Mercados financeiros perdem trilhões de dólares

Índice Nikkei do Japão registra o pior dia desde 1987; criptomoedas também caíram fortemente, com leve recuperação ao final do dia

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Pedestre passa por tela com cotações da Bolsa de Tóquio
Pedestre passa por tela com cotações da Bolsa de Tóquio (foto de Yue Chenxing, Xinhua)

As ações dos EUA fecharam em forte queda na segunda-feira, um dia de fortes perdas em todos os mercados globais. O Dow Jones Industrial Average caiu 2,60%, para 38.703,27 pontos. O S&P 500 perdeu 3%, para 5.186,33 pontos. O Nasdaq Composite Index desabou 3,43%, para 16.200,08 pontos. O S&P 500 perdeu US$ 1,3 trilhão em valor de mercado.

A Bolsa de Valores brasileira B3 chegou a cair abaixo dos 124 mil pontos, tocou nos 123 mil pontos, mas o Ibovespa conseguiu ficar em 125.269,54 pontos no encerramento da sessão, com queda de 0,46%. O dólar teve alta de 0,56%, cotado a R$ 5,74, maior valor desde outubro de 2020.

O pânico tomou conta dos mercados financeiros após dados levarem a temor de recessão nos EUA e depois do aumento da taxa de juros no Japão, semana passada. O fluxo de vendas de ativos financeiros foi tão grande que os circuit breakers (interrupção do pregão quando ocorrem oscilações muito bruscas no mercado) foram acionados em Bolsas por toda a Ásia.

No Japão, a queda do preço das ações ficou acima de 12%, o pior dia desde o crash de 19 de outubro de 1987.

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Para Alex Carvalho, analista da CM Capital, “após o Japão elevar sua taxa de juros de 0,10% para 0,25% a.a. o cenário econômico se tornou ainda mais incerto, o medo de uma noiva recessão nos EUA se torna ainda mais forte nos movimentos mais recentes. Tal comportamento indica inflação ainda em níveis elevados globalmente, mostrando dificuldade em novos cortes de juros. Para abertura de hoje, devemos ter um comportamento semelhante aos movimentos internacionais, ou seja, também de queda, no entanto, ainda estamos na temporada de balaços, que a depender dos novos números, algumas ações podem surgir como oportunidades em nossa Bolsa.”

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Segundo o G1, citando a AFP e Reuters, “o movimento é uma consequência da junção de dois fatores: os juros altos que visam conter a inflação nos EUA e a divulgação de dados fracos sobre geração de empregos última sexta-feira. Ambos ampliaram o medo de recessão, desencadeando uma grande aversão ao risco e apostas de que as taxas de juros terão que cair de modo acentuado e rapidamente para conter a inflação.”

Já para Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, “a realização que estamos observando não é nova; começou na sexta-feira. Na semana passada, a taxa de juros do Japão subiu, alcançando o nível mais alto desde 2008. Isso gerou uma pressão local para a migração de recursos da renda variável para a renda fixa, apesar de a taxa ser de apenas 0,25%, que ainda é muito baixa. Considerando que o Japão teve taxas negativas ou zero por muitos anos, essa mudança é compreensível.”

“Sobre o relatório de mercado de trabalho americano, ele não trouxe grandes novidades, apesar do que estão dizendo hoje. O relatório aponta um aumento na taxa de desemprego, mas ainda assim, 4,3% é uma taxa relativamente baixa. A maioria dos grupos de trabalhadores ainda está com taxas abaixo de 4%, exceto os menos escolarizados, com 6,7%, e aqueles que completaram o ensino médio, com 4,6%. Os salários também pararam de crescer rapidamente, o que sugere possíveis cortes de juros no futuro. Portanto, parece ser um conjunto de fatores, e não apenas o relatório de mercado de trabalho, que está influenciando a situação. Recentemente, balanços de empresas dos EUA e da Europa decepcionaram, especialmente nos setores automobilístico e financeiro na Europa e no setor de tecnologia nos EUA. Esses setores, que antes atraíam muitos recursos nas principais bolsas, agora estão apresentando um desempenho abaixo do esperado.”

