A Nostrali Cidadania Italiana protocolou denúncia formal na Comissão Europeia, contestando a recente alteração na legislação italiana, que impôs uma nova taxa para os processos judiciais de reconhecimento à dupla cidadania, atualmente a via mais utilizada pelos ítalo-descendentes, que buscam fazer valer o seu direito. Desde Janeiro de 2025, o chamado Contributo Unificato foi elevado para € 600 por requerente.
A medida altera a regra anterior, que estabelecia a cobrança de € 518 por processo, independente do número de requerentes. Com a mudança, por exemplo, uma família de dez membros que, até então, pagaria a taxa única de € 518, deve recolher € 6.000, para seguir com o processo. A Embaixada Italiana no Brasil estima que, mais de 30 milhões de brasileiros têm algum ancestral italiano.
“Não vamos aceitar que descendentes de italianos sejam tratados como cidadãos de segunda categoria. Seguiremos lutando para que o reconhecimento da cidadania italiana seja um direito efetivo e não um privilégio de quem pode pagar taxas abusivas”, afirma David Manzini, um dos maiores especialistas sobre o tema em atividade no Brasil.
Italiano, radicado em Caxias do Sul, um dos berços da imigração italiana no Brasil, ele é fundador e CEO da Nostrali Cidadania Italiana, um dos principais escritórios de assessoria nessa matéria. Além do Brasil, a empresa mantem um corpo jurídico próprio na Itália, o qual conduziu a denúncia. “Essa alteração representa uma barreira desproporcional ao acesso à Justiça, especialmente para os descendentes de italianos que residem no exterior, sendo discriminatória e violando princípios fundamentais da União Europeia”, enfatiza Manzini.
A queixa está fundamentada em três pontos principais:
1. Violação do Artigo 47 da Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia, que garante a todos o direito a um recurso efetivo e acesso à Justiça sem obstáculos financeiros desproporcionais. O novo contributo impõe um custo proibitivo, que pode chegar a milhares de Euros, apenas para o primeiro grau de um processo familiar, tornando o exercício desse direito condicionado à situação financeira do requerente.
2. Discriminação indireta contra ítalo-descendentes (artigo 21 da Carta dos Direitos Fundamentais da UE). O novo modelo de cobrança afeta exclusivamente aqueles que buscam o reconhecimento da cidadania italiana por via judicial, impactando especialmente cidadãos de países como Brasil e Argentina, onde há grandes comunidades de descendentes de italianos.
3. Violação do princípio da proporcionalidade e equivalência, reconhecido pela jurisprudência da Corte de Justiça da União Europeia. Em outros processos civis na Itália, mesmo quando envolvem grandes valores, o Contributo Unificato não ultrapassa € 1.686, enquanto nos processos de cidadania pode atingir valores muito superiores, apesar de serem juridicamente menos complexos. Como destacado na denúncia: “O custo para um processo de cidadania pode ultrapassar aquele de ações civis milionárias, onde há disputas patrimoniais complexas. Não há justificativa razoável para essa disparidade, que na prática impede cidadãos ítalo-descendentes, principalmente residentes na América do Sul, de exercerem seus direitos”.
Os próximos passos
A denúncia foi oficialmente recebida pela Comissão Europeia, no último dia 05 de Março. A Comissão pode abrir uma investigação contra o governo italiano, por violação do direito comunitário. Caso haja o entendimento de que há descumprimento das normas da União Europeia, a Itália poderá ser notificada a modificar a legislação, sob risco de sanções e eventual condenação na Corte de Justiça da UE.
A Comissão Europeia é o órgão executivo da União Europeia. A partir de Tratados democraticamente aprovados por seus Estados Membros, a Comissão propõe leis e políticas, baseadas nos objetivos comuns da UE. Esses Tratados são a base do direito no bloco e estipulam quem pode adotar a legislação nos diferentes domínios: a UE, os governos nacionais ou ambos.
Taxas de processos judiciais na Itália
Para exemplificar a desproporcionalidade da nova taxa para os processos judiciais de reconhecimento da cidadania italiana, relacionamos algumas taxas aplicadas em processos civis na Itália, alguns deles patrimoniais, envolvendo grandes cifras.
Processos de Valor Indeterminável | 1º Grau – Processos administrativos de valor indeterminável
€ 650, Processos civis de valor indeterminável € 518, Processos contenciosos de competência exclusiva do juiz local € 237, Processos tributários de valor indeterminado € 120.
Tabela de Contribuição Unificada | Processo Civil – 1º Grau – Valor da Causa Contribuição:
Valor até € 1.100, € 43; Valor Superior a € 1.100, e até € 5.200, € 98; Valor Superior a € 5.200, e até € 26.000,€ 237; Valor Superior a € 26.000, e até € 52.000, € 518; Valor Superior a € 52.000, e até € 260.000, € 759; Valor Superior a € 260.000, e até € 520.000, € 1.214; Valor Superior a € 520.000, € 1.686.
Leia também:
Brics pede fim de guerras e de tensões
O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, cobrou a atuação diplomática de países do Brics – grupo que reúne 11 nações emergentes e em desenvolvimento – para a busca de solução de guerras e conflitos regionais.A declaração do chanceler brasileiro foi feita nesta segunda-feira, durante abertura do encontro de ministros de Relações Exteriores do Brics, que vai até esta terça-feira no Rio de Janeiro.
Segundo a Agência Brasil, entre os presentes na sala onde Vieira fez o pronunciamento estava Sergey Lavrov, o chanceler da Rússia, país em guerra com a Ucrânia. A guerra teve início após a Rússia invadir o país vizinho em fevereiro de 2022, sob a alegação de que a aproximação da Ucrânia com a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) – aliança de países ocidentais – colocava em risco a segurança russa.
