O comércio de rua do Rio fechou as portas, nesta terça-feira, em grande parte da cidade do Rio de Janeiro, após o tráfico bloquear diversas ruas e avenidas com caçambas de lixo, ônibus e caminhões em represália a Operação Contenção, realizada desde a madrugada desta terça, nos complexos do Alemão e da Penha, zona norte da cidade. O prejuízo deve ser significativo, já que a hora do rush foi antecipado em cerca de quatro horas.
Supermercados também tiveram que fechar cedo para evitar saques. A Associação de Supermercados do Rio (Asserj) divulgou nota apoiando a Operação Contenção. Segundo a associação, a violência e insegurança impactam a rotina dos cidadãos e de milhares de empresas que trabalham todos os dias para abastecer e servir a população fluminense.
“Manifestamos solidariedade às vítimas e às comunidades afetadas. O setor supermercadista está tomando todas as medidas para garantir a segurança de nossos colaboradores, clientes e estabelecimentos. Cada empresa associada, considerando a realidade e o nível de risco de sua localidade, está adotando protocolos específicos — seja ajustando horários de funcionamento, reforçando a segurança privada ou aprimorando seus planos de contingência”, frisou Fábio Queiróz, presidente da Asserj.
Instituições de ensino também suspenderam as aulas e o transporte público sofreu com ônibus queimados servindo de barreiras para atrapalhar o trânsito. Segundo a Rio Ônibus, foi difícil consolidar o impacto total, pois os números aumentavam a “cada instante”.

“Mais de 120 linhas tiveram itinerários impactados. A mobilidade urbana está afetada em inúmeros pontos da cidade. As principais regiões afetadas são: Anchieta, Méier, Serra Grajaú-Jacarepaguá, Av. Brasil, Linha Amarela, Cidade de Deus, Chapadão, Engenho da Rainha, Complexo do Alemão e Penha”, informou a empresa, em nota.
O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, reconheceu, nesta terça-feira, que a Operação Contenção excedeu os “limites e as competências” do governo estadual. “Eu até entendo que estamos excedendo as nossas competências, mas continuaremos as excedendo. E, se precisarmos exceder ainda mais, o faremos, na nossa missão de servir e proteger nosso povo”, declarou Castro.
MPF e DPU
A Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão do Ministério Público Federal (MPF) e a Defensoria Pública da União encaminharam nesta terça-feira ofício ao governador Cláudio Castro solicitando que “informe detalhadamente de que forma o direito à segurança pública foi promovido” na megaoperação policial que até agora resultou na morte de 64 pessoas, quatro delas policiais.
O órgão do Ministério Público Federal (MPF) pede que o governador explique: as finalidades da operação; os custos envolvidos; a comprovação da inexistência de outro meio menos gravoso de atingir a mesma finalidade.
O MPF também quer saber se foram cumpridas as exigências do Supremo Tribunal Federal (STF) descritas na Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 635, conhecido como “ADPF das Favelas”, que estabeleceu parâmetros para a elaboração do plano de redução da letalidade policial apresentado pelo Estado do Rio de Janeiro à corte.
Especificamente, o Ministério Público quer que o governador apresente “documentação comprobatória” de que acatou o STF nos seguintes pontos: Prévia definição do grau de força adequado e justificativa formal da operação; Atuação dos órgãos periciais para realização de perícia e identificação de vestígios de crimes; Uso de câmeras corporais e câmeras nas viaturas; Existência e apresentação ao público de relatório detalhado da operação; O ofício é assinado pelo procurador regional dos Direitos do Cidadão adjunto Julio José Araujo Junior e pelo defensor regional de Direitos Humanos, Thales Arcoverde Treiger.
TRT parou
Até o Tribunal Regional do Trabalho (TRT) do Rio de Janeiro suspendeu o atendimento ao público e não terá atividades presenciais nesta quarta-feira, após os confrontos e problemas de deslocamento na cidade com a Operação Contenção, realizada nesta terça por órgãos estaduais de segurança pública para conter o avanço da facção criminosa Comando Vermelho. 

O TRT informa que as audiências telepresenciais já agendadas estão mantidas, bem como o atendimento via balcão virtual e o trabalho remoto nas unidades administrativas e jurisdicionais.
O comunicado sobre a restrição das atividades foi publicado no perfil do tribunal nas redes sociais no início desta noite.
Suspensão de aulas
O Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação do Rio de Janeiro (Sepe-RJ), preocupado com a situação de segurança dos profissionais de educação e estudantes das escolas públicas do município do Rio, reivindica à Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro (SME-RJ) e Secretaria de Estado de Educação (Seeduc) que as aulas nas escolas públicas sejam suspensas nesta quarta-feira, até a situação se normalizar.
“O sindicato está atento junto aos relatos que a categoria está enviando e irá cobrar uma resolução rápida das autoridades, inclusive em relação à quarta-feira, caso a situação continue problemática”, informa a diretoria no site do sindicato.
O sindicato também manifesta o seu repúdio a essas megaoperações das forças de segurança no município do Rio de Janeiro, ainda mais por serem próximas a escolas em horário de entrada e saída das crianças.
“A chocante informação que 65 morreram na operação desta terça coloca o Rio de Janeiro em uma posição de barbárie e não de enfrentamento inteligente e articulado contra o crime organizado”, frisa.
Letal
O número de mortos na operação chega a 64, o maior registrado em uma ação policial no estado. Ao todo, 2,5 mil policiais civis e militares foram mobilizados em ações nos complexos do Alemão e da Penha, para capturar lideranças criminosas e conter a expansão territorial do Comando Vermelho. O balanço parcial registra 81 presos, 72 fuzis apreendidos e grande quantidade de drogas ainda em contabilização.
Com informações da Agência Brasil, Veja Rio, R7 e G1.
















