Os contratos futuros de ouro seguem em escalada e chegando próximo da marca histórica de US$ 3.000 por onça-troy, especialmente depois das ameaças do presidente Donald Trump de impor novas tarifas aos seus parceiros comerciais. A alta nos valores do metal precioso vem sendo observada já há algum tempo, mas nas últimas semanas, o ouro atingiu novos recordes. O ouro registrou ganho real de 7,23%, beneficiando-se do aumento da incerteza global, como as tensões geopolíticas e a oscilação de juros nos mercados desenvolvidos, que aumentaram sua atratividade como porto seguro.
“O desempenho do ouro reflete a busca dos investidores por segurança em momentos de instabilidade global. As tensões geopolíticas e as mudanças nas políticas monetárias de grandes economias criam um ambiente propício para ativos que oferecem proteção, como o ouro, que segue sendo uma referência de resiliência em tempos incertos”, destaca Carlos Braga Monteiro, CEO do Grupo Studio.
“Na primeira semana de 2025, o metal precioso teve uma alta de 2,82%, e nas semanas seguintes, apresentou resultados positivos em todas, com variações entre 1,13% e 1,86%. Isso demonstra uma tendência de valorização consistente do ouro nesse período.”, comenta Robson Casagrande, especialista em investimentos e sócio da GT Capital.
Ativos seguros
“Nas últimas semanas, o ouro registrou uma alta significativa, refletindo um aumento na busca por ativos considerados seguros durante períodos de incerteza econômica. Essa valorização é frequentemente impulsionada por fatores como a instabilidade política, flutuações nas taxas de juros e a inflação, que fazem com que investidores busquem proteção contra a perda de valor de seus investimentos em moeda fiduciária”, complementa Allan Couto, economista e fundador da Calculadora do GAIN.
De acordo com especialistas, a alta do ouro pode ser atribuída a vários fatores interligados. Primeiramente, as tensões geopolíticas, como conflitos no Oriente Médio e incertezas políticas entre grandes potências, elevam a demanda por ativos considerados seguros, como o ouro. Em tempos de instabilidade, os investidores buscam proteção contra riscos, o que impulsiona o preço do metal precioso.
“Além disso, há a expectativa de cortes nas taxas de juros pelo Federal Reserve (FED) dos Estados Unidos. A possível redução das taxas diminui o custo de oportunidade de manter ouro, tornando-o uma opção mais atrativa em comparação a outros investimentos que oferecem rendimento em juros”, diz Casagrande ao lembrar que o aumento da demanda por parte dos bancos centrais, especialmente de países emergentes como a China, que estão ampliando suas reservas de ouro como parte de suas estratégias de diversificação, também contribui para essa alta. “Esses fatores combinados criam um ambiente favorável para a valorização do ouro, atraindo tanto investidores individuais quanto instituições”, afirma Casagrande.
Couto avalia que o que está por trás dessa alta pode ser atribuído a uma combinação de incertezas globais, como tensões geopolíticas e a possibilidade de uma desaceleração econômica. “Além disso, a política monetária dos bancos centrais, especialmente sobre as taxas de juros baixas, também desempenha um papel crucial”, diz Couto.
Manutenção de alta no mercado de ouro
Para Casagrande, a tendência para o ouro nos próximos meses é de manutenção da alta, especialmente se as taxas de juros continuarem a cair e as tensões geopolíticas se mantiverem elevadas. Algumas projeções sugerem que o preço do ouro pode chegar a US$ 3.000 por onça, caso as condições macroeconômicas permaneçam favoráveis. No entanto, é importante observar que um movimento de correção é esperado no curto prazo, após os recentes picos de valorização. Essa dinâmica reflete a volatilidade do mercado e a necessidade de monitorar os fatores que influenciam o preço do ouro.
“Muitos analistas apontam que o ouro pode continuar a ser visto como um porto seguro, especialmente se as condições econômicas globais permanecerem voláteis. No entanto, é importante considerar que os preços do ouro podem ser influenciados por uma série de fatores, incluindo a recuperação econômica e mudanças nas políticas monetárias”, alerta Couto.
Casagrande ressalta que a decisão de comprar ouro depende do perfil e dos objetivos de cada investidor. “Para aqueles que buscam proteção e diversificação, o ouro continua a ser um ativo interessante, especialmente em tempos de incerteza. Se o objetivo é garantir segurança e atuar como um hedge contra riscos, alocar uma parte do portfólio em ouro pode ser uma escolha sensata. Além disso, para investidores que pretendem proteger seu patrimônio contra crises e inflação, uma estratégia de entrada escalonada, ou seja, realizar compras parciais ao longo do tempo, pode ser eficaz. Essa abordagem permite aproveitar as flutuações do mercado e reduzir o impacto de eventuais correções de preço. Portanto, a decisão de investir em ouro deve ser alinhada com a estratégia financeira e os objetivos de longo prazo do investidor”, diz Casagrande.
Couto alerta que para um investidor que está considerando comprar ouro, é preciso avaliar cuidadosamente o momento de entrada. “Enquanto a valorização atual pode parecer atrativa, é essencial não apenas observar as tendências de mercado, mas também entender o seu perfil de risco e os objetivos de investimento. A diversificação da carteira é sempre uma estratégia recomendada para mitigar riscos”, comenta Couto. Ele lembra que, embora o ouro seja tradicionalmente visto como um ativo seguro, ele também pode apresentar volatilidade e não garante retorno imediato. “É importante ressaltar que a compra de ouro não deve ser vista como uma solução única. Avaliar outras opções de investimento e considerar a alocação de recursos em diferentes classes de ativos pode ser uma estratégia mais robusta para enfrentar as incertezas do mercado”, finaliza Couto.
Por Gilmara Santos, especial para o Monitor Mercantil