Nesta segunda-feira, a Rússia declarou cessar-fogo unilateral de três dias, de 8 a 10 de maio, para lembrança da vitória contra os nazistas na Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
No discurso aos demais chanceleres, Vieira não citou nominalmente a Rússia.
“O conflito na Ucrânia continua a causar pesado impacto humanitário, ressaltando a necessidade urgente de uma solução diplomática que defenda os princípios e os propósitos da Carta das Nações Unidas”, disse o ministro.
Vieira lembrou que, em um esforço para o fim da guerra, o Brasil e a China – outro integrante do Brics – organizaram uma reunião de alto nível em setembro do ano passado, em Nova York, nos Estados Unidos, que levou a criação do Grupo de Amigos da Paz, reunindo países do Sul Global – nações em desenvolvimento, localizados principalmente no hemisfério sul. “Permanecemos comprometidos em continuar trabalhando pela paz e por uma solução política para o conflito”, disse o diplomata brasileiro.
Multilateralismo
O encontro dos chanceleres acontece no Palácio Itamaraty, espaço que foi sede do Ministério das Relações Exteriores durante grande parte do século 20, e serve para os ministros alinharem posições a serem defendidas no encontro de cúpula, que reunirá chefes de Estado e de governo nos dias 6 e 7 de julho, também no Rio de Janeiro.
“Esta reunião acontece em um momento em que nosso papel como grupo é mais vital do que nunca. Enfrentamos crises globais e regionais convergentes, com emergências humanitárias, conflitos armados, instabilidade política e a erosão do multilateralismo”, declarou Vieira.
“Com onze estados-membros representando quase metade da humanidade e uma ampla diversidade geográfica e cultural, o Brics está em uma posição única para promover a paz e a estabilidade baseadas no diálogo, no desenvolvimento e na cooperação multilateral”, completou.
O pronunciamento do ministro não faz citação direta aos Estados Unidos, país que tem defendido políticas de protecionismo e é contra o multilateralismo.
Mauro Vieira afirmou ainda que o Brics está unido em torno da ideia de que a paz não pode ser imposta, e, sim, construída. Além disso, afirmou que o grupo “reconhece os interesses estratégicos e os legítimos interesses econômicos e de segurança de cada membro”.
No exercício da presidência temporária do Brics, o Brasil leva para o foro internacional o objetivo de mudança na governança global, que passa pela reforma e ampliação do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), no qual apenas cinco países têm poder de veto: Estados Unidos, Reino Unido, França, China e Rússia. “Para melhor refletir as realidades geopolíticas contemporâneas”, justificou Vieira.
Faixa de Gaza
O ministro lembrou conflitos que não possuem envolvimento direto de integrantes do Brics. Ele deu destaque à “situação devastadora nos territórios palestinos ocupados”, invadidos por Israel em outubro de 2023, após o Estado judeu sofrer ataques e sequestros do grupo extremista palestino Hamas. “A retomada dos bombardeios israelenses em Gaza e a obstrução contínua da ajuda humanitária são inaceitáveis. O colapso do cessar-fogo anunciado em 15 de janeiro é deplorável”, disse Vieira.
O ministro pediu às duas partes envolvidas esforços para cumprirem integralmente os termos do acordo e a se engajarem em prol de uma cessação permanente das hostilidades.
“É necessário assegurar a retirada total das forças israelenses de Gaza, assegurar a libertação de todos os reféns e detidos e garantir a entrada de assistência humanitária”.
O Brasil defende, afirmou o ministro, a solução de dois Estados, com um Estado da Palestina independente e viável, dentro das fronteiras de 1967, e com Jerusalém Oriental como sua capital, vivendo lado a lado com Israel.
A situação critica no Haiti, em que a ordem pública foi desmantelada por gangues armadas, e tensões no Sudão, na região dos Grandes Lagos e no Chifre da África, também foram citadas.
O ministro defendeu que em zonas de conflito o acesso à ajuda deve ser incondicional e imparcial. “O sofrimento humano jamais deve ser instrumentalizado”, declarou.
Mauro Vieira manifestou que o caminho para a paz “não é fácil nem linear”, mas que o Brics pode e deve ser uma força para o bem, “não como um bloco de confronto, mas como uma coalizão de cooperação”. “Devemos liderar pelo exemplo, reafirmando nossa crença em um mundo multipolar onde a segurança não é privilégio de poucos, mas um direito de todos”, finalizou.
Gastos militares em 2024 atingem maior nível desde Guerra Fria
EUA representaram 37% dos gastos militares em 2024; somada a Otan, participação vai a 55% do total
Monitor e Xinhua assinam carta de parceria de comunicação do Sul Global
Mídias participarão da implementação da Rede de Notícias dos Meios de Comunicação Social do Sul Global
Portugal e Espanha: CE não tem provas de ciberataque no apagão
Segundo vice-presidente-executiva da comissão, Teresa Ribera, ‘foi uma das maiores falhas no sistema elétrico nos últimos anos’ na UE.
Espanha e Portugal sofrem com apagão
A operadora da rede elétrica espanhola Red Electrica disse que estava trabalhando com as empresas de energia para restaurar a energia depois que grande parte da Espanha e de Portugal foi atingida por um apagão nesta segunda-feira. A E-Redes, uma empresa espanhola de monitoramento da rede elétrica, afirmou em comunicado que estava trabalhando para restabelecer […]
Gaza: com bloqueio, mais de um milhão de crianças correm risco de morrer de fome
Mais de 50 pessoas morreram de fome, segundo autoridades locais, e ‘a fome não é mais uma ameaça, mas uma amarga realidade’