Alguém já afirmou que o presidente FHC governa só para 5 % dos brasileiros. Faltou acrescentar: e para os estrangeiros. Nunca o povo tupiniquim sofreu tanto. O desemprego é uma realidade atroz. Todas as famílias já possuem pelo menos um integrante desempregado. E quem trabalha está inseguro. Não sabe até quando vai conservar o trabalho. A angústia é crescente. Os “donos do mundo” exigiram e o atual governo cumpre fielmente aquilo que foi determinado. A cada momento são imaginadas novas maldades para subtrair direitos dos trabalhadores. Os postos de trabalho são extintos sumariamente. Profissionais de nível superior são obrigados pela necessidade a partir para o subemprego, a nível qualitativo e quantitativo. Em recente processo de seleção para o concurso de soldado da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, para uma remuneração média de R$ 400,00, foi impressionante o número de candidatos possuidores de nível universitário.
É a busca por um mínimo de segurança. Os postos de executivos estão sendo ocupados por centenas de estrangeiros. No município do Rio de Janeiro já há dificuldade em alugar imóveis em áreas nobres, de dimensões acima da média, pois os melhores estão todos em mãos de empresas alienígenas. Não bastasse isto, há empresas onde apenas se fala língua estrangeira na administração. Na Light, francês. Na Cerj, espanhol. Na Embratel (MCI), inglês. Até os dirigentes de estatais são do exterior, naturalizados brasileiros. Na Petrobras, um francês. No Banco do Brasil, BNDES e outros menos votados, italianos. Infelizmente, nós, brasileiros natos, não temos as mesmas oportunidades no exterior. Eles sabem proteger seus respectivos mercados de trabalho. A CIA opera nos principais estados brasileiros. A DEA idem. O FBI, que nada mais é do que o similar da nossa polícia federal nos EUA, já tem escritório em Brasília. O general americano Barry McCaffrey estará em Brasília, entre 24 e 26 do corrente, para um encontro com o general-de-divisão Alberto Cardoso, chefe da Casa Militar da Presidência da República e diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). E isto tudo, diretamente.
Indiretamente, o controle é total, realizado pelos representantes tupiniquins dos “donos do mundo”. A Lei de Responsabilidade Fiscal, enviada para aprovação do Congresso, é exigência do FMI. Enquadra todos os escalões da República, em seus três níveis, federal, estadual e municipal, nas regras impostas pelo Fundo. Quem não realizar aquilo que for determinado pelo sistema financeiro internacional será punido, poderá ir para a cadeia ou perder o emprego. É a submissão total. A diretriz é reduzir as despesas com pessoal, com o social, com investimentos, com tudo enfim, para pagar os juros escorchantes, internos e externos. Apenas no corrente ano o país pagará US$ 18 bilhões de juros da dívida externa e US$ 7 bilhões de lucros e dividendos, perfazendo um total de US$ 25 bilhões, montante superior ao ingresso total de capital externo, a título de “investimentos diretos”. É o preço da desnacionalização da economia antes brasileira.
O governo FHC volta a insistir em eliminar direitos trabalhistas adquiridos. Além da “flexibilização da legislação”, prospera a “terceirização”, nomes pomposos para fazer o trabalhador retornar à condição de escravo, na prática. É uma indignidade própria dos canalhas. Tudo com o objetivo principal de aumentar o lucro das empresas e a receita do setor público, diminuindo o estipêndio dos trabalhadores, pensionistas e aposentados. Os preços são brutalmente elevados. Medicamentos, combustíveis, tarifas públicas, pedágios. Tudo aumenta. O ministro da fazenda indexa os preços dos combustíveis. E os índices oficiais de inflação não refletem a realidade diária. E a mídia amestrada, regiamente paga, silencia. São indignos de ostentar a qualificação de jornalistas, bem como de ter como seu presidente um patriota do quilate de um Barbosa Lima Sobrinho. O restante da população (95%) sofre.
Contudo, os 5% que controlam os meios de comunicação de massa, o sistema financeiro, o Poder Executivo e o Poder Legislativo, influenciando decisivamente o Poder Judiciário, vivem nababescamente. Ganham fortunas, ou lícita ou ilicitamente, pois a legislação é feita por eles mesmos, em dias. Gastam em consumo suntuário, ostentando riquezas dignas de potentados do primeiro mundo. Autoridades do governo que, oficialmente ganham menos de R$ 15 mil mensais, despendem muito mais do que isto em uma semana, em viagens paradisíacas, seja para o exterior, seja para pontos turísticos no país. Em contrapartida, para sobreviver temos de usar toda a imaginação , parcimônia e abstenção de consumo. Por isto, dezenas de empresas são fechadas diariamente. É a recessão. Em decorrência, o povo brasileiro conta os dias, as horas, os segundos que faltam para ficar livre de FHC e de seus colaboradores.
Marcos Coimbra
Professor titular de Economia junto à Universidade Candido Mendes e conselheiro da Escola Superior de Guerra (ESG). Correio eletrônico: [email protected]