Por Kate Monteiro, especial para o Monitor Mercantil
Desde que fez a sua estreia na Bolsa, em 5 de fevereiro de 2021, as ações da varejista de móveis Mobly (MBLY3) já derreteram 61,36% até o fechamento de 6 de setembro, segundo dados da Comdinheiro. No mesmo período, os índices Small Caps (SMLL) e Ibovespa (IBOV) recuaram 2,68% e 1,97%, respectivamente.
Quando iniciou as suas negociações na B3, os papéis da companhia eram negociados no patamar de R$ 21; seis meses depois eles despencaram para cerca de R$ 10. Quem investiu na ação viu seu patrimônio cair pela metade.
Mas a Mobly não foi a única novata do setor que teve um caminho tortuoso desde o IPO, a concorrente Westwing (WEST3) também viu suas ações desvalorizarem 46,47% até 6 de setembro.
Recentemente, a gestora Squadra citou em evento a existência de uma “bolha das techs” que estourou, fazendo alusão ao movimento que justificaria a queda abrupta de companhias de tecnologia que abriram capital recentemente.
Por ter 85% de sua receita atrelada ao e-commerce, a Mobly cumpre todos os requisitos para ser considerada uma empresa tech e que integra esta nova onda de IPOs, mas o seu CEO Victor Noda (foto acima) garante que de “fake tech” a Mobly está longe. Em entrevista ao Monitor Mercantil, ele reforça que apesar do cenário adverso no mercado de capitais, os fundamentos e metas da companhia prevalecem e aponta que a recuperação deve chegar no 4º trimestre.
Ganhar a confiança do investidor não será uma tarefa fácil, mas instituições como Itaú BBA e Eleven Financial já deram seu voto de confiança, e colocam para 2021 um preço alvo das ações MBLY3 em R$ 27,80 e R$ 28, respectivamente. Confira a seguir a entrevista com o CEO da Mobly:
Desde sua estreia na Bolsa, as ações da Mobly (MBLY3) derreteram 61,36%. Como justifica esta queda para os acionistas?
Os fundamentos do nosso negócio não mudaram, pelo contrário, só melhoraram com as iniciativas de investimento e os recursos captados no IPO. A prova disso é a expansão das nossas lojas físicas: nos últimos seis meses já lançamos 3 lojas e esperamos lançar, no mínimo, mais 6 até o final de 2021.
Também reforçamos nossa malha logística com novos centros de distribuição em Belo Horizonte, Cajamar (SP) e vamos inaugurar outro no Nordeste, em Pernambuco nos próximos dois meses, aumentando a participação na região.
Estamos acelerando nosso private level, com 50% de produtos próprios da Mobly na venda e investindo pesado em marketing para reforçar o nosso e-commerce.
Então os nossos negócios estão funcionando. Porém, temos uma conjuntura diferente no mercado financeiro com diversos fatores jogando contra, commodities em alta, juros aumentando e a migração do investidor, que deixou de aplicar nas empresas techs no curto prazo.
A Mobly é uma empresa ainda pequena, pouco conhecida na Bolsa, com um volume de negociação baixo. Tudo isso somado aos outros fatores impactam no preço da nossa ação.
Quais são as principais dificuldades que a Mobly enfrentou desde seu IPO?
Certamente a maior dificuldade foi a desaceleração do mercado online após a reabertura do varejo físico. Em meados de abril, notamos que a busca por móveis no Google despencou e, em consequência, nossas taxas de conversão. Para manter o nosso faturamento foi necessário investir em marketing para trazer visitas ao site e manter as vendas.
O segundo desafio foi a inflação média das matérias primas do setor, que teve um salto de 25% para a nossa categoria. Alguns produtos como chapas de madeira ou metais tiveram um aumento de até 70%, isso gerou fortes impactos.
Uma parte deste custo foi inicialmente repassado ao consumidor até o mês de abril, mas depois percebemos que isso afetaria nossa demanda, com o cliente olhando o produto ficar mais caro. Então, com o online em queda, tomamos a decisão de não repassar mais esses custos para o cliente, porque só amplificou a dor dele naquele momento.
