O dia de ontem foi de mercados de risco revertendo tendência do início da manhã. Logo cedo, as Bolsas da Europa seguiam a trilha de alta dos mercados da Ásia, o mesmo acontecendo com o mercado americano na volta do feriado e também com a Bovespa tentando recuperar. Dólar e juros por aqui também começando com tendência de queda.
Porém, no segmento local, ainda reverberava as declarações de Jair Bolsonaro e as dificuldades de logística para entregar as cotas de vacinas aos estados. Lembramos que ontem, o presidente citou que as Forças Armadas é que definiam se o povo iria viver com democracia ou ditadura, o que foi bastante contestado por autoridades e ex-ministros do próprio presidente. Já com relação às vacinas, somente nove estados receberam seus pequenos lotes, enquanto a Índia anunciava que poderia começar a exportar ainda a partir desta quarta. O Brasil teria 2 milhões de doses para receber, mas não está na lista divulgada.
Os mercados externos, por sua vez, olhavam para dois eventos. De um lado, a expansão da Covid-19 com variantes que estão assustando, e de outro, a vacina em escala das populações. Angela Merkel prorrogou até dia 14 de fevereiro o lockdown (confinamento), e estimulou o trabalho em home office para aplacar contágio. Já a União Europeia espera ter vacinado 70% da população da Europa até o final do terceiro trimestre. Membros da União Europeia esperam que o parlamento vote até fevereiro o plano de recuperação e conta com a ajuda dos bancos dando suporte à economia e querem estreita colaboração com o governo de Biden que toma posse nesta quarta.
Nos EUA, o foco estava com Janet Yellen, que assume com força o Tesouro americano, após ter presidido o Fed. Yellen disse ser preciso fazer mais para apoiar a economia, que o consenso sem ação do governo corre o risco de recessão prolongada e que o pacote de estímulo de Joe Biden gera mais benefícios que riscos. Yellen também falou da prioridade de investir em infraestrutura, precisam de mais financiamento para pagar cheques de ajuda as famílias e enfrentar práticas abusivas e injustas da China. Sobre dólar, espera-se que as práticas de mercado deem o tom aos países que manipulam o câmbio para obter vantagens competitivas.
No mercado internacional, o petróleo WTI negociado em Nova Iorque mostrava alta de 1,16%, com o barril cotado a US$ 52,97. O euro era transacionado em alta para US$ 1,213 e notes americanos de 10 anos com juros de 1,08%. O ouro e a prata com altas na Comex e commodities agrícolas com viés de queda na Bolsa de Chicago. O minério de ferro negociado em Qingdao na China registrou queda de 1,57%, com a tonelada em US$ 171,33.
No segmento doméstico, além das preocupações com a fala de Bolsonaro, os investidores se preocuparam com o quadro fiscal, diante das declarações sobre estender o auxílio emergencial por dois ou três meses, e a possibilidade de voltarem com a cobrança da CPMF modificada. Além disso, já dão como certo que a tributação maior sobre dividendos deve sair. A Bovespa chegou a perder o patamar de 120 mil pontos e só melhorou quando o mercado americano firmou maior alta com a fala de Yellen, mas em seguida voltou a piorar. O temor com o fiscal passou a ser uma situação real, além das falas aparentemente desencontradas para o momento do presidente.
Rodrigo Maia, presidente da Câmara dos Deputados, decidiu sair na frente e negociar insumos da vacina com a China, diante da dificuldade do ministro das relações externas junto aos chineses, o que poderia complicar mais a situação de fabricação e obtenção de vacinas. Na economia, a FGV anunciou que a segunda prévia do IGP-M de janeiro subiu para 2,37%, e em 12 meses assinala 25,46%, que não está sendo repassado aos aluguéis de imóveis que, no geral, são ajustados pelo indicador.
No mercado, dia de dólar começando em queda e depois subindo forte pelas inconstâncias e temores, atingindo mais de R$ 5,33, para fechar com alta de 0,77% e cotado a R$ 5,34. Na Bovespa, temos o melhor cenário com os investidores estrangeiros em mais um dia de alocação de recursos. No pregão do dia 15, ingressaram R$ 883,24 milhões, deixando o saldo acumulado do mês positivo em R$ 18,85 bilhões.
No mercado acionário, a terça foi dia de queda da Bolsa de Londres de 0,11%, Paris com -0,33% e Frankfurt com -0,24%. Madri e Milão com perdas de respectivamente 0,67% e 0,25%. No mercado americano, o Dow Jones com +0,38% e Nasdaq com +1,53%. Na Bovespa, dia de queda de 0,50% e índice em 120.636 pontos, após ter feito máxima em 122.120 pontos.
Na agenda desta quarta, teremos o IPC da Fipe da segunda quadrissemana de janeiro e o fluxo cambial na semana anterior pelo BC, além da decisão do Copom que não deve mexer nos juros, mas deve retirar o forward guidance. Na Zona do Euro, a inflação de dezembro pelo CPI (consumidor) e nos EUA a confiança do construtor de janeiro.
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Alvaro Bandeira
Sócio e economista-chefe do Banco Digital Modalmais
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