 2019.

Outro dado interessante da pesquisa e avaliado pelo professor é a Estrutura Ocupacional, que apresenta a situação na ocupação do membro que tem a melhor remuneração, dentro daquela família. A maior queda aconteceu no grupo “Sem Ocupação com Renda”, que são as pessoas com rendimentos de aposentadoria, aplicações financeiras, participações nos lucros, aluguéis etc. O grupo perdeu 1,1 milhão de pessoas, equivalente a 34% do seu número em 2019.

Em seguida temos os “Colarinhos Brancos” Assalariados, que também tiveram um recuo de 1,1 milhão (menos 9,5%), os Trabalhadores Autônomos com menos 460 mil pessoas (menos 46%), os Pequenos e Médios Empresários com diminuição de 410 mil (menos 12%) e os “Colarinhos Brancos” Autônomos, menos 360 mil (menos 25%).

“Se são impressionantes estes impactos nas famílias de classe média que perderam posição social, não é preciso insistir, além do que é visível na realidade cotidiana, na verdadeira hecatombe que ocorreu entre as camadas populares. O rebaixamento da classe média repercute na expansão das camadas populares, com o agravamento das precariedades e carências que conformam nossa crise social”, reflete.

Já dados divulgados pelo Instituto Propague, em parceria com a Stone, mostraram que o volume de empréstimos pessoais contratados por brasileiros teve um aumento de quase 20% em 2021, na comparação com o ano anterior. Segundo levantamento realizado pela fintech de crédito pessoal Simplic, 60% dos pedidos foram realizados na Região Sudeste, seguida pela Região Nordeste, com 14%, e pela Região Sul, responsável por 13% do total. Em 2020, a Região Sudeste também respondeu por cerca de 60% dos pedidos realizados.

Ainda segundo o relatório da fintech, o crédito concedido à pessoa física passou de aproximadamente R$ 2,2 trilhões em novembro de 2020 para 2,6 trilhões em novembro de 2021. Na avaliação do diretor-executivo da Simplic, Rogério Cardozo, os números continuam sendo um reflexo da crise que o Brasil enfrenta nos dois últimos anos. Segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), divulgada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), 70,9% das famílias brasileiras encerraram o ano de 2021 endividadas.

“O grande volume de pedidos na Região Sudeste se mantém alto, pois ainda estamos sentindo o reflexo da crise vivida na pandemia. São 11,6% dos brasileiros desempregados, em um ambiente de forte inflação e alto custo de vida. Tudo isso faz com que a população sinta necessidade desse respaldo financeiro, para estabilizar contas ou ir em busca de novas oportunidades”, explica o executivo.

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