Condições financeiras mais desafiadoras para economias emergentes

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O Banco Central divulgou nesta terça-feira a ata da 244ª reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), realizada nos dias 1 e 2 de fevereiro de 2022. Lembrando que de 9,25%, valor que fechou em 2021, a taxa básica de juros subiu para 10,75%. É a primeira vez em mais de quatro anos que a Selic aparece com 2 dígitos. A interpretação dos economistas é que a tendência é de a taxa básica de juros ficar mais alta nas próximas reuniões. A reportagem do Monitor Mercantil reuniu a opinião de dois economistas sobre o teor da ata da reunião.

De acordo com o documento do BC, no cenário externo, o ambiente segue menos favorável. A maior persistência inflacionária aumenta o risco de um aperto monetário mais célere nos EUA, tornando as condições financeiras mais desafiadoras para economias emergentes. Além disso, a nova onda da Covid-19 adiciona incerteza quanto ao ritmo da atividade, ao mesmo tempo que pode postergar a normalização das cadeias globais de produção. Desde a última reunião, a maioria das commodities reverteu a queda observada no fim do ano e, em alguns casos, atingiram recordes recentes, reforçando o ambiente global de preços mais pressionados.

“Em relação à atividade econômica brasileira, indicadores relativos ao comércio e serviços mostraram evolução ligeiramente melhor que a esperada em novembro, enquanto a indústria apresentou recuperação em dezembro. Indicadores do mercado de trabalho mostraram recuperação consistente de empregos no último trimestre de 2021”, entende o BC.

Para o economista Étore Sanchez, chefe da Ativa Investimentos, a ata da reunião foi relativamente em linha com o comunicado, mas as diferenças apontam para algo mais hawkish do que precificado anteriormente. “A autoridade sinalizou que para buscar a convergência das expectativas de inflação para meta, a autoridade deveria ter um ciclo mais austero do que o precificado pelo boletim Focus”, mencionou.

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Na opinião dele, o Copom avaliou o ritmo apropriado de elevação dos juros. “Analisou suas projeções de inflação utilizando simulações com trajetórias de política monetária com diferentes taxas terminais, ritmos de ajuste e duração do aperto monetário. Vale notar que os cenários considerados, consistentes com a convergência da inflação para suas metas, pressupunham trajetória da taxa de juros superior às utilizadas no cenário de referência”, ressalta.

Ele acredita que os membros do Copom debateram a estratégia mais apropriada. “Concluiu-se que um novo ajuste de 1,50 ponto percentual, seguido de ajustes adicionais em ritmo menor nas próximas reuniões, é a estratégia mais adequada para atingir aperto monetário suficiente e garantir a convergência da inflação ao longo do horizonte relevante, assim como a ancoragem das expectativas de prazos mais longos”, ponderou.

Expectativa

“Vamos manter nossa expectativa de que a autoridade irá subir a Selic em 100bps na reunião de março e encerrará o ciclo de alta dos juros a 11,75%. Isso porque a partir da reunião de maio a autoridade foca apenas em 2023, quando, conforme suas próprias expectativas, o BC já tem a convergência para 3,2%”, destaca o economista da Ativa Investimentos.

Na visão dele, para ter a convergência em 2022 a autoridade monetária precisaria ser mais austera, reconhecendo que deveria ter sido mais hawkish, mas isso não diz respeito a condução austera indiscriminada. “Trata-se de um reconhecimento que visa restabelecer a credibilidade no regime de metas. De todo modo, avalio que o mercado hoje passará a precificar algo mais salgado do que tinha ontem para a reunião de maio”.

O economista traduz que o BC aponta para uma assimetria altista para as expectativas no tocante a fiscal. Trata-se de um posicionamento sinalizando que as iniciativas de alívio inflacionário, que circulam no congresso, têm efeito curto na inflação, mas deterioram as expectativas. “O Comitê nota que mesmo políticas fiscais que tenham efeitos baixistas sobre a inflação no curto prazo podem causar deterioração nos prêmios de risco, aumento das expectativas de inflação e, consequentemente, um efeito altista na inflação prospectiva”, avalia.

De olho no mercado

Na opinião do economista João Beck, sócio da BRA, a ata do Copom mostrou um Banco Central preocupado em relação à interpretação do mercado após o comunicado da decisão na semana passada em relação à desaceleração do ritmo de ajuste. “O Comitê reforçou que não pretende alterar a taxa terminal, mas sim uma desaceleração”, cita.

Para o economista, é natural que nesta fase final do ciclo de alta, o BC adote uma postura cautelosa, dado que impactos de altas passadas ainda não impactaram a economia. “O tom da ata foi duro com o fiscal. O BC citou a proposta de redução de impostos para controlar preços dos combustíveis como agravante para a ancoragem da inflação”, mencionou.

Beck assinala que o último comunicado e também a ata em si não trouxeram qualquer impacto relevante para os mercados. “A mudança da velocidade já era esperada conforme dados de atividade e inflação fossem sendo divulgados. E a taxa terminal não foi alterada. O que devemos colocar no radar agora é o gasto fiscal, principalmente em ano eleitoral assim como os preços das commodities e do petróleo. Ou seja, é para o congresso que devemos olhar se quisermos saber a trajetória da nossa curva de juros”, apontou.

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