Conjuntura pesa, mas mercados reagem

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Fachada da Bovespa (Foto: Hugo Arce/Fotos Públicas/reprodução ABr)
Fachada da Bovespa (Foto: Hugo Arce/Fotos Públicas/reprodução ABr)

Pelo menos neste início de dia, os mercados esboçam alguma reação, depois da perda forte do mercado americano de ontem, com conjuntura pesada nas economias, expectativas com juros em alta e diplomacia fervilhando.

Ontem foi dia de volatilidade nos mercados de risco local, com a Bovespa fazendo algumas trocas de sinal ao longo do pregão, dólar também com altas e baixas e juros pressionados. Mercados fracos nos EUA desde a largada só pioraram um pouco mais a situação. A Bovespa ainda conseguiu encerrar com alta de 0,28%, aos 106.667 pontos (vazou 107 mil pontos), dólar com alta de 0,61%, cotado a R$ 5,56, Dow Jones com queda de 1,51% e Nasdaq perdendo 2,80%, com as ações de tecnologia pressionadas na venda.

Investidores preocupados com a expansão da variante Ômicron, inflação em alta e juros também, e a diplomacia internacional em polvorosa com a tensão entre Rússia e Ucrânia. Hoje, mercados da Ásia encerraram majoritariamente em queda, com destaque negativo para a Bolsa de Tóquio (-2,80%). Europa começando o dia com queda, mas melhorando com o petróleo, e futuros dos EUA positivos. Aqui, seguimos mantendo a expectativa de que a Bovespa possa se aproximar de 108.600 pontos, quando ganharia maior tração para galgar patamares mais elevados.

Mas tudo isso fica mais complicado com a percepção de dificuldade para retomada global por conta da desaceleração mostrada pela China, Covid-19 e necessidade de Bancos Centrais de países desenvolvidos domarem a inflação persistente.

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A Agência Internacional de Energia (AIE), em seu relatório de hoje, valia que a demanda por petróleo deve superar em 2022 o período pré-pandemia, com 99,7 milhões de BPD (barris de petróleo por dia). Na Alemanha, a inflação medida pelo CPI de dezembro na comparação anual cresceu 5,3% e em 2021 ficou com alta de 3,1%. No Reino Unido, o mesmo indicador atingiu 5,4%, sendo a maior taxa desde 1997.

A União Europeia elegeu ontem para presidir o Parlamento Europeu uma democrata-cristã de Malta. No mercado internacional, o petróleo WTI, negociado em Nova Iorque, tem mais um dia de alta forte de 1,49%, com o barril cotado a US$ 86,70. O euro era transacionado em alta para US$ 1,135 e notes americanos de 10 anos com taxa de juros de 1,88%. O ouro e a prata com altas na Comex, e commodities agrícolas com desempenho positivo neste início de manhã.

No segmento local, segundo o editorial do Estadão, o Congresso pode estar entrando em surto populista na linha de Bolsonaro ao interagir sobre preços de combustíveis e ICMS dos estados. Já a reforma tributária pode ser novamente adiada por falta de consenso no Senado e sem muito apoio do presidente Bolsonaro. Já a Covid-19 vem batendo recordes diários, o que pode provocar mais restrições de contato.

Na agenda do dia, nada que possa mudar muito os mercados, mas com variações pontuais em função da divulgação de resultados do quarto trimestre de empresas nos EUA. Expectativa de Bovespa podendo emplacar outra alta ajudada pelo petróleo, Petrobras e bancos. Dólar mais fraco e juros ainda pressionados.

 

Inflação, política monetária e diplomacia. É uma síntese das preocupações dos investidores em todo o mundo. A inflação e a Covid-19 grassam no mundo e induzem menor recuperação das economias. Por via direta, todos os analistas passam a avaliar como serão as economias e a precificação dos ativos com o encolhimento da liquidez internacional e encarecimento dos juros. A diplomacia teme os efeitos de uma invasão da Ucrânia pelas forças russas e as consequências internacionais.

