Como virar o jogo?

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Protesto contra privatização (Rovena Rosa, ABr)
Protesto contra privatização (Rovena Rosa, ABr)

Não se trata da questão de implementar uma política econômica ‘correta’

 

As respostas do capitalismo para tentar recuperar-se da crise nos últimos anos impuseram aos países da periferia da economia mundial um acirramento da dependência financeira e tecnológica. A única possibilidade de desenvolvimento capitalista periférico parte do esmagamento da remuneração da força de trabalho, como forma de elevar as taxas internas de retorno das empresas sediadas no interior da economia brasileira.

A estratégia de desenvolvimento e a política econômica podem aprofundar o grau dessa dependência, ao elevar a vulnerabilidade externa das economias, como acontece com programas ultraliberais de entrega do patrimônio público, ou reduzir o grau dessa dependência e vulnerabilidade, ao restringir o grau de abertura externa dessas economias periféricas. Retardatária, a América Latina foi uma das últimas regiões do planeta a se industrializar, e um novo salto qualitativo só será possível mediante uma revolução nas relações de produção. Um desafio inconteste para suas elites.

Obviamente, isso não é obtido com medidas tópicas de administração de certas variáveis (taxa de câmbio, oferta de crédito, taxa de juros etc.), mas a partir de políticas que, por exemplo, reduzam o grau de abertura externa, comercial e financeira, nas economias latino-americanas da atualidade, elevem a capacidade de controle cambial, tendo em vista os problemas nas contas externas, e revertam o atual grau de flexibilização e desregulamentação dos mercados. Isso, contudo, depende de correlação de forças políticas e muita luta social.

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A política econômica pode ainda promover um processo redistributivo interno às economias periféricas, reduzindo a característica estrutural de concentração de renda e riqueza. Uma proposição desse tipo já enfrentaria resistências político-ideológicas internas e externas não desprezíveis. Entretanto, qualquer que seja a administração da política econômica, ela não tem como resolver os problemas estruturais colocados pela situação de dependência, uma vez que esta é parte constituinte da própria lógica de acumulação de capital em escala mundial.

Acreditar no contrário, ou seja, que tudo é uma questão de implementar uma política econômica “correta”, significa conceber a dicotomia desenvolvimento versus subdesenvolvimento como mera diferenciação quantitativa, sem relação com a dinâmica de acumulação de capital mundial, e como fenômenos meramente antagônicos e não complementares.

Basta se espelhar no exemplo gritante do tempo presente. Afinal, diante da combinação de crise econômica cíclica e guerra no mundo, a quem interessa uma Petrobras “autônoma” praticando preços abusivos? Um Banco Central “independente” permitindo juros extorsivos? Uma captura do orçamento público pela malta rentista? Ou metas de inflação irrealistas que permitem à autoridade monetária promover um choque recessivo na economia brasileira? Reflitamos, pois!

 

Ranulfo Vidigal é economista.

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