O burnout já atinge mais de oito entre dez brasileiros. É o que mostrou pesquisa de setembro de 2022 realizada pelo 121 Labs, empresa que atua como um laboratório de inovação em experiência do consumidor e que promove pesquisas sobre o cenário econômico e social do país. A síndrome – que é considerada uma doença ocupacional, ou seja, do trabalho – é um dos assuntos mais debatidos no universo corporativo. Muito se discute sobre estresse, excesso de ligações em vídeo e alta carga de trabalho, mas um assunto passa batido: a síndrome de burnout está muito ligada ao dinheiro.
Uma pesquisa publicada no Journal of Organizational Behavior aponta que o burnout tem seis causas principais: excesso de trabalho, falta de senso de comunidade, pouco alinhamento entre valores e habilidades no trabalho, sensação de falta de controle, sensação de injustiça e falta de recompensa pelo esforço. Os dois últimos mexem no bolso, mesmo que de forma psicológica. Se a recompensa pelo trabalho é, principalmente, o dinheiro, a falta dele cria uma desconexão; ora, se a pessoa trabalha tanto, ela deveria ter acesso à recompensa por todo esse esforço.
Porém, o burnout não se encontra apenas em profissionais que recebem um salário mínimo ou que ganham pouco. A síndrome se espalha por todas as classes sociais, gêneros e níveis de educação. Isso acontece porque a falta de dinheiro é sintoma da falta de motivação. Uma pesquisa da revista Applied Nursing Research mostra uma ligação entre salários maiores e satisfação com o trabalho em profissionais de saúde.
Mas, em um cenário de recessão econômica, é difícil imaginar que todos consigam aumento de salário e promoções de cargo. Portanto, a questão da motivação pode ser vista de outro ângulo. A motivação pode ser afetada se o funcionário sentir mais propósito no seu trabalho, assim como se ele se sentir mais preparado para o trabalho que precisa fazer. É interessante, claro, que se invista em iniciativas de RH e cursos para capacitação da equipe, mas a questão financeira ainda pesa: por mais capacitado e cheio de propósito que o trabalhador esteja, é difícil não sentir estresse com o trabalho quando ele sabe que as contas não irão fechar no fim do mês.
Se o dinheiro não é infinito, a capacidade de lidar melhor com a quantia pode ser trabalhada. Para evitar o burnout na equipe, a empresa pode investir em treinar o time em um tema importante, mas frequentemente esquecido: saúde financeira. Aprender a cuidar do próprio dinheiro faz a equipe aprender também a lidar melhor com o dinheiro da empresa, reduzindo desperdícios e aumentando as receitas. Comprovando a máxima de que com colaboradores tranquilos e motivados, o nível de produtividade só cresce e ajuda ainda mais a empresa, independente do segmento.
André Barretto é fundador e CEO da plataforma de orientação financeira n2 app.