Consciência negra: faltam mulheres negras nos Conselhos empresariais

Apenas 3% de mulheres negras estão em cargos de liderança.

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De acordo com o estudo Diversidade, Representatividade e Percepção – Censo Multissetorial da Gestão Kairós 2022, que contou com a participação de mais de 26 mil respondentes, apenas 3% de mulheres negras estão em cargos de liderança (nível gerente e acima). Este dado evidencia a lacuna de representatividade de negros nos altos níveis hierárquicos das empresas.

Outro dado que demonstra a ausência total de mulheres negras em postos de poder refere-se aos Conselhos das empresas e organizações. Segundo a pesquisa Diversidade nos Conselhos das empresas brasileiras, do IBDEE (Instituto Brasileiro de Direito e Ética Empresarial) lançada em 2021, o atual percentual de mulheres em conselhos é de 17%, mas quando observa-se para a participação de pessoas negras nesses espaços, o número cai drasticamente para 2%, ficando ainda pior quando se trata da presença de mulheres negras, pois, segundo a pesquisa, é quase zero, ou seja, não há.

Marcha das Mulheres Negras Contra o Racismo, a Violência e pelo Bem Viver (Foto: de Marcello Casal Jr./ABr)
Marcha das Mulheres Negras Contra o Racismo, a Violência e pelo Bem Viver (Foto: de Marcello Casal Jr./ABr)

Em resumo, uma cadeira importante para a tomada de decisão dentro das organizações e por antever e propor mudanças estratégicas, que têm o potencial de transformar o futuro dessas estruturas, segue sendo ocupado, majoritariamente, por homens, brancos e cisheteronormativos.

Segundo Liliane Rocha, CEO e Fundadora da Gestão Kairós, que assumiu o Conselho Deliberativo do Instituto Tomie Ohtake, é preciso avançar rapidamente em inclusão nesses cargos de tomada de decisão.

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“Muito se diz que as empresas e organizações estão mais atentas e atuantes na agenda ESG, principalmente na temática de Diversidade, mas, quando focamos nos dados, constatamos que pouco ou nada mudou. Então, é preciso atuar de forma mais coesa e consistente para ver a transformação real que a sociedade precisa. Não adianta falar de Consciência Negra só em novembro e não trabalhar de forma séria com diversidade e inclusão nos outros 364 dias do ano”, explica.

Segundo a especialista, é comum que, quando se trata de inclusão, as empresas olhem só para as vagas de entrada, o que contribuiu com a manutenção da sub-representatividade em posições de tomada de decisão.

“É preciso ter a demografia do país representada também nos quadros de liderança, tais como, gerência, diretoria, presidência e nos Conselhos. Apenas boa vontade não basta! Precisamos agir para assegurar a mudança, e como especialista na área e com forte atuação em diversos conselhos, acredito que só vamos conseguir aumentar a representatividade nos postos de poder se tivermos Gestão da Diversidade”, diz.

Gestão da Diversidade

A Gestão da Diversidade é uma metodologia que Liliane Rocha desdobrou da Administração para a Diversidade e que tem aplicado com muito sucesso nas grandes empresas em que atua.

“Para avançar e ver resultados efetivos em inclusão e diversidade, lidar com esses temas como qualquer outro dentro de uma organização é imprescindível. Para tanto, é necessário ter e fazer a gestão de Processos, Pessoas e Orçamento. Se não for assim, dificilmente teremos evolução e continuaremos assistindo a episódios absurdos de preconceito e exclusão da população negra, principalmente das mulheres negras”.

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Mulheres negras indígenas (foto de Paulo Pinto, Agência PT)

Buscando reduzir essa desigualdade, bem como os índices de sub-representatividade de mulheres negras nas empresas e organizações de diversos setores da sociedade, Liliane Rocha explica:

– Com essa posição no Conselho do Instituto Tomie Ohtake, contribuo primeiro e antes de mais nada para a quebra de um paradigma: mulheres negras podem e devem ser conselheiras em todos os lugares, inclusive nas organizações e instituições de cultura. Tenho também o objetivo de construir pontes entre o empresariado e as organizações culturais. E entre as organizações culturais e públicos com marcadores de diversidade que ainda hoje seguem pouco evidentes neste cenário. Minha missão é oxigenar o Conselho com novas perspectivas, dado que a composição dos conselhos de instituições culturais no Brasil é formada, via de regra, por pessoas com marcadores identitários muito similares e pouco diversos. Espero contribuir com esses avanços e que eles possam reverberar em outras organizações culturais de todo o Brasil.

Como Conselheira Deliberativa, Liliane apoiará na construção de uma visão estratégica de longo prazo do Instituto e que, certamente vai impactar e dialogar com os desdobramentos do setor cultural no Brasil. Por conta de sua expertise e trajetória, ela espera ampliar a inclusão e a diversidade também nesse setor.

“Assumir hoje esse posto no Tomie Ohtake, sabendo que ele já teve Conselheiras negras do porte de Sueli Carneiro e de Jandaraci Araújo, podendo compor esse grupo seleto de mulheres negras, empresárias, executivas, pensadoras, intelectuais negras, que aportam suas visões a decisões estratégicas, numa organização que certamente gera impactos positivos, diálogos, antecipam tendências, criam disrupturas na cultura em todo o Brasil, é indescritível”, celebra.

Principalmente, no mês da Consciência Negra é preciso reforçar a urgência de acelerar iniciativas e projetos de Diversidade, incluindo o avanço em pautas contra o preconceito e no avanço pela igualdade racial em todos os setores da sociedade.

“Dia 20 de novembro é só mais uma oportunidade para que as empresas e organizações em geral avaliem a forma como estão atuando e tratando a valorização da diversidade. Se as mulheres negras são 29% da população brasileira (24% pretas e 5% pardas), segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (2021) do IBGE, essa deveria ser também a representatividade delas em postos de comando. E, infelizmente, estamos muito longe de alcançar isso. Reforço que, para além do Dia da Consciência Negra, é preciso que todos os dias do ano trabalhemos pela igualdade racial. Celebrar é preciso, mas garantir a inclusão é urgente!”, finaliza Liliane Rocha.

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