Como e por que investir fora do Brasil em 2025

Investimentos internacionais crescem entre brasileiros: offshores, ETFs e proteção patrimonial. Por Gilmara Santos

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Mulher observa cotações da Bolsa de Valores
Mulher observa cotações da Bolsa de Valores (foto divulgação B3)

Em meio às incertezas políticas e econômicas no cenário global, a busca por investimentos internacionais tem ganhado força entre os brasileiros. Segundo levantamento da 3P Capital, assessoria especializada em investimentos, o volume aplicado fora do país registrou um salto de aproximadamente 320% em agosto, na comparação com julho.

O movimento também se refletiu no número de novas contas offshore, que teve alta de 180% nos últimos meses. O crescimento, de acordo com a empresa, foi impulsionado, em grande parte, por investidores iniciantes nesse tipo de operação, que nunca haviam transferido recursos para fora do Brasil.

Segundo Felipe Chad, sócio e fundador da 3P Capital, o movimento deixou de ser pontual e se tornou estrutural. “O investidor brasileiro, especialmente do interior, está diversificando de forma mais completa. Em vez de se limitar a BDRs ou produtos listados no Brasil, está adotando soluções offshore com remessa efetiva de recursos para o exterior.”

Para Chad, “isso abre espaço para carteiras em dólar com renda fixa e ações globais, além de estruturas de proteção patrimonial e sucessão internacional. Entre os produtos que mais se destacam, vemos ETFs listados nos EUA, trusts e estruturas offshore em paraísos fiscais, que antes eram comuns apenas entre os super-ricos, mas agora já atraem clientes com patrimônio internacional abaixo de um milhão de dólares”, diz.

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Por que ter investimentos internacionais?

Para o advogado Marco Aurélio Gonzaga da Cunha, sócio da Guarnera Advogados, o investimento em offshores está cada vez mais popularizado por algumas razões, que variam desde motivação política até diversificação de investimento.

“De maneira geral, o investimento em offshores sempre foi visto como um movimento muito complexo e custoso para a maioria das pessoas, de modo que foi historicamente reservado às pessoas com maior poder aquisitivo”, explica.

“Até mesmo por estar distante dos centros financeiros globais e pelas dificuldades técnicas/tecnológicas de investir no exterior, o brasileiro sempre foi guiado por um viés conhecido como home bias (tendência dos investidores, individuais ou institucionais, de preferir e concentrar a maior parte dos seus investimentos em ativos do próprio país, em detrimento de oportunidades em mercados internacionais)”, afirma Cunha.

Principais motivações para investir no exterior

O advogado Samuel Vilarinho, sócio-fundador do Vilarinho Advogados, destaca que diversos fatores contribuem para a crescente busca dos brasileiros por investimentos internacionais e cita que as principais motivações incluem:

  • Diversificação da carteira: investir fora do Brasil permite reduzir a exposição a riscos locais, como a volatilidade econômica e política do país.
  • Novos mercados: acesso a mercados e setores pouco representados no Brasil, como tecnologia de ponta, biotecnologia e cibersegurança, o que pode aumentar o potencial de retornos.
  • Proteção cambial e exposição ao dólar: o dólar possui um histórico de valorização em relação ao real, especialmente em períodos de instabilidade econômica global ou incerteza no Brasil. Investir em dólar pode ajudar a reduzir os impactos inflacionários brasileiros.
  • Facilidade de acesso: a digitalização e o surgimento de fintechs têm simplificado o processo de abertura de contas e investimentos no exterior, tornando-o mais acessível a um número maior de brasileiros.

“O cenário econômico do Brasil em 2025 apresenta características que podem incentivar a busca por investimentos no exterior, como inflação acima da meta, crescimento econômico moderado, complexidade tributária e instabilidade regulatória”, afirma Vilarinho.

Investimentos internacionais e paraísos fiscais

Para Cunha, com a evolução tecnológica e a multiplicação de empresas que oferecem esse serviço nos últimos anos, tornou-se menos custoso e muito mais fácil gerir à distância sociedades constituídas em outras jurisdições, inclusive em jurisdições com tributação favorecida, popularmente conhecidas como paraísos fiscais.