Quando seguramos os preços, nossa margem foi impactada, mas era o que fazia sentido para manter a fidelidade do cliente e o crescimento da Mobly.
Como funciona esse reajuste na operação de vocês e até quando pretendem segurar esses custos?
A Mobly não é fabricante, mas temos um modelo de negócios chamado beneficiamento, onde compramos matéria prima para os fornecedores produzirem os móveis. Paralelamente, 80% da nossa produção vem da venda normal do produto pelos fornecedores, onde a inflação impactou mais.
Nossos fornecedores estavam sofrendo com o custo elevado das matérias primas, conseguimos negociar alguns preços e outros foram repassados aos consumidores até o mês de abril. Mas fazendo uma análise concluímos que era mais efetivo deixar de repassar este preço aos clientes e manter atratividade na companhia do que ter que repassar o custo, perder eles e logo ter que investir mais em marketing.
Foi uma decisão consciente, estamos aos poucos ajustando os preços novamente. Em 2021, com o reajuste do primeiro trimestre, as margens vieram altas, mas depois foi necessário segurar o repasse no segundo trimestre para lidar com a queda do mercado.
Estamos enxergando agora um mercado mais estável e esperamos voltar a crescer desde essa nova base repassando novamente os custos ao consumidor nos próximos meses.
Acredito que a Mobly se recuperará a partir do 4º trimestre de 2021, com a nossa base de crescimento superando 2020.
No IPO vocês movimentaram R$ 812 milhões. Até o momento, como usufruíram deste recurso?
Primeiro, zeramos todas as dívidas da Mobly, que eram de R$ 70 milhões. Depois, deixamos de antecipar os recebíveis do cartão de crédito. Antes do IPO, quando a venda era parcelada em 10 ou 12 vezes sem juros, nós antecipávamos o recurso para ter caixa, mas isso gerava juros para a gente. Após o IPO deixamos de fazer esta antecipação e estamos em uma posição confortável até fevereiro de 2022.
Em relação ao capital de giro, conseguimos antecipar o pagamento de alguns fornecedores, que era uma das nossas metas, financiar eles para que acompanhem nosso crescimento. Também investimos em marketing e em expansão de lojas físicas em três formatos: Megastore, Outlets e nosso modelo de franquias Mobly Zip.
O que está no radar de expansão da Mobly até o final de 2021?
Nosso objetivo é inaugurar 3 megalojas até o final do ano, uma na Marginal Pinheiros (SP), outra na Rodovia Anchieta e a terceira em Ribeirão Preto. Temos mais 2 megastores engatinhadas, mas estas devem ser inauguradas no começo de 2022.
Sobre os outlets, a meta é ter 3 novos até dezembro. Um deles foi lançado agora em Jundiaí, onde esperamos ter outra inauguração em setembro. O próximo será em Carapicuíba (SP) e o último na região de Interlagos (SP).
Em relação às nossas franquias, com as lojas Mobly ZIP, inauguramos recentemente uma loja na Avenida dos Bandeirantes (SP) e tem outra em construção no shopping Tietê Plaza. Nossa meta é ter até 4 novas franquias em 2021.
Já sobre os centros de distribuição, em abril inauguramos um em Belo Horizonte (MG) e lançamos recentemente outro em Cajamar (SP). Até o final de setembro esperamos ter um em Pernambuco, no Nordeste.
Sobre a nossa venda online, estamos presentes como vendedores em 7 marketplaces: Mercado Livre, Magazine Luiza, Via Varejo, B2W, Amazon, Carrefour e na Leroy Merlin. E pretendemos incluir mais 4 para venda dos produtos da Mobly ainda este ano.
Gostaria de destacar que em relação a expansão física, nosso carro-chefe são as megastores. Quando uma megastore é inaugurada, as vendas online também aumentam em 20% no raio de 5 quilômetros de proximidade da loja. Elas também servem como pontos logísticos para facilitar o clique e retire.
Leia também: