Frente ao cenário econômico ainda marcado por incertezas, as famílias paulistanas seguem com pé no freio no consumo e expectativas cautelosas sobre o futuro. É o que mostram o Índice Confiança e do Consumidor (ICC) e o Índice de Intenção de Consumo das Famílias (ICF), ambos medidos pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (Fecomércio-SP).
O ICC, que avalia as perspectivas dos consumidores no presente, atingiu 127,3 pontos em agosto, queda de 2,9% em relação ao mesmo mês do ano passado.
Paralelamente, o Índice de Intenção de Consumo das Famílias (ICF) manteve-se praticamente estável, com 106,7 pontos. Trata-se de uma leve queda em comparação aos 106,8 pontos marcados em julho. Alguns subindicadores que compõem o índice mostram um cenário de cautela: o de perspectiva profissional, por exemplo, caiu 15,5% em relação ao ano passado, enquanto o de perspectiva de consumo retraiu 9,2%.
Segundo a Fecomércio-SP, dentre os fatores macroeconômicos que influenciam a confiança atual da população paulistana, destacam-se o mercado de trabalho aquecido e o ganho real da renda. No entanto, a inflação persistente e a depreciação do real frente ao dólar têm gerado um ambiente de dúvidas.
O resultado do ICC é sustentado, principalmente, pelo Índice das Condições Econômicas Atuais (Icea), que mede o contexto familiar no momento da pesquisa. Em agosto, o indicador permaneceu estável (117,9 pontos), embora tenha crescido 7,4% na comparação com o mesmo mês do ano passado.
Em contraste, o Índice de Expectativas do Consumidor (IEC) caiu timidamente (0,6%),atingindo 133,5 pontos. A redução anual do IEC foi mais acentuada, chegando a 8%, o que reflete um enfraquecimento das expectativas futuras dos consumidores.
O ICF também revelou uma desaceleração no consumo atual e uma leve alta no acesso ao crédito, embora ainda abaixo dos 100 pontos, indicando um pessimismo contínuo. A segmentação por faixa de renda aponta uma queda significativa na perspectiva de emprego para aqueles que ganham até 10 salários mínimos, enquanto os que recebem acima dessa quantia experimentaram uma alta mensal.
Em nota, a entidade “recomenda que os empresários reavaliem os custos operacionais e busquem alternativas para melhorar a relação entre custo e benefício para os clientes, além de considerar investimentos em tecnologias para aprimorar a eficiência operacional e formar parcerias estratégicas.”
Já o Índice Nacional de Confiança (INC), elaborado para a Associação Comercial de São Paulo (ACSP) pela PiniOn, alcançou, em agosto, a 100 pontos, mantendo estabilidade em relação a julho, porém diminuindo 2,9%, na comparação com o mesmo mês do ano passado.
O nível alcançado pelo INC mostra estabilidade na zona neutra, com valores abaixo de 100 indicando pessimismo e valores acima de 100, otimismo. A pesquisa foi conduzida com uma amostra de 1.679 famílias em todo o país, incluindo capitais e cidades do interior.
Em termos regionais, houve aumento da confiança em todas as regiões, com exceção do Centro-Oeste. Em termos de classes socioeconômicas, houve diminuição do índice nas classes AB e DE e aumento na C.
As famílias tiveram deterioração na percepção em relação à situação financeira atual, agravado pela diminuição da segurança no emprego, embora suas expectativas para o futuro tenham permanecido Ulisses Ruiz de Gamboa, economista da ACSP, explica que “a queda na confiança em relação à situação econômica atual fez com que as pessoas se mostrassem menos dispostas a comprar itens de maior valor, como carros e imóveis, e também a adquirir bens duráveis, como geladeiras e fogões”. Ruiz de Gamboa acrescenta que, por outro lado, a intenção de investir, que está mais ligada às expectativas para o futuro, se manteve estável.
“Em síntese, o INC de agosto mostrou, de forma geral, estabilidade, mantendo-se no campo neutro, em termos de confiança. A resiliência da inflação e a manutenção de juros ainda elevados, por um lado, que contribui para a deterioração da confiança, e, por outro, o mercado de trabalho aquecido, que afeta positivamente a percepção em quanto à situação financeira das famílias, parecem compensar-se, resultando na manutenção do índice”, diz a associação.