Some-se a isso o fato de essas jurisdições oferecerem proteção patrimonial contra instabilidade econômica e política do país (incluindo proteção cambial), bem como o acesso a mercados estrangeiros que talvez não seriam acessíveis diretamente do Brasil, temos as razões para o aumento considerável na adoção desses veículos por cidadãos brasileiros ou residentes no país.

De acordo com ele, a legislação brasileira tem tornado cada vez menos atrativa a manutenção de offshores por residentes. Seja para pessoas que pretendem utilizá-las para fins lícitos, uma vez que implementou mudanças tributárias significativas e passou a tributar os ganhos auferidos por essas sociedades, mesmo quando não nacionalizados; seja para pessoas que pretendem utilizá-las para fins à margem da legalidade, uma vez que vem implementando cooperação com as principais jurisdições a fim de evitar a ocultação dos respectivos beneficiários.

Principais ativos internacionais

Chad considera que diversos ativos podem ser boas oportunidades e lista os principais:

Renda fixa em dólar: títulos do Tesouro americano (Treasuries) são hoje a opção mais segura e conservadora, mas há também boas oportunidades em bonds corporativos, que oferecem proteção cambial e maior previsibilidade de retorno.

ETFs globais: fundos que replicam índices como S&P 500 ou Nasdaq, além de ETFs setoriais (tecnologia, saúde, energia), permitem ao investidor acompanhar tendências globais e ter uma diversidade enorme de ativos. Muitos desses fundos podem inclusive ser adquiridos em reais em plataformas nacionais, como o próprio BTG, caso o cliente não queira sair dos parceiros locais.

Fundos multimercados internacionais: acessíveis em plataformas brasileiras, já oferecem alocação relevante no exterior de forma prática.

Trusts e estruturas de sucessão: indicados para quem tem patrimônio elevado ou preocupação com herança e planejamento sucessório.

Investimentos alternativos: como REITs (fundos imobiliários globais), ouro e private equity, que podem trazer descorrelação com o mercado tradicional.

De acordo com Felipe Chad, o perfil predominante entre os investidores do interior continua sendo de empresários e produtores rurais focados em proteção de patrimônio, sucessão e diversificação. No entanto, cresce a participação de clientes mais jovens, interessados em formar reservas para aposentadoria global, e de pais que investem para custear a educação dos filhos no exterior. Apesar de mais atentos ao tema, muitos ainda chegam aos assessores com carteiras desalinhadas às suas necessidades, exigindo revisão.

Como investir no exterior?

O fundador da 3P Capital ressalta que existem caminhos simples e acessíveis para investir e cita alguns:

– Abrir conta em corretora internacional (offshore ou que dê acesso a ativos globais diretamente).
– Aproveitar as plataformas brasileiras, que oferecem BDRs e fundos com exposição global, sendo uma alternativa simplificada.
– Realizar remessas internacionais para investir diretamente em ETFs, ações e bonds no exterior, quando o objetivo é ter maior autonomia e diversificação.

“O mais importante é que o investidor alinhe essa escolha ao seu perfil, objetivos e horizonte de longo prazo. O acesso hoje está cada vez mais democrático e não é mais algo restrito a grandes fortunas, mas uma possibilidade real para quem busca proteção e crescimento do patrimônio em escala global”, diz Chad.

A expectativa da 3P Capital é que a tendência de investimentos internacionais siga em alta pelo menos até o fim deste ano, influenciada pelo ambiente político e econômico, e que volte a ganhar força em 2026 com o período eleitoral.

“Assim como a previdência e a poupança foram no passado, investir no exterior está se tornando parte fixa da carteira dos brasileiros, independentemente de crises. O desconhecimento ainda é a maior barreira, mas, quando o investidor entende as regras e benefícios, a aceitação é muito alta”, finaliza Chad.

Por Gilmara Santos, especial para o Monitor Mercantil

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