No bolso do consumidor pesa muito , mas do ponto de vista do varejo farmacêutico o aumento de 4,5% nos medicamentos é uma forma de proteger as margens. É o que assinala o relatório da Fitch Ratings, divulgado nesta sexta-feira. “O reajuste de 4,5% nos preços dos medicamentos, autorizado pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED) e implementado em abril, deve proteger as margens das varejistas farmacêuticas classificadas pela agência e ter efeito neutro nas projeções da Fitch para as empresas do setor”, destaca.
O relatório explica que este percentual é condizente com as expectativas incorporadas aos cenários-base dos ratings e, por estar em linha com a inflação do período, não deve exercer maiores pressões no curso normal dos negócios, considerando apenas esta variável. “Reajustes bem abaixo da inflação podem impactar negativamente a rentabilidade das empresas e limitar a geração de caixa, uma vez que o setor é intensivo em despesas fixas que acompanham a inflação, como custos de ocupação e folhas de pagamento”.
De acordo com a Fitch, o varejo farmacêutico possui características defensivas e margens cuja proteção depende dos reajustes anuais, ainda que o repasse não seja automático e esteja atrelado a fatores estratégicos relacionados a participação de mercado, desconto aplicado e mix de vendas. Em 2024, as varejistas farmacêuticas devem aproveitar o aumento dos preços para compensar parcialmente as maiores alíquotas do Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) em alguns estados, que estão entrando em vigor desde o início do ano e afetando ligeiramente a rentabilidade dos negócios.
Varejistas
Dentre as varejistas do setor, a Fitch classifica a Raia Drogasil S.A. (RD) com o Rating Nacional de Longo Prazo ‘AAA(bra)’, a Empreendimentos Pague Menos S.A. (Pague Menos) com o rating ‘AA-(bra)’ e a Farmácia e Drogaria Nissei S.A. (Nissei) com o rating ‘A-(bra)’, todas com Perspectiva Estável. A RD, que possui maior capilaridade na indústria, deverá ser a principal beneficiada pelo aumento dos preços, devido ao maior percentual da receita vinculado à venda de medicamentos (73% do total) – de marca, sem prescrição ou genéricos.
A agência de classificação de risco de crédito diz que a Pague Menos possui percentuais de vendas semelhantes aos da RD de forma isolada, mas sua controlada Extrafarma possui um mix ligeiramente menos favorável, com 70% das vendas provenientes de medicamentos. Além disso, medicamentos de marca, que possuem menor incidência de descontos, representam 35% das vendas da Extrafarma, frente aos 41% da RD e aos 40% da Pague Menos.
A Nissei, por sua vez, não captura os benefícios dos aumentos de preços como seus pares, já que apenas 58% das vendas provêm de medicamentos. Ainda assim, suas margens são fortalecidas pela venda de produtos de conveniência, que representam em torno de 9% da receita. Para 2024, a Fitch projeta margens de Ebitdar de 11,4% para a RD, de 10,1% para a Nissei e de 9,1% para a Pague Menos, frente às de 11,0%, 11,4% e 8,7%, respectivamente, apuradas em 2023.