O Índice de Confiança do Empresário do Comércio (Icec), apurado mensalmente pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), registrou 108,7 pontos em agosto, representando uma queda de 1,5% em relação a julho. Esta marca a quarta retração consecutiva e a mais acentuada do período. Um ponto crítico se destaca: a confiança dos comerciantes quanto às condições atuais da economia sofreu uma queda de 5%, o menor índice desde novembro do ano passado, quando chegou a cair 5,1%. Em comparação com o mesmo mês do ano anterior, a redução do Icec foi de 1,8%, intensificando a tendência negativa iniciada em janeiro de 2023.
A deterioração na análise dos comerciantes sobre as condições atuais do comércio, que recuou 2,8%, pode ser atribuída à queda de 1% do comércio ampliado em junho, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). As indefinições relacionadas ao futuro da taxa Selic, à inflação e às contas públicas também pressionam as expectativas para os próximos meses. José Roberto Tadros, presidente do Sistema CNC-Sesc-Senac, ressalta que diversos fatores impactam diretamente a confiança dos empresários, especialmente no setor varejista. “A economia brasileira enfrenta um cenário com algumas dúvidas no horizonte, com a questão fiscal e uma inflação que ainda preocupa, apesar dos ajustes recentes na taxa de juros”, afirma.
Em um ambiente econômico mais desafiador, a cautela dos comerciantes reflete-se no mercado de trabalho. A intenção de contratação de novos funcionários registrou uma queda de 1,5% em agosto, enquanto o subindicador que mede as intenções de investimento recuou 0,8%. Contudo, a percepção em relação aos estoques apresentou um leve crescimento de 0,3%, sinalizando a importância do controle de produtos para a manutenção da estabilidade dos negócios.
A confiança do empresário do comércio em agosto foi particularmente afetada no segmento de roupas, calçados, tecidos e acessórios, que registrou queda de 1,8%. Produtos de primeira necessidade, como alimentos e medicamentos, tiveram uma redução de 1,4%, e bens duráveis, como eletrodomésticos e veículos, caíram 1,3%. No segmento de bens semiduráveis, a intenção de investimento na empresa foi o item com maior queda, recuando 2,6%. Entre os bens não duráveis, a maior retração foi na confiança em relação ao momento atual da economia, com uma queda de 4,8%.
Apesar das quedas, o investimento em estoques apresentou um resultado positivo, com crescimento de 1,4% nos bens não duráveis e 0,4% nos duráveis, refletindo a preocupação desses segmentos com o controle de seus produtos, essencial tanto para itens perecíveis quanto para produtos de alto valor agregado. Em contrapartida, o segmento de supermercados, farmácias e lojas de cosméticos apresentou a maior queda na percepção atual do comércio, com redução de 4%, ficando também abaixo do nível registrado em agosto de 2023, uma retração de 7,6%.
Em relação aos empresários de produtos duráveis, houve uma melhora na comparação anual deste item, com aumento de 5,1%, apesar da queda mensal de 2%, atribuída a uma taxa de juros mais favorável em relação ao ano anterior. No entanto, a incerteza sobre a manutenção dessas taxas de juros em níveis baixos e a possibilidade de novos aumentos no futuro já afetam as expectativas para os próximos meses.
O economista-chefe da CNC, Felipe Tavares, observa que o clima de apreensão deve permanecer entre os varejistas.
“Apesar de um cenário de juros mais favorável, a incerteza sobre a duração dessas condições gera cautela entre os empresários, que já começam a prever desafios nos próximos meses”, pondera.
No Rio Grande do Sul, após três meses de quedas consecutivas, o Icec registrou recuperação em agosto, com um aumento de 6,4%, alcançando 99,4 pontos, o maior nível desde maio deste ano, embora ainda abaixo da linha dos 100 pontos. O maior avanço foi observado na avaliação sobre as condições atuais da economia, com um crescimento de 9,7%, o que reflete a confiança dos empresários na recuperação econômica do estado. As intenções de investimento tiveram crescimento de 7,1%, com destaque para a intenção de contratação de funcionários, que aumentou 8,4%, voltando a superar os 100 pontos após dois meses de insatisfação dos comerciantes.
Já o Icec da cidade de São Paulo, elaborado pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (Fecomércio-SP), após meses em queda, cresceu 1,6% em agosto, passando de 106,8 pontos, no mês anterior, para 108,5 pontos neste mês. Em relação a agosto do ano passado, o indicador exibiu leve alta de 0,7%. O Icec varia de zero (pessimismo total) a 200 pontos (otimismo total).
Dentre os três subíndices que compõem o indicador, o Índice das Condições Atuais do Empresário do Comércio (Icaec) registrou alta de 2,4% em relação a julho, atingindo 83,4 pontos – sendo o indicador que mais contribuiu para a recuperação do Icec. Embora permaneça na zona de pessimismo (abaixo dos 100 pontos), o Icaec subiu 6,4% nos últimos dois meses.
Na análise da Fecomércio-SP, esses dados se ligam aos resultados das vendas de Dia das Mães e Dia dos Namorados, além do aquecimento do mercado de trabalho na cidade e do fato de a atividade econômica estar apresentando desempenho mais forte que o esperado para o segundo trimestre, conforme mostraram alguns dados prévios.
A percepção do empresário em relação ao futuro também mostrou reação após quatro quedas seguidas. O Índice de Expectativa do Empresário do Comércio (Ieec) avançou 1,7%, ao passar de 136,6 pontos, em julho, para 138,6, em agosto. Entretanto, registra queda de 0,5% em comparação ao mesmo mês do ano passado. É provável que temas como contas públicas e aumento da carga tributária tenham impactado negativamente a confiança do empresário paulistano quanto ao futuro.
O Índice de Investimento do Empresário do Comércio (IIEC), que mede a propensão dos empresários a investir em contratações, instalações, reformas, entre outros, subiu 0,9% em relação ao mês anterior. Vale destacar que, nos últimos meses, esse subíndice vem flutuando muito próximo dos 100 pontos, apontando um equilíbrio entre os empresários otimistas e pessimistas.
Aprofundando a análise dos dados do IIEC, os resultados mostram que os movimentos positivos estão atrelados à propensão maior a contratar, o que também está relacionado às datas comemorativas. O Índice de Contratação de Funcionários subiu 3,3% em agosto.
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