A Casa Branca declarou que a Rússia está no ponto de atacar a Ucrânia e sofrerá as consequências. A Alemanha declara que deve fechar gasoduto e as forças da Organização do Tratado do Atlântico Norte podem ser deslocadas para o leste europeu. Portanto, há de se esperar que a Rússia migre para a diplomacia, ou o mundo assistirá a conflitos.

Isso explica em boa parte o comportamento dos ativos nos últimos dias, a busca por alternativas de menor risco, alguma preferência pela liquidez e desova de posições mais arriscadas e empresas alavancadas. Explica também as quedas de ações de tecnologia e unicórnios. Aqui, é um pouco diferente e o mercado acionário fica mascarado pelas ações ligadas ao segmento de commodities e empresas maduras. No sentido inverso, a paralisação de servidores também preocupa o mercado local e atrapalha a economia.

Na China, o Banco Central (PBoC) disse que agirá de forma enérgica para estabilizar a economia em 2022, e o BC do Japão (BoJ) também acalmou e não deve elevar juros num horizonte previsível. Em Davos, Fumio Kishida, primeiro-ministro do Japão, disse estar pronto para liderar um novo tipo de Capitalismo com a transformação verde, digital e nova diplomacia, e que a política monetária acomodatícia é um dos pilares.

Já a União Europeia quer encontrar equilíbrio entre a redução da dívida da região e o crescimento econômico. O mercado de trabalho forte no Reino Unido deve levar o BC inglês (BoE) a elevar novamente os juros na reunião de fevereiro. Nos EUA, o índice de atividade industrial de Nova Iorque de janeiro caiu para -0,7 ponto, quando a previsão era de ficar em 25,5 pontos. Desaceleração também para o indicador NAHB de confiança do construtor em queda para 83 pontos em janeiro, de previsto em 84 pontos.

No mercado internacional, o petróleo WTI, negociado em Nova Iorque, mostrava alta de 2,25%, com o barril cotado a US$ 85,71. A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) divulgou relatório com a produção do cartel em dezembro crescendo 200 mil barris de petróleo dia, para 27,9 milhões de barris. Estima ainda PIB global com expansão em 2022 de 4,2%. O euro era transacionado em queda para US$ 1,132 e notes americanos de 10 anos com taxa de juros de 1,87%. O ouro em queda e a prata em alta na Comex, e commodities agrícolas com viés negativo na Bolsa de Chicago. O minério de ferro teve dia de recuperação em Qingdao, na China, com alta de 1,59% e a tonelada em US$ 127,65.

No mercado doméstico, a Confederação Nacional do Comércio (CNC) divulgou que o Brasil encerrou 2021 com o recorde de 76,3% das famílias endividadas. A mobilização por reajuste salarial de servidores continua e poderemos ter greves em fevereiro. O vice-presidente, Hamilton Mourão, declarou que não existe espaço no Orçamento para reajuste geral. Segundo assessoria do Senado, 1% de aumento gera entre R$ 3 bilhões e R$ 4 bilhões de gastos no ano. Lembrando que os pleitos estão entre 20% e 30% de aumento.

No mercado, ontem foi dia de dólar com muita volatilidade e troca de sinais para encerrar o dia com +0,61% e cotado a R$ 5,56. Na Bovespa, na sessão do último dia 14, os investidores estrangeiros voltaram a alocar recursos no montante de R$ 1,61 bilhão, deixando o saldo líquido de ingresso de janeiro em R$ 11,59 bilhões, o que também explica o melhor momento da Bovespa, mesmo com o exterior não ajudando. No mercado acionário, foi dia de queda da Bolsa de Londres de 0,63%, Paris com -0,94% e Frankfurt com -1,01%. Madri e Milão também registraram quedas de respectivamente 0,68% e 0,74%. No mercado americano, mais um dia de ajustes depois do feriado de ontem e, faltando cerca de meia hora para o encerramento, o Dow Jones tinha -1,47% e Nasdaq com -2,25%. Na Bovespa, dia de muitas trocas de sinal e, faltando também meia hora para fechar, tínhamos +0,15% e índice em 106.530 pontos, depois de ter vazado 107 mil pontos.

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Alvaro Bandeira

Economista-chefe do Banco Digital Modalmais

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