Comitê atropela lista tríplice na Petrobras

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Edifício sede da Petrobras no Centro do Rio (Foto: Fernando Frazão/ABr)
Edifício sede da Petrobras no Centro do Rio (Foto: Fernando Frazão/ABr)

O Conselho de Administração da Petrobras se reúne nesta quarta-feira e vai se deparar com uma situação inusitada para aprovação do novo diretor de Governança e Conformidade da companhia. A lista tríplice, com sugestão de nomes para ocupar a diretoria, encaminhada pelo presidente da companhia, Jean Paul Prates, teria sido ‘atropelada’ pela indicação, em paralelo, do nome de Salvador Dahan, que ocupou essa mesma diretoria de maio de 2021, até o último dia 13 de abril. A observação é da Federação Única dos Petroleiros (FUP).

A indicação de Dahan para recondução ao cargo surpreendeu. Ela foi apresentada de forma pouco usual pelo Comitê de Pessoas da Petrobras (Cope), formado por quatro membros: um de fora da empresa, outro ligado aos acionistas minoritários e dois da União, ainda do período Bolsonaro. O estatuto da empresa diz que cabe à diretoria executiva da companhia iniciar o processo de escolha do diretor, quando termina o mandato.

“Mas Dahan conseguiu se enfiar numa lista quádrupla para a escolha, contrariando as regras internas da empresa. O nome dele apareceu via o Cope, que não tem a faculdade de incluir mais um nome. Quem faz a lista é um grupo de trabalho (GT), nomeado pela diretoria executiva da Petrobras, a quem cabe exclusivamente iniciar o processo”, ressalta o coordenador-geral da FUP, Deyvid Bacelar.

Segundo ele, “o Cope usurpou as funções do GT ao inserir um quarto nome na lista tríplice. Está errado. É insurgência total ao estatuto, às regras da companhia”. Os nomes serão levados à reunião do CA, que antecede a assembleia geral (AGO) da empresa, marcada para a próxima quinta-feira, 27. A indicação paralela de Dahan é criticada por empregados da Petrobras, não apenas por violar regulamento interno e contrariar, paradoxalmente, princípios de governança. Mas sobretudo pela considerada “negligência” do ex-diretor em questões que envolvem violência no trabalho, assédio moral e sexual na empresa, com casos crescentes nos últimos anos.

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A diretoria de Governança e Conformidade, que tem sob seu guarda-chuva a área de Ouvidoria, entre outras, é responsável também por esses temas. “Pesa sobre Dahan a responsabilidade de engavetar denúncias contra assédio moral e sexual na Petrobras”, afirma a diretora da FUP, Cibele Vieira, membro do Coletivo de Mulheres Petroleiras (CMP), com atuação no Grupo de Trabalho da Petrobrás para o combate à violência sexual, criado no início deste mês, na administração de Prates. Segundo registros da Petrobras, somente em 2022, foram recebidas 64 denúncias de violência sexual, sendo 60 arquivadas pela empresa. A denúncia de assédio sexual e estupro cometidos por funcionários, dentro do Centro de Pesquisa da empresa (Cenpes) é de 2022, e, na época, a companhia não fez qualquer movimento. “A violência ocorreu há sete meses e só houve punição ao agressor em março de 2023, após o Ministério Público denunciar”, destaca Cibele. A diretora da FUP informou ainda que, no ano passado, foram 851 denúncias de violência no trabalho, com crescimento de 23% sobre 2021.

“A gestão passada da Petrobras, com sua diretoria de governança e conformidade, não deu atenção devida às denúncias de violência no trabalho, falhou ao não prover canais adequados para apurar e combater o assédio moral e sexual na empresa, colocando em risco a saúde física e psicológica dos trabalhadores e o ambiente de trabalho”, lamenta a representante do CMP.

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