Já no início do ano, foram revelados os níveis recordes de temperatura, apresentando-se 2024 como o ano mais quente já registrado, com temperatura acima de 1,5ºC. Vemos que a falta de cumprimento do Acordo de Paris de 2015, que previa limitar a temperatura a 1,5ºC, por meio, essencialmente, da substituição do uso de combustíveis fósseis como o petróleo, pode ter efeitos desastrosos sobre o clima. A descarbonização da energia já é uma realidade no Brasil, mas ainda é necessário multiplicar a utilização de energia limpa no país e no mundo.
Dominam os noticiários os incêndios florestais em Los Angeles, nos EUA, e, por outro lado, as chuvas intensas no Sudeste brasileiro, causando inúmeras vítimas. Esse estado crítico do clima demonstra que uma reflexão precisa ser feita para que possamos superar as dificuldades climáticas que se anunciam e evitar maiores danos ambientais e à vida.
O pensador e líder indígena Ailton Krenak salienta que, apesar de todas as evidências – as geleiras derretendo, os oceanos cheios de lixo, o grande número de espécies em extinção –, estamos nos desconectando desse organismo vivo que é a Terra.
Seu povo habita o denominado “Quadrilátero Ferrífero”, em Minas Gerais, onde a lama da mineração de grandes corporações envenena a bacia do rio Doce. Nesse cenário, Krenak ainda aponta alguma esperança: “O tempo passou, as pessoas se concentraram em metrópoles, e o planeta virou um paliteiro. Mas, agora, de dentro do concreto, surge essa utopia de transformar o cemitério urbano em vida. A agrofloresta e a permacultura mostram aos povos da floresta que existem pessoas nas cidades viabilizando novas alianças, sem aquela ideia de campo de um lado e cidade do outro.” (Krenak, Ailton. A vida não é útil, p. 22).
Apesar de seu território estar devastado e sem caça, cumprindo as projeções de antigos pajés, Krenak sugere que ainda há tempo para um armistício e para admitir que “o nosso sonho coletivo de mundo e a inserção da humanidade na biosfera terão que se dar de outra maneira” (idem, p. 44).
Inundações, secas e furacões em maior frequência anunciam os efeitos das mudanças climáticas, mas é possível um futuro mais verde e promissor se cada um, e todos juntos, fizerem a sua parte. Como declarou o secretário Alok Sharma ao encerrar a Conferência de Cúpula na COP 21, em 2015: “As escolhas que faremos nos próximos 12 meses serão decisivas para evitar uma onda de catástrofes climáticas para as próximas gerações.”
Passados quase dez anos do Acordo de Paris, ainda se coloca como um grande desafio para alguns governos limitar o aquecimento global a 1,5°C. As previsões indicam que caminhamos para um aquecimento de 3,5°C a 4°C, quando um aquecimento acima de 2°C já seria catastrófico.
A “corrida para zero” em relação às emissões até 2050, tal como proposta no Acordo de Paris, está sendo perdida, e os participantes parecem não manter o mesmo fôlego que demonstravam em 2015.
Renovar os compromissos entre os países na COP 2030, a ser realizada no Brasil nesse final de ano, será essencial, mas, até lá, qual pacto a população se compromete a cumprir? Como fruto da Cúpula Social, temos que formar uma consciência ambiental que assuma papel de destaque num futuro próximo, trazendo exemplos com a prática cotidiana de cada um.
Desmatamentos ilegais, destruição da biodiversidade e dos ecossistemas pelas queimadas, incêndios florestais causados por uma simples guimba de cigarro nas estradas ou o uso indevido da água, de agrotóxicos e de práticas insustentáveis de despejo de lixo, que acabam contaminando as águas dos mares e rios, são exemplos de que uma maior reflexão e mudança de pequenos hábitos por parte de cada um de nós pode significar grandes contribuições para o meio ambiente.
Que 2025 se inicie com a reflexão de que perder “a corrida para zero” significa um percurso rumo a incertezas climáticas cujos resultados não se anunciam favoráveis e que, nesse percurso, não podemos ser apenas espectadores.