Ainda segundo ele, o ex-presidente “Donald Trump tem se posicionado contra a liberdade de transações de empresas de tecnologia pelo mundo, o que também tem influenciado o mercado globalmente. O relatório de mercado de trabalho americano poderia acelerar a ideia de cortes de juros pelo Banco Central americano, o que, na minha opinião, não é negativo, pois a economia americana ainda está crescendo, como mostram outros indicadores.”

Em meio ao colapso dos mercados, as criptomoedas também começaram a cair fortemente. O bitcoin já caiu mais de 12%, fechando em queda de 6,6% a US$ 55 mil.

Segundo Julio Andreoni, especialista de criptoativos do Bitybank, “na sexta-feira, o relatório de emprego dos EUA revelou o maior nível de desemprego no país desde outubro de 2021, atraindo considerável atenção de Wall Street. Como consequência, mais de US$ 2,9 trilhões evaporaram do mercado acionário apenas na sexta-feira. Assim, nos últimos dias da semana, observou-se uma mudança brusca no sentimento do mercado.”

“Devido a essa mudança de perspectiva, as Bolsas ao redor do mundo apresentaram quedas expressivas, com o próprio Bitcoin registrando uma queda de mais de 15%, atingindo o patamar de US$ 51 mil. O Ethereum também sofreu uma desvalorização superior a 20% nas últimas 24 horas. A preocupação no cenário macroeconômico reside na possibilidade de que o Federal Reserve tenha desacelerado excessivamente a economia e não tenha flexibilizado a política monetária de maneira oportuna, demorando para reduzir as taxas de juros no país. Desta forma, a partir desta semana, resta aguardar os pronunciamentos dos presidentes do Fed, especialmente de Jerome Powell, para entender como eles responderão a essa nova dinâmica de mercado e ao sentimento que mudou drasticamente nos últimos dias.”

Já segundo Ana de Mattos, analista técnica e trader parceira da Ripio, “na sexta-feira, o preço do Bitcoin iniciou um movimento de queda causado pela divulgação dos indicadores macroeconômicos, os quais vieram negativos para o mercado de renda variável, e isso inclui o mercado de criptomoedas.”

“A queda se intensificou nos dias subsequentes com o temor de conflito no Oriente Médio, risco de recessão nos EUA e com o fato da Bolsa do Japão (Nikkei) ter apresentado uma queda de 12.4%, sendo essa a pior queda desde 1987. A variação do preço do Bitcoin entre 2 e 5 de agosto, até o momento desta publicação, representa uma queda de 25%, onde o preço da principal criptomoeda do mercado deixou de ser negociada por US$ 65.596 e atingiu a mínima de US$ 49 mil, valor este que não era visto desde fevereiro deste ano.

Apesar de toda queda dos últimos dias, devemos considerar a possibilidade do preço corrigir ainda mais, mas, isso não significa que o preço que está sendo negociado agora (US$ 49 mil) não esteja interessante para fazer o DCA (aportes fracionados) pensando no longo prazo.”

Segundo ela, caso ocorra uma queda ainda mais acentuada, o preço do bitcoin poderá buscar a próxima região de liquidez nos US$ 44 mil e US$ 41 mil.

“Para que ocorra a reversão da tendência de baixa, ou pelo menos a estabilização no preço, é preciso que entre bastante fluxo comprador absorvendo a queda. As resistências de curto e médio prazo estão nas áreas de valor de US$ 55.230 e US$ 63.600.”

Quanto ao Ethereum, o preço também está sofrendo com as quedas e passou por uma grande correção, deixando de ser negociado por US$ 3.220 e atingindo a mínima, até o momento desta publicação, de US$ 2.120, ou seja, uma queda de 34,20%.

“Ao analisar o fluxo, é possível observar que a força vendedora continua forte, o que sugere que o preço poderá cair ainda mais e buscar os US$ 2.010 e US$ 1.795 como pontos de suporte. Mas, caso entre força compradora, as resistências estão nas faixas de preços de US$ 2.500 e US$ 2.700”, diz Ana.

Matéria atualizada às 15h e às 19h29

Com informações da Agência Xinhua e do G1, citando a AFP e Reuters

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