Comef reafirma desaceleração do crédito

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Dinheiro (Foto: Filipe Castilhos)
Dinheiro (Foto: Filipe Castilhos)

O Banco Central divulgou nesta quinta-feira a ata da 52ª reunião do Comitê de Estabilidade Financeira (Comef), realizada na semana passada. O Comef é o órgão colegiado do BC que estabelece diretrizes para a manutenção da estabilidade financeira e a prevenção da materialização do risco sistêmico.

A ata confirmou que o crescimento do crédito amplo desacelerou. Nas pessoas físicas, a desaceleração foi maior nas operações de maior risco, como as ligadas a transações de pagamento. Já nas pessoas jurídicas, o crédito desacelerou marginalmente. “O mercado de capitais reduziu o seu ritmo de expansão, mas se mantém como fonte relevante de financiamento, principalmente para as grandes empresas”.

Na semana passada, o Banco Central afirmou que o potencial impacto do escândalo contábil envolvendo a Americanas SA sobre os bancos seria “insignificante” mesmo em um cenário extremo. A varejista entrou com pedido de falência em janeiro depois de divulgar “inconsistências contábeis” no valor de R$ 20 bilhões, levando os bancos a aumentar seu provisionamento em sua divulgação de resultados mais recente.

Sem citar nomes, a ata destacou que o aumento das provisões está condizente com a maior materialização de risco, decorrente do crescimento do crédito em modalidades mais arriscadas, do aumento do comprometimento de renda das famílias, da redução da capacidade de pagamento de micro e pequenas empresas, e de casos pontuais em empresas de grande porte. “A materialização de risco deve permanecer elevada no médio prazo, mas critérios mais restritivos nas concessões recentes têm colaborado para arrefecer o crescimento dos ativos problemáticos no crédito às famílias”.

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O Banco Central estimou o impacto potencial remanescente, acrescido de um cenário de contágio sobre toda a cadeia de produção e fornecimento que depende da empresa de forma relevante. Nesse cenário extremo, o impacto para o SFN consolidado é insignificante e não se verificaria desenquadramento de capital em qualquer instituição financeira.

“Desde a última reunião do Comef, a elevação da incerteza ampliou o impacto no sistema. O impacto mais severo continua sendo o observado no cenário de quebra de confiança no regime fiscal. Teste de análise de sensibilidade verificou que mesmo que os ativos problemáticos dobrassem em relação a seus níveis atuais, o sistema não apresentaria desenquadramentos relevantes”.

Pontos de atenção

A ata ressaltou que o apetite ao risco das instituições financeiras (IFs) na concessão de crédito às famílias e às empresas de menor porte apresentou redução, porém permanece elevado.

Com relação às empresas de menor porte, houve desaceleração no ritmo de crescimento do crédito, mas não se percebe alteração relevante nos critérios de concessão.

O Comef avalia que é importante os intermediários financeiros continuarem preservando a qualidade das concessões, levando em conta, notadamente, a exposição total dos seus clientes junto ao SFN. Eventos pontuais em empresas de grande porte geraram uma deterioração nos preços de ativos no mercado de títulos privados. Em decorrência desses eventos, a volatilidade, os spreads e a aversão ao risco aumentaram.

Sistema global

De acordo com a ata, o sistema financeiro das principais economias segue resiliente. As instituições financeiras (IFs) bancárias nesses países mantêm níveis de capital e liquidez robustos. Simulações do Banco Central e testes de estresse realizados pelas jurisdições indicam que o sistema financeiro global permanece preparado para suportar choques adicionais. O cenário global apresentou acomodação das condições financeiras desde a última reunião do Comef, apesar de alguma reversão em fevereiro. O processo de desinflação global segue desafiador e os dados recentes de atividade consolidam um cenário global de aperto monetário mais prolongado.

Os Bancos globais com importância sistêmica (GSIBs) continuam elevando provisões. A expectativa de menor crescimento, as altas taxas de juros e a persistência da inflação em níveis elevados têm resultado em perdas de renda real, pressionando a capacidade de pagamento de dívida das famílias. Em algumas jurisdições, essa questão ganha mais relevância pela predominância de hipotecas com taxas de juros reajustáveis, que em cenários de elevação de juros reduz a capacidade de pagamento dos devedores, aumentando os riscos de crises no setor imobiliário, com potencial impacto sistêmico. “Não se observa, ainda, deterioração relevante nas carteiras de crédito dos bancos, e os bancos centrais das economias sistemicamente importantes reiteram que suas instituições financeiras estão preparadas para enfrentar eventual materialização de cenários adversos”, destacou a ata.

Em geral, as economias emergentes têm, até o momento, mostrado resiliência diante do forte aperto das condições financeiras observado desde o final de 2021, porém os elevados níveis de endividamento público resultantes dos esforços de combate aos efeitos da pandemia de Covid-19 sobre a economia são um fator de vulnerabilidade.

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